São Paulo, segunda-feira, 28 de outubro de 2002

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TRAGÉDIA NA RÚSSIA

Segundo chefe de saúde, 116 das 117 vítimas morreram intoxicadas e não em razão de tiros ou explosões

Gás matou quase todos os reféns em Moscou

Dima Korotayev/Reuters
Menina deposita flores e acende vela para mortos durante desocupação de teatro moscovita invadido por terroristas tchetchenos


DA REDAÇÃO

Pelo menos 116 reféns morreram por causa de um gás não-identificado utilizado por forças especiais russas durante operação de resgate no teatro em Moscou onde rebeldes tchetchenos mantiveram centenas de pessoas cativas de quarta-feira até sábado de manhã. Apenas um refém morreu em consequência de ferimentos causados por tiros disparados no momento da invasão.
"Dos 117 mortos [reféns], um morreu por causa dos tiros", disse Andrei Seltsovsky, chefe do Comitê de Saúde de Moscou. Segundo Seltsovsky, 646 dos mais de 700 reféns libertados ainda estavam no hospital, dos quais 150 sob cuidados intensivos e 45 "em estado grave".
Os novos dados divulgados ontem elevam o número de mortos na ação para 167. Além dos reféns, cerca de 50 sequestradores foram mortos, incluindo 18 mulheres. Entre os mortos, estava o líder dos terroristas, Movsar Barayev.
Os terroristas ameaçavam matar todos os reféns e explodir o teatro se sua exigência pelo fim da guerra na Tchetchênia (região separatista russa) não fosse atendida. Eles haviam ameaçado começar a matar os reféns ao amanhecer do sábado (sexta à noite no Brasil) se não fossem atendidos.
Segundo Serguei Ignatchenko, porta-voz do FSB, a operação para tomar o teatro foi iniciada depois que os terroristas começaram a matar reféns. Não havia informação sobre eventuais mortes entre as forças russas que entraram no teatro.
As forças especiais que lançaram gás tóxico no teatro em Moscou não deram informações aos serviços médicos sobre o tipo de gás utilizado (ainda havia controvérsias ontem), de acordo com Yevgeny Luzhnikov, chefe do serviço de saúde do Departamento de Envenenamento Grave. Isso levou a uma grande confusão para tentar salvar a vida dos mais de 700 reféns que foram levados a hospitais, a maioria inconsciente.
Michael Yardley, especialista em segurança baseado em Londres, disse acreditar que o gás usado era o BZ, que provoca alucinações e letargia. Esse gás foi utilizado pelos EUA no Vietnã.
Ele disse que os sintomas apresentados pelos reféns em Moscou -dificuldade em caminhar, perda de memória, desmaios, problemas cardíacos, enjôo- indicavam que o gás utilizado seria o BZ. De acordo o Exército norte-americano, o efeito do gás dura 60 horas.
O anestesista Yevgeny Yevdokimov disse que o efeito do gás pode ter sido exacerbado pelo estado dos reféns, que tinham passado ao menos 58 horas no teatro com pouca água e comida, submetidos a uma forte tensão.
O gás utilizado era tão poderoso que os terroristas tchetchenos não teriam conseguido acionar os explosivos que carregavam.
O canal de TV NTV disse que dois estrangeiros -uma jornalista holandesa e uma criança cazaque- tinham morrido por causa do gás. Mais tarde, divulgou-se que uma bielo-russa e uma austríaca também haviam morrido.

Hospitais
A lista de mortos não havia sido divulgada, enquanto a polícia russa impedia que os médicos dessem alta aos pacientes, devido ao temor de que houvesse algum terrorista entre eles.
Os familiares dos reféns que sobreviveram ainda estavam em busca de informação sobre o estado de saúde deles nos hospitais de Moscou -uma tarefa difícil devido à confusão na capital russa.
A polícia russa deteve várias pessoas de origem caucasiana ontem em Moscou. Entre outros detidos, encontram-se cinco tchetchenos e outras duas pessoas da Inguchétia e da Geórgia.
O presidente russo, Vladimir Putin, decretou que hoje é um dia de luto pelas vítimas em Moscou. Putin prometeu ajuda econômica aos familiares dos mortos.


Com agências internacionais

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