São Paulo, quinta-feira, 28 de outubro de 2010

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ENTREVISTA

Ele foi o melhor em meio século, afirma escritor

FLÁVIA MARREIRO
DE CARACAS

O jornalista e escritor argentino Horacio Verbitsky diz que Néstor Kirchner se conectou com "um sentimento muito intenso da sociedade argentina" ao apoiar o fim da anistia para crimes da ditadura do país.
"O processo começou antes de Kirchner, mas ele prestou apoio fundamental", diz ele, autor de vários livros sobre o regime militar e colaborador do jornal esquerdista "Página 12".

 

Folha - A reabertura dos processos da ditadura era um movimento em curso quando Kirchner assumiu a Presidência. Qual o peso dele?
Horacio Verbitsky -
Kirchner foi o melhor presidente que a democracia argentina teve em meio século. Depois de muitos anos de decadência, de políticas repressivas e neoliberais, Kirchner significou a recuperação da autoridade presidencial.
Ele fez da exigência de justiça às violações de direitos humanos na ditadura [76-83] questão central.
Quando Kirchner assumiu, a lei da obediência devida [anistia aos oficiais que alegassem que cometeram crimes a mando de superiores] já havia sido anulada por juízes de primeira instancia, pelo procurador-geral. Faltava a Corte Suprema. Havia já uns 50, 60 oficiais de alto escalão presos.
Mas o apoio aberto que Kirchner prestou a essa política, as mudanças promovidas na designação da Corte Suprema, contribuíram de maneira decisiva.

Os críticos dizem que o casal cooptou a luta pela reparação dos crimes da ditadura.
São críticas miseráveis. Ele apoiou políticas que os organismos de direitos humanos vínhamos lutando por muitos anos. Não fez outra coisa senão apoiar um sentimento muito intenso na sociedade argentina.

Como vê o governo Cristina no curto prazo? Há um embate com a imprensa, e analistas dizem que ela perde o motor do governo.
Cristina exerceu o poder desde o primeiro dia de governo. [As análises de que era Nelson quem governava] eram tentativas de menosprezá-la, diminuí-la. Não sei como a presidente vai se recompor desse golpe. Ela não perdeu só um importantíssimo aliado político mas também seu companheiro da vida inteira.
Eu suponho que ela vai se recuperar. É uma mulher com muita firmeza para seguir liderando esse processo para que seja reeleita em 2011. Mas é prematuro dizer. Teremos de esperar.


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