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Apoio de EUA a pleito sem Zelaya racharia a região, diz Amorim
Comitiva americana liderada por Thomas Shannon chega hoje a Tegucigalpa para tentar pôr fim à crise hondurenha
Ontem, pai de vice-ministro do governo Micheletti foi sequestrado, em onda de crimes que atinge pessoas próximas a regime golpista
FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A TEGUCIGALPA
Na véspera da chegada da comitiva americana liderada pelo
secretário-assistente de Estado
para o hemisfério Ocidental,
Thomas Shannon, para tentar
resolver a crise em Honduras, o
chanceler brasileiro, Celso
Amorim, previu ontem um cenário "tétrico" para Honduras
caso as eleições gerais de 29 de
novembro ocorram sem que o
presidente deposto Manuel Zelaya e os golpistas cheguem primeiro a um acordo.
O reconhecimento dos resultados eleitorais mesmo que a
votação ocorra sob o presidente interino Roberto Micheletti
é apoiado pela oposição republicana nos EUA e ganha adeptos também no governo Obama. Nesse caso, ventila-se que
aliados próximos dos EUA, como Peru, Panamá e Colômbia,
poderiam seguir Washington.
Para Amorim, se isso ocorrer,
vai haver um racha na região.
"[Seria uma situação] muito
muito ruim, e acho que os americanos sabem disso. Claro que
lá existe uma direita muito extremada, que pode ter outras
ideias... Se reconhecerem, a região vai ficar muito dividida.
Nós não vamos reconhecer.
Muitos outros não irão reconhecer", continuou.
Segundo o chanceler, a eventual legitimação da eleição sob
os golpistas teria efeito negativo especialmente sobre a América Central, onde "existe uma
enorme preocupação de que isso [o golpe] possa até servir de
exemplo".
O ministro voltou a defender
que, ao abrigar Zelaya em sua
embaixada em Tegucigalpa, o
Brasil provocou uma oportunidade para uma saída negociada.
"Eu não vou discutir a política do Zelaya. Isso não interessa.
Até porque essas coisas são
usadas como pretexto", disse,
em relação ao argumento dos
golpistas de que Zelaya estaria
tentando implantar a reeleição,
vetada pela Constituição. "Na
época do Jango [João Goulart
1961-1964, derrubado pelos militares] muita gente usou pretexto jurídico. Ah, porque a reforma agrária na beira das estradas era inconstitucional..."
Sequestro
O pai do vice-ministro da Defesa do governo interino de
Honduras foi sequestrado ontem de manhã em Tegucigalpa,
elevando para três o número de
crimes com suspeitas de motivação política nos últimos dias.
O empresário e ex-dirigente
do Partido Liberal Alfredo Jalil,
81, pai de Gabo Jalil, foi sequestrado ontem quando saía de sua
casa, num bairro de classe alta.
A polícia não informou se o
crime teria motivação política,
mas a mulher de Alfredo, Gloria, em declarações a jornalistas locais, acusou Zelaya de
"criar o caos" no país e exigiu do
presidente deposto que "ordene" a liberação do empresário.
No domingo à noite, Enzo
Micheletti, 25, sobrinho do
presidente interino, foi encontrado morto com tiros na cabeça e no peito e as mãos amarradas. A polícia inicialmente descartou relações entre o crime e
a crise política.
No terceiro caso, desconhecidos mataram a tiros, na noite
de domingo, o coronel Concepción Jiménez. Nas cerimônias
fúnebres, realizadas ontem, estiveram tanto Micheletti como
o comandante das Forças Armadas, general Romeo Vásquez, que não descartou motivação política no crime.
Honduras é o país mais violento da América Central, principalmente pela atuação de
gangues transnacionais e por
ser rota do tráfico de cocaína
colombiana para o México e os
EUA. No ano passado, a taxa de
homicídios chegou a 58 por 100
mil habitantes, segundo estudo
das Nações Unidas.
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