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SUCESSÃO NOS EUA / PRIMEIRO ROUND
Pesquisas sugerem que Obama venceu debate
Principal levantamento, da CNN, dá 51% para democrata e 38% para John McCain no embate de sexta na Universidade do Mississippi; para analistas, discussão foi "morna"
Crise domina primeiro de três encontros, em que as palavras "economia" e "imposto" foram as mais ditas, e favorece opositor
SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A
OXFORD (MISSISSIPPI)
Apesar de analistas de diferentes tendências concordarem que não houve um vencedor claro na noite de sexta-feira, as primeiras pesquisas sugerem que Barack Obama saiu-se
ligeiramente melhor do que
John McCain no primeiro debate entre os dois candidatos à
sucessão de George W. Bush.
No principal levantamento, da
CNN, 51% dos ouvidos citaram
o democrata, ante 38% dos que
escolheram o republicano.
A pesquisa da emissora, em
parceria com o Opinion Research Corp, ouviu 524 norte-americanos por telefone imediatamente após o encontro de
90 minutos, com margem de
erro de 4,5 pontos percentuais
para cima ou para baixo. Levantamento similar da emissora CBS aponta a mesma tendência, de vantagem para o senador de 47 anos: 39% dos ouvidos disseram que Obama
saiu-se melhor, 25%, McCain;
para 36% houve empate.
Tabulação de palavras mais
ditas pelos dois candidatos
também confirma que a crise
financeira por que passa o país
nesse momento dominou a retórica dos dois no encontro,
realizado na noite de sexta no
campus de Oxford da Universidade do Mississippi. A palavra
mais dita por Barack Obama foi
"imposto", 27 vezes; a terceira
foi "economia", 16 vezes.
"Minha opinião é a de que
nós temos de fazer a economia
crescer de baixo para cima",
disse o democrata, explicando
seu programa de governo. "O
que eu defendo é um corte nos
impostos de 95% para as famílias de trabalhadores, 95%."
Excetuados "Estados" e
"Unidos", o que mais saiu da
boca de McCain foi "governo",
27 vezes, na maioria delas com
conotação negativa. "A primeira coisa que farei é controlar o
gasto em Washington", disse o
republicano. "Está completamente fora de controle, e nós
vivemos hoje o maior aumento
do tamanho do governo desde a
Grande Sociedade", concluiu,
referindo-se ao conjunto de políticas públicas proposto pelo
presidente democrata Lyndon
Johnson (1963-1969).
Se na primeira parte, em que
o tema dominou a discussão,
Obama pareceu mais seguro e
assertivo, e McCain, menos à
vontade com um assunto que
ele já declarou não ser seu forte, a opinião é que os papéis se
inverteram no segundo bloco,
em que a política externa foi o
assunto dominante, com predomínio das guerras do Iraque
(20 vezes dita por McCain, 16
por Obama) e do Afeganistão
(20 vezes pelos dois).
Nesse sentido, pode-se dizer
que o democrata foi o vencedor
da primeira parte do debate, e o
republicano, da segunda. Assim, a vantagem de Obama nas
pesquisas que avaliaram o encontro seria fruto direto da ordem de assuntos que mais
preocupam os eleitores nessa
corrida, segundo levantamentos recentes, em que a economia lidera a lista e ultrapassou a
Guerra do Iraque.
"Beco da manipulação"
"Obama passou credibilidade como comandante-em-chefe nessa noite e McCain esteve
repetidamente na ofensiva",
disse o historiador presidencial
Michael Beschloss. "Em termos de estratégia, vamos ver se
funciona. Muitas vezes, nos debates, se o candidato é ofensivo,
tende a se sair melhor. Foi assim com John Kennedy em
1960, Ronald Reagan em 1980 e
Bill Clinton em 1992."
Já um estrategista que trabalhou na campanha de Al Gore
disse que o mais importante sobre um debate são os dias que
se seguem a ele. Segundo o veterano de Washington, que
prefere não ser identificado, é o
"spin", a manipulação que as
campanhas fazem nas horas seguintes, que muitas vezes sela
na opinião popular o vencedor.
Pois ambas as campanhas
saíram a campo já durante o debate, com meninos de McCain
entregando papéis aos jornalistas em que pontos levantados
por Obama eram refutados, e o
time do democrata inundando
a caixa de entrada da imprensa
de e-mails com o mesmo. Findo
o debate, os dois times foram ao
chamado "spin alley", "beco da
manipulação", em tradução livre, vender vitória.
"Foi uma vitória inconteste
de McCain", disse Steve
Schmidt, coordenador da campanha republicana. Não é bem
assim, disse Bill Richardson, o
governador democrata do Novo México. "Obama ganhou
unanimemente por pontos",
afirmou. "Ele é a nova política
externa, e McCain, a velha."
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