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Desafio para Cristina é manter kirchnerismo vivo sem Néstor
DE BUENOS AIRES
A morte de Néstor Kirchner, considerado o político
mais poderoso da Argentina,
resultará em mudanças profundas no cenário atual que
dependerão principalmente
da reação da atual presidente, Cristina, segundo analistas ouvidos pela Folha.
O grande desafio do governo será preencher o vácuo de
poder deixado por alguém
"insubstituível" dentro da
coalizão e reorganizar as estratégias para as eleições presidenciais do próximo ano,
de acordo com o cientista político Atilio Boron, da Universidade de Buenos Aires.
A ausência de Kirchner,
que poderia concorrer novamente à Presidência, transforma Cristina na maior opção competitiva do bloco para continuar governando.
Para o cientista político Julio Burdman, da Universidade de Belgrano, o pleito de
outubro de 2011 seria o grande plebiscito para Kirchner.
Com sua morte, começa
uma nova etapa de avaliação
do governo por parte da sociedade, afirma ele.
"Cristina precisará mostrar que o governo funciona
com ou sem Kirchner. Se ela
demonstrar capacidade de se
recuperar e iniciativa política, certamente o eleitorado
valorizará, mesmo aqueles
que hoje fazem oposição."
Kirchner estabelecia a
agenda dos debates e era o eixo das críticas à oposição.
Isso deve deixar a liderança do país inicialmente desorientada, segundo o analista.
"Políticos e empresários agora precisam sentir onde está
o poder", afirma.
REORGANIZAÇÃO
Para a consultora política
Graciela Römer, a sobrevivência do kirchnerismo depende da reorganização interna que o governo será
obrigado a realizar. Cristina
terá a opção de aliar-se aos
"falcões confrontacionistas"
ou às "pombas do diálogo"
que compõem o bloco.
Se tomar o primeiro caminho, deve redobrar as apostas nos conflitos com a grande imprensa, os produtores
agropecuários e demais setores da oposição, que tinham
Kirchner como o grande inimigo político.
Caso busque apoio de setores mais moderados, Cristina será mais autônoma do
que vinha sendo até agora e
pode implantar sua proposta
de campanha, que oferecia
diálogo e maior inserção na
economia internacional.
Römer também não descarta que a comoção social
produzida pela morte de
Kirchner gere correntes de
simpatia em benefício de
Cristina, que trariam dividendos eleitorais.
O efeito seria parecido ao
que ocorreu após a morte do
ex-presidente Raúl Alfonsín
(1983-1989), em 2009. O deputado federal Ricardo Alfonsín, filho de Raúl, se tornou mais popular ao "ocupar" o espaço do pai.
(GH)
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