São Paulo, sexta-feira, 28 de novembro de 2008

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Sucesso do tratado depende de atuação de Obama, afirma especialista militar

ANDREA MURTA
DE NOVA YORK

O sucesso do acordo aprovado pelo Parlamento iraquiano ontem dependerá do compromisso do presidente eleito dos EUA, Barack Obama, com a promessa de retirar a maior parte das tropas do Iraque nos próximos 18 meses, disse à Folha Lawrence Wilkerson.
"Se ele não fizer isso, as chances caem bastante", afirmou o coronel por e-mail. "Mesmo com a retirada rápida, as chances são hoje de 50% a 50%."
Wilkerson, 63, é um feroz crítico da invasão do Iraque pelos EUA. Seu desencanto com a ação norte-americana fez com que ele renunciasse do posto de chefe-de-gabinete do então secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, em 2005, após três anos no posto. Desde então, sua oposição ao governo de George W. Bush só aumentou.
O coronel vê o conteúdo do acordo, que prevê a retirada das tropas em três anos, com cauteloso otimismo. "Será um bom acordo se ambos os lados obedecerem suas provisões, mas isso pode se provar mais difícil do que o esperado."
Ele é mais cético quanto à cláusula que prevê que os EUA deverão entregar à Justiça iraquiana soldados que supostamente cometerem crimes fora da atuação nas bases do Exército. "Será preciso observar como o sistema iraquiano lida com um acontecimento do tipo e, é claro, como os EUA vão lidar com a abordagem iraquiana. E pode acreditar em mim: esses eventos vão acontecer."
Wilkerson alerta ainda para o futuro do acordo após as eleições nacionais iraquianas, que ocorrem no final de 2009 e, segundo ele, "reorganizarão o governo" e a disputa de poder em Bagdá. "Vamos ter que observar cuidadosamente como essa reorganização deixará os grupos sunitas, assim como os cada vez mais divididos xiitas. Além disso, os curdos vão assumir o controle de mais e mais áreas fora de seu território, o que pode ser perigoso", afirma.
Após 2011, o governo iraquiano ainda pode negociar em um acordo separado uma extensão da permanência das tropas dos EUA caso creia que o país não está estabilizado.
Para o coronel da reserva Andrew Bacevich, professor de relações internacionais da Universidade Boston, "o acordo é menos importante do que muitos analistas afirmam".
"Já sabemos que o papel de combate dos EUA no Iraque está terminando. A questão real é saber o que vai acontecer com o Iraque depois que as tropas saírem", diz.


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