São Paulo, quarta-feira, 28 de outubro de 2009

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Apoio de EUA a pleito sem Zelaya racharia a região, diz Amorim

Comitiva americana liderada por Thomas Shannon chega hoje a Tegucigalpa para tentar pôr fim à crise hondurenha

Ontem, pai de vice-ministro do governo Micheletti foi sequestrado, em onda de crimes que atinge pessoas próximas a regime golpista


FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A TEGUCIGALPA

Na véspera da chegada da comitiva americana liderada pelo secretário-assistente de Estado para o hemisfério Ocidental, Thomas Shannon, para tentar resolver a crise em Honduras, o chanceler brasileiro, Celso Amorim, previu ontem um cenário "tétrico" para Honduras caso as eleições gerais de 29 de novembro ocorram sem que o presidente deposto Manuel Zelaya e os golpistas cheguem primeiro a um acordo.
O reconhecimento dos resultados eleitorais mesmo que a votação ocorra sob o presidente interino Roberto Micheletti é apoiado pela oposição republicana nos EUA e ganha adeptos também no governo Obama. Nesse caso, ventila-se que aliados próximos dos EUA, como Peru, Panamá e Colômbia, poderiam seguir Washington.
Para Amorim, se isso ocorrer, vai haver um racha na região. "[Seria uma situação] muito muito ruim, e acho que os americanos sabem disso. Claro que lá existe uma direita muito extremada, que pode ter outras ideias... Se reconhecerem, a região vai ficar muito dividida. Nós não vamos reconhecer. Muitos outros não irão reconhecer", continuou.
Segundo o chanceler, a eventual legitimação da eleição sob os golpistas teria efeito negativo especialmente sobre a América Central, onde "existe uma enorme preocupação de que isso [o golpe] possa até servir de exemplo".
O ministro voltou a defender que, ao abrigar Zelaya em sua embaixada em Tegucigalpa, o Brasil provocou uma oportunidade para uma saída negociada.
"Eu não vou discutir a política do Zelaya. Isso não interessa. Até porque essas coisas são usadas como pretexto", disse, em relação ao argumento dos golpistas de que Zelaya estaria tentando implantar a reeleição, vetada pela Constituição. "Na época do Jango [João Goulart 1961-1964, derrubado pelos militares] muita gente usou pretexto jurídico. Ah, porque a reforma agrária na beira das estradas era inconstitucional..."

Sequestro
O pai do vice-ministro da Defesa do governo interino de Honduras foi sequestrado ontem de manhã em Tegucigalpa, elevando para três o número de crimes com suspeitas de motivação política nos últimos dias.
O empresário e ex-dirigente do Partido Liberal Alfredo Jalil, 81, pai de Gabo Jalil, foi sequestrado ontem quando saía de sua casa, num bairro de classe alta.
A polícia não informou se o crime teria motivação política, mas a mulher de Alfredo, Gloria, em declarações a jornalistas locais, acusou Zelaya de "criar o caos" no país e exigiu do presidente deposto que "ordene" a liberação do empresário.
No domingo à noite, Enzo Micheletti, 25, sobrinho do presidente interino, foi encontrado morto com tiros na cabeça e no peito e as mãos amarradas. A polícia inicialmente descartou relações entre o crime e a crise política.
No terceiro caso, desconhecidos mataram a tiros, na noite de domingo, o coronel Concepción Jiménez. Nas cerimônias fúnebres, realizadas ontem, estiveram tanto Micheletti como o comandante das Forças Armadas, general Romeo Vásquez, que não descartou motivação política no crime.
Honduras é o país mais violento da América Central, principalmente pela atuação de gangues transnacionais e por ser rota do tráfico de cocaína colombiana para o México e os EUA. No ano passado, a taxa de homicídios chegou a 58 por 100 mil habitantes, segundo estudo das Nações Unidas.


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