São Paulo, sábado, 28 de outubro de 2006

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Na reta final das eleições, EUA miram gays e negros

Bush ataca união homossexual; abstenção de afro-americanos assombra democratas

Decisão judicial favorável a casamento gay alavanca última cartada republicana para reverter desvantagem na disputa pelo Congresso

DA REDAÇÃO

As minorias poderão decidir, cada uma a seu modo, as acirradas eleições legislativas do próximo dia 7 de novembro nos Estados Unidos. Acuado pela possibilidade cada vez mais concreta de perder a maioria no Congresso, o Partido Republicano do presidente George W. Bush decidiu concentrar seu último esforço de campanha na oposição ao casamento gay, usando como alavanca a decisão emitida na última quarta-feira pelo Supremo de Nova Jersey, que aprova a união civil de pessoas do mesmo sexo.
Ao mesmo tempo, o índice de votação de uma outra minoria preocupa os democratas, que consideram o voto da população negra crucial para um bom desempenho nas urnas. Os estrategistas democratas temem que o eleitorado negro, desiludido com as irregularidades cometidas em pleitos anteriores, não vote em grande número.
""A noção na esfera pública de que as eleições são roubadas é tão grande que estamos tendo que fazer um esforço especial este ano para mudá-la", disse Donna Brazile, estrategista política democrata, ao "New York Times". Esta é a primeira eleição em que o Partido Democrata está mobilizando advogados e fiscais para coibir irregularidades observadas em pleitos anteriores, incluindo a supressão do voto negro, disse Brazile.
A preocupação democrata tem base em números. Segundo um estudo do Pew Research Center, organização independente com base em Washington, o descrédito do sistema político entre os negros dobrou nos últimos dois anos: 29% não acreditam que seu voto será registrado de forma lícita, índice quase três vezes maior do que entre eleitores brancos (8%).
A desilusão, afirmam especialistas, é resultado dos problemas ocorridos nas eleições de 2000 e 2004 e uma reação às leis de registro e identificação de eleitores aprovadas nos últimos dois anos. As longas filas, a escassez de monitores e os panfletos com desinformação que circularam em áreas de baixa renda na eleição de 2004 tiveram um efeito corrosivo na motivação dos negros para votar.
As recentes pesquisas, que dão uma vantagem de 11 pontos aos democratas, indicam que a revolta do eleitorado mais humilde com o atual governo pode superar esse descrédito. Mas ele continua forte. Saleemah Affoul, eleitora negra do estado da Virginia, por exemplo, está convencida de que seu voto, ele será distorcido.
"Acho de verdade que o sistema é fraudulento", diz ela. "Mas vou votar de qualquer maneira. Meus antepassados trabalharam duro para eu ter esse direito."

Última cartada
Do lado republicano, a última cartada da campanha é a dos temas morais, tão caros ao eleitorado conservador. Anteontem, o presidente Bush deu o tom da ofensiva, ao criticar a união entre pessoas do mesmo sexo. Outros políticos republicanos seguiram o mesmo caminho.
"Os temas sociais e morais voltaram a ter importância", disse ao jornal londrino "Independent" o especialista em eleições Scott Keeter, diretor de pesquisa do Pew Center. "A Guerra do Iraque tinha tirado o foco dos temas sociais que os conservadores religiosos queriam enfatizar. A decisão [do Supremo de Nova Jersey] pelo menos lhes dá um novo gancho para reiniciar a discussão."
Só as urnas mostrarão em que medida os republicanos conseguiram desviar o foco da Guerra do Iraque, mas a volta à discussão pública do polêmico projeto de tornar legais as uniões civis entre pessoas do mesmo sexo já se converteu em arma de campanha para a Casa Branca, que tenta virar o jogo estimulando seus eleitores evangélicos a comparecerem às urnas no dia 7. O índice de votação nos dois eleitorados é considerado crucial para definir o resultado da votação.


Com agências internacionais


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