São Paulo, sexta-feira, 28 de novembro de 2008

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Premiê da Índia culpa Paquistão por ataques

Manmohan Singh diz que "haverá custos" se o vizinho e rival não agir contra radicais

Islamabad condena ataques e nega ter envolvimento; inimigos históricos, países disputam a Caxemira e a atenção norte-americana

DA REDAÇÃO

Em seu primeiro pronunciamento sobre os atentados da véspera em Mumbai, o premiê indiano, Manmohan Singh, acusou ontem de forma pouco velada o vizinho e rival histórico Paquistão pelos ataques.
"Vamos deixar bem claro para nossos vizinhos que o uso do território deles para lançar ataques contra nós não será tolerado, e haverá um custo caso eles não tomem as medidas adequadas", declarou Singh em discurso televisionado à nação.
"Não estamos envolvidos de forma nenhuma", rechaçou o ministro da Defesa paquistanês, Ahmed Mukhtar. Em Islamabad, tanto o premiê Yousaf Raza Gilani quanto o presidente Asif Ali Zardari condenaram os atentados. Zardari enfatizou "a necessidade de tomar medidas rígidas para erradicar o terrorismo da região", e sua Chancelaria ofereceu colaboração nas investigações.
As declarações não contiveram as acusações indianas. O general R.K. Hooda, no comando das operações de contraterrorismo no país, afirmou que os terroristas "vieram do lado de lá da fronteira". "Talvez de Faidkot, no Paquistão. Tentaram fingir que eram de Hyderabad [na Índia]", disse o militar.
Para o ministro paquistanês da Defesa, a divulgação da informação é "precipitada". "Em casos anteriores, [os indianos] fizeram acusações como esta e mais tarde ficou provado que estavam errados". A Índia atribuiu o atentado a sua embaixada em Cabul, que matou 58 pessoas em julho, a agentes do ISI, serviço secreto paquistanês. O episódio não foi esclarecido.

Relações turbulentas
Associado aos grupos separatistas que atuam na região da Caxemira indiana, o Paquistão tem adotado, nos últimos meses, uma retórica antiterrorismo mais dura para fortalecer a desgastada aliança com os EUA. Washington vê leniência do país no combate ao extremismo e assinou, neste ano, acordo nuclear civil com a Índia -o que irritou o Paquistão.
Há dois meses, em entrevista ao "Washington Post", o premiê Zardari classificou pela primeira ver como "terroristas" os "mujahedin", combatentes islâmicos da Caxemira.
A relação do governo paquistanês com extremistas, porém, é complexa. O país, de maioria muçulmana, tem dificuldade em conter o radicalismo nas áreas tribais próximas à fronteira afegã, onde a presença do Estado é precária e há forte atuação da milícia Taleban.
Já na militarizada fronteira indiana a disseminação de doutrinas islamistas favorecem o Paquistão. A Caxemira, estratégica por abarcar a nascente de rios importantes, é habitada majoritariamente por muçulmanos -e a maioria deles se opõe ao domínio de Nova Déli.
A região -cujo território se divide entre Índia (60%), Paquistão (30%) e China (10%)- foi o estopim de 2 das 3 guerras entre os vizinhos desde a partição e a independência de ambos do Reino Unido, em 1947.
A disputa pela aliança com os EUA é um ponto a mais a agravar a já conturbada relação. Ambos tentam firmar-se como parceiros preferenciais de Washington, que oscilou historicamente entre aproximações com a Índia e o Paquistão.
Após o 11 de Setembro, o Paquistão, base de grupos radicais e vital no combate ao terrorismo, reaproximou-se dos EUA e recebeu de Washington US$ 10 bilhões pela cooperação.
Mas a derrocada do ex-ditador Pervez Musharraf e a incapacidade paquistanesa de conter os extremistas arrefeceram a aliança no final de 2007. Politicamente moderada e economicamente mais importante, a Índia está em vantagem no xadrez político regional.
Ao culpar o Paquistão por atentados, o país se fortalece como alternativa ao instável vizinho e ainda, internamente, escamoteia o descontentamento de minorias indianas.


Com agências internacionais


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