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ELEIÇÃO NA ARGENTINA / O DIA D
Economia favorece projeto continuísta do casal Kirchner
Enrique Marcarian - 25.out.07/Reuters
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Kirchner e Cristina sob chuva de papel picado no comício de encerramento da campanha para a Presidência da Argentina |
Recuperação pós-crise dá vantagem a Cristina na votação hoje, apesar das denúncias de corrupção e da alta da inflação
Principal adversária é Elisa Carrió; segundo pesquisas, dois terços dos eleitores argentinos votarão em uma mulher para presidente
RODRIGO RÖTZSCH
DE BUENOS AIRES
Se forem confiáveis os números das pesquisas -o que a oposição contesta-, a primeira-dama e senadora Cristina Fernández de Kirchner, 54, se tornará hoje a primeira mulher a
ser eleita presidente da Argentina, país que é a segunda maior
economia do Mercosul e que
tem no Brasil seu principal parceiro comercial.
Cristina vencerá as eleições
neste primeiro turno se superar 45% dos votos, ou então se
passar de 40% e tiver vantagem
superior a dez pontos sobre o
segundo colocado, que as pesquisas indicam que será a ex-deputada Elisa Carrió, 50.
De qualquer maneira, cerca
de dois terços dos eleitores argentinos deve optar hoje por
uma mulher para ser a próxima
ocupante da Casa Rosada, fato
inédito no país.
A Argentina já foi presidida
por uma mulher -Maria Estela
Martínez de Perón, a Isabelita
(1974-1976). Ela era, porém, vice-presidente eleita e assumiu
após a morte do marido, Juan
Domingo Perón.
Estão registrados para votar
mais de 27 milhões de argentinos. O desinteresse eleitoral faz
com que seja esperada, porém,
cerca de 30% de abstenção, embora o voto seja obrigatório. O
desinteresse foi a marca da
campanha. Cristina conseguiu
instalar a idéia de que já ganhara e a oposição, fragmentada,
não cativou os votantes.
"O eleitorado decidiu há
muito tempo que não está interessado em mudar e por isso se
nega a deixar-se influir por detalhes como uma corrupção galopante, inflação em alta e uma
crise energética que com certeza se agravará. Esses e outros
temas, em um país normal, seriam mais do que suficientes
para garantir a derrota do governo", diz o analista político
James Neilson.
Patrimônio
Com todos esses percalços
recentes, Cristina tem a seu favor o maior patrimônio do governo do marido, Néstor Kirchner -a incrível recuperação
econômica após a crise pela
qual o país passou em 2001 e
2002, quando, com uma dívida
impagável, foi obrigado a pôr
fim à paridade peso/dólar e a
decretar moratória.
"Em geral, o critério mais utilizado pelas pessoas na hora de
votar é o econômico. Na Argentina é determinante. Da mesma
maneira que o "que se vayan todos" esteve diretamente associado à crise de 2001, agora teremos o voto depois do incêndio favorecendo Cristina", afirma Orlando D'Adamo, diretor
do Centro de Opinião Pública
da Universidade de Belgrano.
Em julho, a estratégia de lançar Cristina no lugar de Kirchner, quando o presidente era
bem avaliado e tinha possibilidade legal de se reeleger, pareceu arriscada. Três meses depois, a popularidade de Kirchner baixou pela primeira vez da
casa de 50% e o discurso de
"continuidade com mudança"
de Cristina parece ter atraído à
primeira-dama eleitores que
não apoiariam seu marido.
Uma pesquisa do instituto
Poliarquia, por exemplo, revela
que Cristina mantém a liderança mesmo entre os eleitores
que consideram que a situação
do país é negativa.
Se realmente for eleita hoje,
Cristina chegará ao poder com
muito mais força do que tinha
Kirchner ao assumir em 2003
-em um cenário de instabilidade, ele tomou posse com apenas 22% dos votos, já que o rival
dentro do peronismo Carlos
Menem, que governara o país
de 1989 a 1999, desistiu de disputar o segundo turno. Os jornais da época previram que o
governo não duraria seis meses, um dos motivos pelos quais
os Kirchner guardam mágoas
da imprensa até hoje.
Cenário diferente
Cristina assumirá, se eleita,
em um cenário diferente. Com
a maioria dos votos, ou quase
isso. Com a imensa maioria dos
governadores argentinos a seu
favor -Kirchner teve que construir uma base, a Frente para a
Vitória, a partir de peronistas
de outras correntes e mesmo
com integrantes da União Cívica Radical, rival histórica do peronismo. Com uma possível
maioria absoluta no Congresso,
que Kirchner nunca teve.
As urnas serão fechadas às
18h da Argentina (19h do Brasil). A apuração não será simples: algumas cidades votarão
para nove cargos -presidente,
senador, deputado, governador, deputado e senador provincial, prefeito, vereador e
conselheiro escolar.
Na Argentina não existe voto
eletrônico. Cada categoria de
voto é impressa numa cédula
que vem unida a outras cédulas
de candidatos da mesma coligação. É permitido, porém, o chamado "corte de cédula", pelo
qual o eleitor vota em candidatos de diferentes partidos para
diferentes cargos -o que torna
a apuração demorada.
A oposição deu sinais de que
só aceitará os resultados da
apuração definitiva, que termina em 9 de novembro, e não os
números provisórios que devem estar totalizados amanhã.
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