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Candidata francesa detalha plano de júri para políticos
Integrantes seriam escolhidos em sorteio a fim de ampliar participação popular
Ségolène Royal, que disputa candidatura socialista à Presidência, diz se inspirar em experiências de outras democracias européia
ISABELLE MANDRAUD
DO "MONDE"
O que ela quis dizer? A idéia
lançada por Ségolène Royal de
criar júris de cidadãos para avaliar a ação de políticos eleitos
suscita tantas críticas quanto
perguntas. Qual deve ser o papel desses jurados, na concepção de Royal? Desde que falou
publicamente sobre o assunto,
no domingo 22 de outubro, a
pré-candidata presidencial do
Partido Socialista vem tendo
que defender sua posição contra acusações de "populismo",
apresentando argumentos para
fundamentar sua proposta.
Uma nota redigida por sua
assessora Sophie Bouchet-Petersen detalhou os contornos
do projeto: os júris, que seriam
compostos por entre 20 e cem
pessoas sorteadas aleatoriamente, teriam por objetivo "renovar" a democracia representativa, não se constituindo em
"instrumento punitivo ou de
coerção" dos eleitos.
O sorteio dos jurados, feito
com base em listas de residentes, permitiria misturar pessoas de todos os níveis de ensino, pois "a República teria tudo
a ganhar com isso". O objetivo,
explica o documento, é "ampliar o círculo para além dos
profissionais da participação
(militantes, classes médias diplomadas) e refletir a diversidade social.
Podendo contar com uma
compensação financeira para
que pudessem dispor do tempo
necessário, os jurados contribuiriam com seu "saber prático" para opinar sobre as políticas públicas. Para Ségolène Royal, trata-se de dotá-los de "um
verdadeiro poder de decisão ou
de orientação", pois "estruturas puramente consultivas,
sem conseqüências operacionais, não interessam aos cidadãos comuns". O documento
apresenta em seguida uma lista
de exemplos e experiências semelhantes em Berlim, na Catalunha e na Dinamarca.
O sociólogo Yves de Sintomer, pesquisador do centro
Marc-Bloch de Berlim, estudou
muitos desses exemplos, mas
opina que "o júri popular, na
forma proposta por Ségolène
Royal, não existe". Na opinião
dele, "ela lançou uma idéia, e
não exatamente uma proposta
bem formulada".
Para Sintomer, muitas experiências já foram feitas com
questões técnicas e científicas
para tentar chegar a um consenso, como aconteceu na Grã-Bretanha e na França, em 1998,
em relação aos transgênicos.
Os alemães levaram esse princípio para problemas de esfera
local. Gus Massiah, presidente
do Centro de Pesquisas e Informação para o Desenvolvimento
(Cride), cita o caso da Bélgica,
onde, para discutir se era preciso abandonar a energia nuclear
(decisão votada em 2002), o governo apelou para "conferências cidadãs", além de especialistas.
"Era um trabalho essencialmente consultivo, mas, em outros casos, pode ser levado até à
formulação de demandas na
justiça, o que é a forma mais interessante", diz o pesquisador.
"Existe hoje um movimento
que se situa entre o controle cidadão e a participação cidadã.
Os orçamentos participativos
existem hoje em 1.500 cidades
em todo o mundo, mas a decisão final cabe aos conselhos
municipais. É uma boa articulação entre os dois âmbitos."
Freqüentemente criados por
prefeituras de esquerda, essas
iniciativas não obrigatoriamente oferecem garantias políticas a quem os promove. No
Brasil, o Partido dos Trabalhadores perdeu as últimas eleições em Porto Alegre, cidade
que se destacou pela democracia participativa. "Não é porque
se fez um apelo aos cidadãos
que se terá a reeleição garantida", diz Massiah.
Tradução de CLARA ALLAIN
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