São Paulo, sexta-feira, 28 de outubro de 2011

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Acordo europeu dá ânimo ao mercado, mas dúvidas seguem

Bolsas têm forte alta com anúncio de pacote anticrise, que inclui calote de 50% nos títulos da dívida grega

Bovespa sobe 3,72% e dólar cai; analistas são céticos sobre adesão de bancos e ampliação de fundo de estabilização

Pilippe Wojazer/Reuters
Ativistas com máscaras do presidente Nicolas Sarkozy protestam em Paris

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

As Bolsas gostaram do pacote anticrise anunciado ontem por líderes europeus, apesar das muitas dúvidas sobre a sua viabilidade e de incluir calote de 50% da dívida grega nas mãos de credores privados.
Os principais índices europeus e dos EUA tiveram forte alta. A Bovespa subiu 3,72%, e o dólar caiu 2,89%, fechando a R$ 1,709.
Após uma maratona que varou a madrugada, o plano foi anunciado. Além do calote, inclui o aumento do fundo europeu de resgate, mais dinheiro para a Grécia e a capitalização de bancos.
As principais questões em aberto são a parcela da conta que vai recair sobre o contribuinte europeu e o tamanho efetivo da adesão dos bancos ao "desconto" (eufemismo para calote) nos títulos da dívida grega.
Em julho, um desconto de 21% já havia sido acertado, numa versão anterior do pacote. Com a subida para 50%, cerca de € 100 bilhões terão de ser perdoados.
Foi feito um esforço para caracterizar o perdão como um gesto voluntário dos bancos, que estavam ameaçados de perder 100%.
Mas o Instituto de Finanças Internacionais, que representa os bancos, disse que os detalhes precisam ser negociados, gerando incerteza.
O acordo prevê ainda que o Fundo Europeu de Estabilização Financeira, para resgate de bancos e países em crise, receba um aumento maciço de recursos. Hoje com € 440 bilhões, poderia passar de € 1 trilhão (R$ 2,4 trilhões, ou 60% do PIB do Brasil).
Também não se sabe quem bancará esse aumento. Europeus querem ajuda de emergentes como China e Brasil.

BANCOS
Outro ponto do pacote prevê mais € 130 bilhões para assegurar a solvência da Grécia. Destes, € 30 bi são destinados a bancos como incentivo para aderir ao calote.
O dinheiro deve vir de fundos públicos -ou seja, é o contribuinte quem pagará.
Os bancos, sobre os quais pesam dúvidas sobre a capacidade de se manter de pé na eventualidade do calote grego, também serão obrigados a se recapitalizar.
Isso significa que terão de aumentar seu capital de 5% para 9% em relação ao total de ativos que têm.
Pelos cálculos da Autoridade Bancária Europeia, para todos atingirem esse percentual, terão de obter € 106 bilhões.
Numa vitória para a chanceler alemã, Angela Merkel, que não queria injetar fundos públicos, eles terão de arrumar o dinheiro sozinhos -por meio de empréstimos ou vendendo patrimônio.
A possibilidade de obterem sucesso num ambiente de recessão global é duvidosa, no entanto, e é provável que em última análise fundos públicos tenham de ser usados.
Apesar do otimismo geral, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, desabafou, dizendo que a Grécia não estava pronta para aderir ao euro.
Para Rafael Martello, da Tendências, o pacote não resolve o problema estrutural de baixo crescimento.
"Apenas afasta o risco de calote a qualquer momento. Os governos gastarão mais e adiarão o ajuste que precisam fazer."


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