São Paulo, segunda-feira, 28 de outubro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

IMPASSE

País vai tentar acordo com membros da ONU

França se opõe aos EUA e acena com resolução própria sobre Iraque

DA REDAÇÃO

Numa grande guinada diplomática em relação aos Estados Unidos, a França anunciou ontem que poderá encaminhar formalmente a sua própria resolução sobre o desarmamento do Iraque ao Conselho de Segurança das Nações Unidas. O anúncio ocorreu um dia após a declaração de que esta semana seria "decisiva" para definir o caso iraquiano, feita no sábado pelo secretário de Estado dos EUA, Colin Powell.
Em entrevista a uma rádio, o ministro das Relações Exteriores da França, Dominique de Villepin, enfatizou que o país usaria o esboço de resolução formalmente apresentado na quarta-feira ao Conselho de Segurança pelos EUA como base para um acordo entre os membros do conselho.
Porém, caso não se chegue a um consenso em torno do documento norte-americano -criticado tanto pela França quanto pela Rússia-, os franceses apresentariam uma resolução alternativa.
"Vamos trabalhar com os norte-americanos a partir do texto apresentado por eles; se não chegarmos a um acordo, obviamente encaminharemos nosso próprio documento", disse Villepin.
O ministro francês acrescentou estar convencido de que, "se cada um se concentrar no principal objetivo -desarmamento e retorno dos inspetores-, há uma grande chance de conseguirmos uma votação unânime no Conselho de Segurança da ONU".
"Fomos bastante claros sobre a necessidade de adotarmos uma resolução dura. Não recuaremos de modo algum", rebateu um alto funcionário dos EUA ligado a Colin Powell, secretário de Estado. Os EUA pressionaram por uma rápida aprovação do documento. Diplomatas norte-americanos acrescentaram que a Casa Branca não está disposta a considerar grandes mudanças no esboço da resolução e que Washington não pretende discutir nenhum outro documento.
França e Rússia responderam apresentando textos "informais", que não são considerados documentos oficiais pela ONU. Os dois países declararam que a resolução dos EUA é muito ambígua e que, por isso, poderia dar aos norte-americanos um grande espaço para avançar em direção à guerra.
Entretanto, no início da semana passada, funcionários franceses haviam assegurado aos EUA que eles não tinham a intenção de encaminhar formalmente um texto próprio. Segundo fontes diplomáticas, o chefe dos inspetores de armas para o Iraque, Hans Blix, poderia ser a chave para resolver as diferenças entre os membros do Conselho de Segurança. Blix se apresenta hoje ao conselho.
No momento, os cinco membros permanentes do conselho (EUA, China, França, Reino Unido e Rússia) estão divididos em relação à proposta de reforçar os poderes dos inspetores de armas e ameaçar o Iraque com uma intervenção militar, caso o ditador Saddam Hussein não coopere.
Embora poucos diplomatas acreditem que França, Rússia e China consigam vetar a proposta anglo-americana, o texto necessita de nove votos a favor para ser aprovado. Até agora os dez membros não-permanentes tiveram poucas oportunidades de participar das negociações. Esses países-membros poderiam ser persuadidos por Blix.
O inspetor de armas da ONU reuniu-se neste ano com várias autoridades iraquianas. O último encontro ocorreu em Viena há quatro semanas, quando Blix esteve com o conselheiro do presidente Saddam Hussein, Amir el Sadi, e costurou um acordo para começar a trabalhar no Iraque.


Com agências internacionais

Texto Anterior: Aumentam críticas a Putin por ação russa
Próximo Texto: Panorâmica - Argentina: Pesquisa coloca Menem em segundo lugar
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.