São Paulo, segunda-feira, 28 de setembro de 2009

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Merkel vence e muda aliança na Alemanha

Com os 33,4% dos votos obtidos ontem, chanceler deve formar primeiro governo de centro-direita do país desde 1998 Resultados selam fim de grande coalizão formada pela CDU e Partido Social-Democrata, que governou nos últimos quatro anos

CAROLINA VILA-NOVA
ENVIADA ESPECIAL A BERLIM

A chanceler (premiê) Angela Merkel venceu as eleições parlamentares de ontem na Alemanha, obtendo votos suficientes para formar o primeiro governo de centro-direita no país nos últimos 11 anos. Projeções de TV estatais dão à conservadora União Democrata-Cristã (CDU), de Merkel, 33,4% dos votos, ao lado de seu partido-irmão na Baviera, a União Social Cristã (CSU).
Seu parceiro preferencial para o novo governo, o Partido Democrata Liberal (FDP), obteve históricos 15%. "Alcançamos o objetivo de uma maioria estável para um novo governo", disse ontem Merkel, que se reúne hoje com o líder do FDP, Guido Westerwelle, para discutir a formação do governo. Seguindo a tradição, ele deve se tornar ministro das Relações Exteriores.
Os números selam o fim do governo de grande coalizão formado pela CDU e o Partido Social-Democrata (SPD) durante os últimos quatro anos. Incapaz de fazer campanha de oposição sendo parte do governo e perdendo votos para outros setores da esquerda, o SPD sofreu sua pior derrota em 60 anos: obteve 22,7%, 11,6 pontos a menos que em 2005.
"Este é um dia amargo para a social-democracia alemã. Lutamos e perdemos", disse o candidato a primeiro-ministro, Frank-Walter Steinmeier. "Na oposição, temos de assegurar que não haverá uma volta aos anos 90 [auge das reformas neoliberais sob o conservador-liberal Helmut Köhl]."

Pequenos crescem
Analistas acreditam que uma parcela importante dos eleitores calculou o voto em favor do FDP como meio de evitar a repetição da grande coalizão e favorecer uma aliança entre conservadores e liberais. Também contribuiu o fato de que, na mentalidade do eleitorado, o FDP não está vinculado à atual crise financeira.
Os números mostram que não só o FDP, mas os demais partidos menores -Verdes e A Esquerda- também cresceram nessa eleição, em detrimento das legendas tradicionais. A Esquerda, criado em 2007, chegou a ultrapassar os Verdes.
Isso, aliado à pequena margem de vantagem da aliança CDU-FDP, faz com que sejam improváveis mudanças radicais em termos de política econômica e social no país. A CDU fez campanha prometendo vagamente um corte de impostos, mas terá o desafio de equilibrar o orçamento e diminuir o deficit estimado em 6% do PIB em 2010, depois que 81 bilhões foram gastos em pacotes de estímulo econômico.
Dietmar Herz, professor da Universidade Erfurt, prevê mais fragmentação e polarização políticas, que podem impedir o avanço de medidas e, no médio prazo, pôr em risco a nova coalizão. "Haverá uma oposição mais forte que antes. O SPD terá de se reorganizar e deve se deslocar à esquerda. Governar a Alemanha será mais difícil", avalia.

A jornalista CAROLINA VILA-NOVA viajou a convite do Ministério das Relações Exteriores alemão



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