São Paulo, domingo, 28 de setembro de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / PRIMEIRO ROUND

Pesquisas sugerem que Obama venceu debate

Principal levantamento, da CNN, dá 51% para democrata e 38% para John McCain no embate de sexta na Universidade do Mississippi; para analistas, discussão foi "morna"

Crise domina primeiro de três encontros, em que as palavras "economia" e "imposto" foram as mais ditas, e favorece opositor

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A OXFORD (MISSISSIPPI)

Apesar de analistas de diferentes tendências concordarem que não houve um vencedor claro na noite de sexta-feira, as primeiras pesquisas sugerem que Barack Obama saiu-se ligeiramente melhor do que John McCain no primeiro debate entre os dois candidatos à sucessão de George W. Bush. No principal levantamento, da CNN, 51% dos ouvidos citaram o democrata, ante 38% dos que escolheram o republicano.
A pesquisa da emissora, em parceria com o Opinion Research Corp, ouviu 524 norte-americanos por telefone imediatamente após o encontro de 90 minutos, com margem de erro de 4,5 pontos percentuais para cima ou para baixo. Levantamento similar da emissora CBS aponta a mesma tendência, de vantagem para o senador de 47 anos: 39% dos ouvidos disseram que Obama saiu-se melhor, 25%, McCain; para 36% houve empate.
Tabulação de palavras mais ditas pelos dois candidatos também confirma que a crise financeira por que passa o país nesse momento dominou a retórica dos dois no encontro, realizado na noite de sexta no campus de Oxford da Universidade do Mississippi. A palavra mais dita por Barack Obama foi "imposto", 27 vezes; a terceira foi "economia", 16 vezes.
"Minha opinião é a de que nós temos de fazer a economia crescer de baixo para cima", disse o democrata, explicando seu programa de governo. "O que eu defendo é um corte nos impostos de 95% para as famílias de trabalhadores, 95%."
Excetuados "Estados" e "Unidos", o que mais saiu da boca de McCain foi "governo", 27 vezes, na maioria delas com conotação negativa. "A primeira coisa que farei é controlar o gasto em Washington", disse o republicano. "Está completamente fora de controle, e nós vivemos hoje o maior aumento do tamanho do governo desde a Grande Sociedade", concluiu, referindo-se ao conjunto de políticas públicas proposto pelo presidente democrata Lyndon Johnson (1963-1969).
Se na primeira parte, em que o tema dominou a discussão, Obama pareceu mais seguro e assertivo, e McCain, menos à vontade com um assunto que ele já declarou não ser seu forte, a opinião é que os papéis se inverteram no segundo bloco, em que a política externa foi o assunto dominante, com predomínio das guerras do Iraque (20 vezes dita por McCain, 16 por Obama) e do Afeganistão (20 vezes pelos dois).
Nesse sentido, pode-se dizer que o democrata foi o vencedor da primeira parte do debate, e o republicano, da segunda. Assim, a vantagem de Obama nas pesquisas que avaliaram o encontro seria fruto direto da ordem de assuntos que mais preocupam os eleitores nessa corrida, segundo levantamentos recentes, em que a economia lidera a lista e ultrapassou a Guerra do Iraque.

"Beco da manipulação"
"Obama passou credibilidade como comandante-em-chefe nessa noite e McCain esteve repetidamente na ofensiva", disse o historiador presidencial Michael Beschloss. "Em termos de estratégia, vamos ver se funciona. Muitas vezes, nos debates, se o candidato é ofensivo, tende a se sair melhor. Foi assim com John Kennedy em 1960, Ronald Reagan em 1980 e Bill Clinton em 1992."
Já um estrategista que trabalhou na campanha de Al Gore disse que o mais importante sobre um debate são os dias que se seguem a ele. Segundo o veterano de Washington, que prefere não ser identificado, é o "spin", a manipulação que as campanhas fazem nas horas seguintes, que muitas vezes sela na opinião popular o vencedor.
Pois ambas as campanhas saíram a campo já durante o debate, com meninos de McCain entregando papéis aos jornalistas em que pontos levantados por Obama eram refutados, e o time do democrata inundando a caixa de entrada da imprensa de e-mails com o mesmo. Findo o debate, os dois times foram ao chamado "spin alley", "beco da manipulação", em tradução livre, vender vitória.
"Foi uma vitória inconteste de McCain", disse Steve Schmidt, coordenador da campanha republicana. Não é bem assim, disse Bill Richardson, o governador democrata do Novo México. "Obama ganhou unanimemente por pontos", afirmou. "Ele é a nova política externa, e McCain, a velha."


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