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TRAGÉDIA NA RÚSSIA
Grupos de direitos humanos, especialistas e parentes de reféns pedem detalhes sobre tipo de gás usado
Aumentam críticas a Putin por ação russa
DA REDAÇÃO
Um dia depois do que inicialmente parecia uma operação
bem-sucedida de liberação de
centenas de pessoas presas por
terroristas tchetchenos em um
teatro de Moscou, aumentavam
as críticas ao governo russo por
causa do número de vítimas e da
forma como elas morreram.
O chefe do Comitê de Saúde de
Moscou, Andrei Seltsovsky, disse
que o gás usado para tentar controlar os sequestradores matou ao
menos 116 reféns. Apenas uma
pessoa morreu a tiros.
Médicos russos ainda não sabiam o nome do gás utilizado na
ação, e não havia sido divulgada
uma lista oficial de mortos. Os
poucos reféns aos quais jornalistas tiveram acesso disseram que
não se lembravam de nada. Haviam perdido a consciência e
acordado em um hospital.
Judith Arena, porta-voz da organização de defesa dos direitos
humanos Anistia Internacional
pediu uma investigação independente para revelar detalhes do gás
utilizado durante a operação que
pôs fim ao sequestro no teatro.
Após relatos iniciais de que entre dez e vinte reféns haviam morrido, cresciam as críticas conforme o número de vítimas aumentava.
Logo após o fim do sequestro,
parentes de ex-reféns passaram a
lotar portões dos hospitais de
Moscou, desesperados para obter
informações sobre o estado deles.
Eles criticavam o governo por não
revelar o nome do gás usado e
seus efeitos, além de dificultar o
acesso aos reféns libertados. Ainda havia controvérsias sobre o tipo de gás usado.
O FSB (Serviço Federal de Segurança) se recusou a fornecer informações sobre o gás. Uma das
hipóteses é que teria sido o BZ,
que faz parte de uma lista de produtos proibidos pela convenção
de armas químicas.
O químico Lev Fedorov disse
que as equipes médicas e de resgate não tinham preparo para oferecer tratamento aos reféns, o que
teria aumentado o número de
mortes. Ele sugeriu ainda que as
forças especiais russas teriam sido
tratadas com um antídoto e que o
mesmo antídoto deveria ter sido
fornecido aos reféns. "Em vez de
perderem tempo levando os reféns para fora do teatro, as equipes de resgate e os médicos deveriam ter usado o antídoto ali mesmo", disse Fedorov.
Médicos em Moscou negaram
que existisse um antídoto e disseram que o tratamento fornecido
às vítimas tinha boa qualidade.
Outros especialistas russos em
armas químicas questionaram o
uso de gás naquela situação.
O Kremlin se calou sobre as
acusações de que as forças especiais russas que entraram no teatro haviam matado os reféns ao
usar um gás tóxico. As autoridades russas disseram apenas que
conseguiram salvar a vida de centenas de pessoas e descreveram a
ação como uma vitória política do
presidente Vladimir Putin, que
acompanhou a operação das forças especiais e rejeitou negociar
com os terroristas.
Os rebeldes exigiam que Putin
declarasse o fim da guerra na
Tchetchênia, região separatista
praticamente destruída pelas últimas incursões do Exército, e determinasse a retirada russa de
uma região qualquer da Tchetchênia como sinal de boa vontade. Se isso fosse comprovado, os
sequestradores diziam que libertariam os reféns.
O Kremlin fez apenas uma contra-oferta. Prometeu aos terroristas garantias de vida se os reféns
fossem libertados.
O fundador da primeira unidade de contraterrorismo de Israel,
Assaf Heffetz, que participou da
ação contra os rebeldes tchetchenos, disse que as mortes devido ao
uso de gás eram inevitáveis.
"Em operações de resgate como
essa, um ou dois mortos entre 12
pessoas é considerado um sucesso. O mesmo pode ser dito de cerca de cem mortes entre 800 pessoas", afirmou Heffetz. "Ao neutralizarem todos ali, os russos
adotaram a única alternativa além
da rendição."
O presidente russo construiu
sua reputação ao deslanchar, em
1999, uma ofensiva contra o separatismo tchetcheno e conseguir
colecionar vitórias, com métodos
questionados por grupos de direitos humanos, sobre um movimento que desafiava o Kremlin
desde a vitória dos rebeldes muçulmanos na guerra contra as forças russas entre 1994 e 1996.
Putin foi duramente criticado
porque não quis interromper suas
férias para visitar o local do naufrágio do submarino Kursk, em
agosto de 2000, e pela imagem de
lentidão e indiferença que marcou a atuação presidencial. Na
ocasião, seus 118 tripulantes morreram. Já no sequestro de um
avião russo na Turquia, em março
de 2001, atuou rápido para evitar
uma nova avalanche de críticas.
Desta vez, já visitou pacientes
nos hospitais e decretou um dia
de luto pelas vítimas, mas as críticas continuam a aumentar.
Com agências internacionais
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