São Paulo, quinta-feira, 28 de outubro de 2010

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Desafio para Cristina é manter kirchnerismo vivo sem Néstor

DE BUENOS AIRES

A morte de Néstor Kirchner, considerado o político mais poderoso da Argentina, resultará em mudanças profundas no cenário atual que dependerão principalmente da reação da atual presidente, Cristina, segundo analistas ouvidos pela Folha.
O grande desafio do governo será preencher o vácuo de poder deixado por alguém "insubstituível" dentro da coalizão e reorganizar as estratégias para as eleições presidenciais do próximo ano, de acordo com o cientista político Atilio Boron, da Universidade de Buenos Aires.
A ausência de Kirchner, que poderia concorrer novamente à Presidência, transforma Cristina na maior opção competitiva do bloco para continuar governando.
Para o cientista político Julio Burdman, da Universidade de Belgrano, o pleito de outubro de 2011 seria o grande plebiscito para Kirchner.
Com sua morte, começa uma nova etapa de avaliação do governo por parte da sociedade, afirma ele.
"Cristina precisará mostrar que o governo funciona com ou sem Kirchner. Se ela demonstrar capacidade de se recuperar e iniciativa política, certamente o eleitorado valorizará, mesmo aqueles que hoje fazem oposição."
Kirchner estabelecia a agenda dos debates e era o eixo das críticas à oposição.
Isso deve deixar a liderança do país inicialmente desorientada, segundo o analista. "Políticos e empresários agora precisam sentir onde está o poder", afirma.

REORGANIZAÇÃO
Para a consultora política Graciela Römer, a sobrevivência do kirchnerismo depende da reorganização interna que o governo será obrigado a realizar. Cristina terá a opção de aliar-se aos "falcões confrontacionistas" ou às "pombas do diálogo" que compõem o bloco.
Se tomar o primeiro caminho, deve redobrar as apostas nos conflitos com a grande imprensa, os produtores agropecuários e demais setores da oposição, que tinham Kirchner como o grande inimigo político.
Caso busque apoio de setores mais moderados, Cristina será mais autônoma do que vinha sendo até agora e pode implantar sua proposta de campanha, que oferecia diálogo e maior inserção na economia internacional.
Römer também não descarta que a comoção social produzida pela morte de Kirchner gere correntes de simpatia em benefício de Cristina, que trariam dividendos eleitorais.
O efeito seria parecido ao que ocorreu após a morte do ex-presidente Raúl Alfonsín (1983-1989), em 2009. O deputado federal Ricardo Alfonsín, filho de Raúl, se tornou mais popular ao "ocupar" o espaço do pai. (GH)


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