São Paulo, domingo, 28 de setembro de 2008

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comentário

Uma vitória magra para John McCain

JOÃO PEREIRA COUTINHO
COLUNISTA DA FOLHA

Venceu McCain. Não foi vitória clara. Foi tangencial. Mas foi vitória na mesma para quem entrou a perder. Vejam as sondagens: nos últimos dias, e depois do milagre Sarah Palin, Obama virou o jogo. Pior: a atitude melodramática de McCain, que suspendeu a campanha e ameaçou não comparecer no debate, foi vista como gesto oportunista de quem busca sacudir o momento.
Começaram ambos mal. Crise financeira nos Estados Unidos? Sim; mas nenhum deles tem a menor idéia como enfrentar a crise. Apenas repetem a cartilha conhecida: cortar os gastos e baixar impostos (McCain); eliminar programas federais que não funcionam e espremer os mais ricos (Obama); e apoiar o pacote de US$ 700 bilhões para salvar empresas moribundas, um plano cujas conseqüências para o futuro da economia são um enigma.
Questionados diretamente sobre os projetos que terão de abandonar devido à crise, ambos foram incapazes de uma resposta direta. Repetiram: cortar nos gastos e baixar impostos (McCain); eliminar programas federais que não funcionam e espremer os mais ricos (Obama). É pouco.
A política externa salvou McCain, que mostrou realismo e experiência. Ele esteve nos lugares certos, nas horas certas. Obama ficou em casa. O próprio Obama comportou-se como aluno, repetindo incansavelmente "John está certo". Mas McCain mostrou como Obama esteve errado e passou ao ataque.
Na crise da Geórgia, Obama esteve errado ao pedir contenção a ambas as partes, como se ambas as partes fossem igualmente culpadas do conflito. McCain teve a lucidez, desde o início, de condenar a Rússia sem hesitações. Ponto para McCain.
Obama esteve errado ao não reconhecer os sucessos frágeis no Iraque, insistindo em calendário de retirada. McCain sempre defendeu a estratégia vitoriosa do general Petraeus, sabendo que um calendário é perigoso e irrealista porque incita os terroristas a uma luta terminal.
Obama esteve errado ao negar que defendeu conversações com o Irã sem precondições, citando Kissinger como seu aliado. Kissinger, depois do debate, enviou nota pessoal e desmentiu Obama.
Restam dois debates. E um encontro de vices. Vitórias claras ficam adiadas para outubro. E, no momento, é McCain quem precisa de uma vitória clara: as sondagens não lhe são favoráveis, e política externa, tema do primeiro debate, era sua especialidade. E agora? Arrisco a sentença final: o primeiro debate pertenceu a McCain; mas o futuro talvez pertença a Obama.


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