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"Nova Déli tem de assumir seus erros", afirma especialista
Para Rohan Gunaratna, ataques são "banho de sangue indiscriminado e sem reivindicações objetivas" que refletem terrorismo pós-Al Qaeda
Estudioso do tema diz que inspiração vem da rede de Bin Laden, critica a Índia por apontar culpados externos
e prevê mais atentados
SAMY ADGHIRNI
DA REPORTAGEM LOCAL
Os atentados de Mumbai refletem um caso clássico de terrorismo no século 21 -um banho de sangue indiscriminado
e sem reivindicação.
Essa é a avaliação de um dos
maiores especialistas mundiais
no assunto: o cingalês Rohan
Gunaratna, autor do livro "Inside Al Qaeda: Global Network
of Terror" (dentro da Al Qaeda:
rede global do terror) e pesquisador do Centro para o Estudo
de Terrorismo da Universidade
de St. Andrews (Escócia).
Em entrevista à Folha por
telefone, Gunaratna criticou a
Índia por buscar apontar culpados externos e previu mais
ataques contra hotéis.
FOLHA - O atentado tem alguma
relação com o terrorismo do tipo
praticado pela Al Qaeda?
ROHAN GUNARATNA - Até podem
ter se inspirado na Al Qaeda,
principalmente no modo operacional. Atacar alvos ocidentais icônicos para causar mortes em massa é marca registrada da Al Qaeda. Mas acho que o
vínculo não vai além disso.
FOLHA - Qual é a motivação dos
autores do massacre?
GUNARATNA - O grupo que cometeu os ataques é indiano e
não está vinculado a nenhum
Estado. Os terroristas estimam
que as minorias muçulmanas
foram destratadas e sofreram
muito na história da Índia e hoje buscam meios de vingar o
que consideram injustiças.
Mas essas justificativas não
procedem. O governo indiano
respeita e trata com atenção as
questões ligadas às minorias islâmicas. Há muçulmanos ocupando cargos importantes em
todas as esferas do país.
FOLHA - Mesmo com a dimensão e
a repercussão da carnificina, o senhor acredita que os terroristas de
Mumbai não têm nenhuma reivindicação específica?
GUNARATNA - Os autores queriam atacar indiscriminadamente pessoas que não têm nada a ver com os conflitos étnicos e religiosos da Índia. Não há
reivindicação ou mensagem
além disso. É um caso típico de
terrorismo [pós-Al Qaeda].
FOLHA - Houve mesmo participação externa nos ataques, como sustenta Nova Déli?
GUNARATNA - Os governos indianos têm mania de apontar o
dedo para o Paquistão ou Bangladesh na hora de resolver
problemas. O culpado sempre é
o outro. As autoridades da Índia precisam aprender a assumir os próprios erros, para
crescer e amadurecer. Só assim
o país se tornará uma grande
potência.
FOLHA - O que se sabe sobre o grupo que assumiu os ataques?
GUNARATNA - Não existe nenhuma organização terrorista
chamada Mujahedin do Deccan. É muito provável que seja
apenas um nome diferente para designar os Mujahedin da
Índia, que vêm atacando o país
nos últimos anos. Os Mujahedin da Índia adotaram uma nomenclatura diferente para despistar as autoridades. Sinal disso é o próprio nome. Deccan
significa "Sul", o que sinaliza a
tentativa de confundir, já que a
maior parte dos grupos muçulmanos radicais estão concentrados no norte.
FOLHA - Os hotéis parecem ter se
tornado alvos preferenciais dos terroristas.
GUNARATNA - O ataque de
Mumbai aconteceu dois meses
depois do atentado ao Marriott
de Islamabad [Paquistão], que
deixou 56 mortos. Diante da dificuldade em atingir embaixadas e outros alvos diplomáticos, os terroristas tendem a alvejar cada vez mais hotéis freqüentados por estrangeiros,
que passam a ser encarados como braços das embaixadas.
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