|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"China e Rússia não vão endossar sanções econômicas"
DA SUCURSAL DO RIO
Embora tenham apoiado a
censura ao Irã na AIEA, China e
Rússia não deverão aprovar na
ONU sanções que visem a economia iraniana, prevê Flynt
Leverett, diretor do Projeto Irã
da Fundação Nova América,
centro de estudos americano
de orientação centrista.
Ex-integrante do Conselho
de Segurança Nacional dos
EUA e ex-analista da CIA, Leverett vem defendendo o restabelecimento pleno das relações
entre EUA e Irã, rompidas após
a Revolução Islâmica de 1979.
(CLAUDIA ANTUNES)
FOLHA - Após a advertência da
AIEA ao Irã, o que virá?
FLYNT LEVERETT - EUA, Reino
Unido e França tentarão usar a
resolução da AIEA para convencer o Conselho de Segurança da ONU [CS] a endossar sanções adicionais ao Irã. Mas sou
cético quanto à possibilidade
de se acrescentar muito às sanções em vigor. Nas três resoluções já adotadas pelo CS, os três
países vieram com um rascunho de punições amplas, depois
limitadas por Rússia e China a
indivíduos e entidades ligados à
área nuclear.
FOLHA - O fato de China e Rússia
terem apoiado a decisão da AIEA indica uma mudança de posição?
LEVERETT - Não no sentido que
os EUA querem, que são sanções que visem setores importantes da economia iraniana,
como finanças, petróleo e gás.
Isso chineses e russos não
devem endossar. Nem China e
nem Rússia têm interesse em
que o Irã se torne uma potência
nuclear. Ambas querem uma
solução pacífica, multilateral,
para o problema, o que as levou
a apoiar a decisão que pede
mais cooperação iraniana.
Mas, quando chega a hora de
opções duras, não comprometem seus próprios interesses
para agradar aos EUA.
FOLHA - O Brasil, que acaba de receber o presidente iraniano, se absteve na AIEA, como África do Sul e
mais quatro países. Isso compromete a posição internacional brasileira?
LEVERETT - O Brasil, como a
África do Sul, tem história nessa questão. São dos poucos países que abriram mão de programas de armas nucleares. Ao
mesmo tempo, como uma espécie de líder dos países não
alinhados, o Brasil tem defendido o que considera o direito
dos países sem armas atômicas
de terem acesso à tecnologia
nuclear civil, incluindo o ciclo
de combustível.
Não me surpreende nem um
pouco a abstenção. Da perspectiva desses Estados, segundo
meu entendimento, houve um
processo em que o Irã esclareceu várias dúvidas sobre seu
programa, exceto um "suposto
estudo" sobre atividades ligadas à produção de armas, citado no relatório da AIEA.
E aí você tem um problema
claro, porque a AIEA não pode
colocar esse estudo que recebeu dos EUA e agências ocidentais na frente do Irã e pedir
que responda.
Claro que a posição brasileira provoca críticas em alguns
círculos americanos, mas não
há muito que os EUA possam
fazer contra o Brasil nisso.
FOLHA - E por que o estudo não pode vir a público?
LEVERETT - A própria direção da
AIEA cobrou isso, mas a alegação é que os EUA e outros países não querem que o Irã veja
as fontes da informação.
FOLHA - Antes da eleição iraniana,
dizia-se que os EUA deveriam buscar
um acordo mais abrangente com o
Irã. Com a eleição e a repressão que
se seguiu, muitos passaram a considerar que isso reforçaria Ahmadinejad. Qual é a sua posição?
LEVERETT - Sou um dos que
acham que qualquer solução
para a questão nuclear iraniana
tem que ser parte de um entendimento estratégico amplo,
particularmente entre o Irã e
os EUA. Os EUA ainda não chegaram a esse tipo de proposta.
Entre [George W.] Bush e [Barack] Obama, abandonamos algumas precondições para o
diálogo, mas não colocamos na
mesa uma proposta nova.
O ministro do Exterior iraniano tem uma frase: "Antes de
eu entrar numa sala, tenho que
saber o que há lá dentro". E, até
agora, os EUA nunca deixaram
claro o que está na sala, qual a
natureza do acordo, da relação
bilateral. Sem isso, será difícil
chegar a uma solução diplomática ao problema nuclear.
Leia a íntegra desta
entrevista
www.folha.com.br/0933113
Texto Anterior: Agência nuclear da ONU condena o Irã Próximo Texto: Frase Índice
|