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comentário
Uma vitória magra para John McCain
JOÃO PEREIRA COUTINHO
COLUNISTA DA FOLHA
Venceu McCain. Não foi
vitória clara. Foi tangencial. Mas foi vitória na
mesma para quem entrou
a perder. Vejam as sondagens: nos últimos dias, e
depois do milagre Sarah
Palin, Obama virou o jogo.
Pior: a atitude melodramática de McCain, que
suspendeu a campanha e
ameaçou não comparecer
no debate, foi vista como
gesto oportunista de quem
busca sacudir o momento.
Começaram ambos mal.
Crise financeira nos Estados Unidos? Sim; mas nenhum deles tem a menor
idéia como enfrentar a crise. Apenas repetem a cartilha conhecida: cortar os
gastos e baixar impostos
(McCain); eliminar programas federais que não
funcionam e espremer os
mais ricos (Obama); e
apoiar o pacote de US$
700 bilhões para salvar
empresas moribundas,
um plano cujas conseqüências para o futuro da
economia são um enigma.
Questionados diretamente sobre os projetos
que terão de abandonar
devido à crise, ambos foram incapazes de uma resposta direta. Repetiram:
cortar nos gastos e baixar
impostos (McCain); eliminar programas federais
que não funcionam e espremer os mais ricos
(Obama). É pouco.
A política externa salvou McCain, que mostrou
realismo e experiência.
Ele esteve nos lugares certos, nas horas certas. Obama ficou em casa. O próprio Obama comportou-se
como aluno, repetindo incansavelmente "John está
certo". Mas McCain mostrou como Obama esteve
errado e passou ao ataque.
Na crise da Geórgia,
Obama esteve errado ao
pedir contenção a ambas
as partes, como se ambas
as partes fossem igualmente culpadas do conflito. McCain teve a lucidez,
desde o início, de condenar a Rússia sem hesitações. Ponto para McCain.
Obama esteve errado ao
não reconhecer os sucessos frágeis no Iraque, insistindo em calendário de
retirada. McCain sempre
defendeu a estratégia vitoriosa do general Petraeus,
sabendo que um calendário é perigoso e irrealista
porque incita os terroristas a uma luta terminal.
Obama esteve errado ao
negar que defendeu conversações com o Irã sem
precondições, citando
Kissinger como seu aliado.
Kissinger, depois do debate, enviou nota pessoal e
desmentiu Obama.
Restam dois debates. E
um encontro de vices. Vitórias claras ficam adiadas
para outubro. E, no momento, é McCain quem
precisa de uma vitória clara: as sondagens não lhe
são favoráveis, e política
externa, tema do primeiro
debate, era sua especialidade. E agora? Arrisco a
sentença final: o primeiro
debate pertenceu a
McCain; mas o futuro talvez pertença a Obama.
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