São Paulo, sábado, 28 de novembro de 2009

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"China e Rússia não vão endossar sanções econômicas"

DA SUCURSAL DO RIO

Embora tenham apoiado a censura ao Irã na AIEA, China e Rússia não deverão aprovar na ONU sanções que visem a economia iraniana, prevê Flynt Leverett, diretor do Projeto Irã da Fundação Nova América, centro de estudos americano de orientação centrista.
Ex-integrante do Conselho de Segurança Nacional dos EUA e ex-analista da CIA, Leverett vem defendendo o restabelecimento pleno das relações entre EUA e Irã, rompidas após a Revolução Islâmica de 1979. (CLAUDIA ANTUNES)

 

FOLHA - Após a advertência da AIEA ao Irã, o que virá?
FLYNT LEVERETT
- EUA, Reino Unido e França tentarão usar a resolução da AIEA para convencer o Conselho de Segurança da ONU [CS] a endossar sanções adicionais ao Irã. Mas sou cético quanto à possibilidade de se acrescentar muito às sanções em vigor. Nas três resoluções já adotadas pelo CS, os três países vieram com um rascunho de punições amplas, depois limitadas por Rússia e China a indivíduos e entidades ligados à área nuclear.

FOLHA - O fato de China e Rússia terem apoiado a decisão da AIEA indica uma mudança de posição?
LEVERETT
- Não no sentido que os EUA querem, que são sanções que visem setores importantes da economia iraniana, como finanças, petróleo e gás. Isso chineses e russos não devem endossar. Nem China e nem Rússia têm interesse em que o Irã se torne uma potência nuclear. Ambas querem uma solução pacífica, multilateral, para o problema, o que as levou a apoiar a decisão que pede mais cooperação iraniana. Mas, quando chega a hora de opções duras, não comprometem seus próprios interesses para agradar aos EUA.

FOLHA - O Brasil, que acaba de receber o presidente iraniano, se absteve na AIEA, como África do Sul e mais quatro países. Isso compromete a posição internacional brasileira?
LEVERETT
- O Brasil, como a África do Sul, tem história nessa questão. São dos poucos países que abriram mão de programas de armas nucleares. Ao mesmo tempo, como uma espécie de líder dos países não alinhados, o Brasil tem defendido o que considera o direito dos países sem armas atômicas de terem acesso à tecnologia nuclear civil, incluindo o ciclo de combustível. Não me surpreende nem um pouco a abstenção. Da perspectiva desses Estados, segundo meu entendimento, houve um processo em que o Irã esclareceu várias dúvidas sobre seu programa, exceto um "suposto estudo" sobre atividades ligadas à produção de armas, citado no relatório da AIEA. E aí você tem um problema claro, porque a AIEA não pode colocar esse estudo que recebeu dos EUA e agências ocidentais na frente do Irã e pedir que responda. Claro que a posição brasileira provoca críticas em alguns círculos americanos, mas não há muito que os EUA possam fazer contra o Brasil nisso.

FOLHA - E por que o estudo não pode vir a público?
LEVERETT
- A própria direção da AIEA cobrou isso, mas a alegação é que os EUA e outros países não querem que o Irã veja as fontes da informação.

FOLHA - Antes da eleição iraniana, dizia-se que os EUA deveriam buscar um acordo mais abrangente com o Irã. Com a eleição e a repressão que se seguiu, muitos passaram a considerar que isso reforçaria Ahmadinejad. Qual é a sua posição?
LEVERETT
- Sou um dos que acham que qualquer solução para a questão nuclear iraniana tem que ser parte de um entendimento estratégico amplo, particularmente entre o Irã e os EUA. Os EUA ainda não chegaram a esse tipo de proposta. Entre [George W.] Bush e [Barack] Obama, abandonamos algumas precondições para o diálogo, mas não colocamos na mesa uma proposta nova. O ministro do Exterior iraniano tem uma frase: "Antes de eu entrar numa sala, tenho que saber o que há lá dentro". E, até agora, os EUA nunca deixaram claro o que está na sala, qual a natureza do acordo, da relação bilateral. Sem isso, será difícil chegar a uma solução diplomática ao problema nuclear.

Leia a íntegra desta entrevista

www.folha.com.br/0933113


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