|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Para analistas, terroristas têm origens domésticas
PEDRO DIAS LEITE
DE LONDRES
SAMY ADGHIRNI
DA REPORTAGEM LOCAL
O terroristas que têm lançado ataques indiscriminados e
de proporções crescentes na
Índia têm bases cada vez mais
locais, formadas por indianos e
não por estrangeiros, segundo
analistas internacionais consultados pela Folha.
Até alguns anos atrás, o terrorismo no país esteve sempre
ligado à disputa pela Caxemira,
uma das centenas de principados que formavam o subcontinente até a independência do
Império Britânico em 1947, e
que ficou no meio da divisão
entre Índia e Paquistão.
Agora, a ameaça interna, de
muçulmanos descontentes
com o que vêem como marginalização, pode trazer graves
conseqüências para a Índia, segundo Gareth Price, diretor do
Departamento de Ásia do centro de estudos Chatham House, de Londres.
"Ao se autodenominarem
Mujahedin do Deccan [Deccan
é um planalto no sul do país],
eles querem deixar claro que
são muçulmanos indianos e
que não têm nada a ver com a
Caxemira [ao norte]. Eles estão
tentando ressaltar que são indianos descontentes com a política do governo em relação
aos muçulmanos", diz Price.
A principal dúvida, de acordo
com o analista inglês, é saber se
grupos paquistaneses, como
Lashkar-e-Taiba, ativo na Caxemira e ligado à Al Qaeda, estão envolvidos.
"Até agora parece muito
mais provável que sejam apenas indianos, talvez com algum
suporte técnico de militantes
estrangeiros", afirma Price.
A tese é corroborada pelo
francês Roland Jacquard, presidente do Observatório do
Terrorismo e consultor da
ONU sobre o assunto.
"Muitos olhares estão voltados para Paquistão ou Bangladesh, mas os ataques refletem
antes de tudo um problema interno. Grupos estrangeiros, como o Taleban ou os setores rebeldes da inteligência paquistanesa, podem, no máximo, ter
fornecido armas, explosivos ou
informações", avalia Jacquard.
Segundo o analista, os autores são jovens recrutados nas
universidades da Índia e endoutrinados para o ódio e a vingança do massacre de milhares
de muçulmanos por grupos
hindus no início dos anos 90.
Jacquard descarta uma participação da Al Qaeda, mas afirma que a rede de Osama bin
Laden inspirou os autores do
atentado de Mumbai. "Os métodos são parecidos, como o
ataque a lugares turísticos em
grandes centros econômicos".
Gareth Price aponta para a
defasagem dos serviços secretos indianos em relação aos
terroristas: "Os ataques a bomba aumentam em freqüência e
escala, ganhando até proporção de operação militar. O que
falta na Índia é inteligência sobre esses grupos. É sempre reativa. Faltam claramente medidas preventivas."
Jacquard explica que a ineficiência dos serviços secretos é
fruto do modelo de gestão administrativa da Índia, descentralizado e descoordenado.
"Sem contar o ataque de
Mumbai, em um ano houve pelo menos 220 mortes em atentados terroristas na Índia. O
país percebe, estarrecido, que
há dentro de seu território jovens nascidos e criados ali dispostos a tudo para espalhar o
terror", diz o especialista.
Texto Anterior: Premiê da Índia culpa Paquistão por ataques Próximo Texto: Frases Índice
|