São Paulo, sábado, 28 de novembro de 2009

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Agência nuclear da ONU condena o Irã

AIEA adota resolução que será encaminhada ao Conselho de Segurança, abrindo caminho para novas sanções contra Teerã

Texto que exige fim das obras em nova central foi votado por 25 dos 35 países membros do conselho do órgão; Brasil se absteve


DA REDAÇÃO

A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) adotou ontem a primeira resolução contra o programa nuclear iraniano desde 2006, abrindo caminho para a imposição de novas sanções do Conselho de Segurança da ONU contra Teerã.
O governo iraniano afirmou que a medida é uma "intimidação" que afetará as negociações com as grandes potências e não o impedirá de continuar enriquecendo urânio.
A resolução foi levada à votação dois meses depois de ter sido revelada a existência de uma central nuclear em construção nos arredores da cidade sagrada de Qom, ao sul de Teerã.
Há suspeitas de que o Irã só anunciou à AIEA (ligada à ONU) que estava construindo a planta depois de descobrir que serviços secretos ocidentais a haviam detectado. Segundo a agência, a construção começou em 2002, e não em 2007, como os engenheiros iranianos relataram aos inspetores que visitaram o local no mês passado.
O texto aprovado ontem exige de Teerã que suspenda imediatamente as obras e explique detalhadamente o propósito da central, cujas fundações estão escondidas numa montanha.
O Irã alega que a central de Qom serve para poder continuar enriquecendo urânio caso a de Natanz, já operacional, seja atacada, e nega acusações de que busca a bomba atômica.
Teerã insiste em que suas centrais servem apenas para produzir energia e negocia há sete anos com as grandes potências uma solução que lhe permita continuar enriquecendo urânio -o que tem direito a fazer sob o Tratado de Não Proliferação Nuclear, desde que em cooperação com a AIEA.
O clima nas conversas sobre o tema se deteriorou depois que Teerã supostamente rejeitou oferta da AIEA pela qual enviaria parte de seu urânio para ser enriquecido fora do país.
O plano, discutido há mais de um mês, prevê que o Irã envie 85% de seu estoque de urânio pouco enriquecido para Rússia e França, onde seria enriquecido um pouco mais e moldado para fins medicinais, em nível inadequado para uma bomba.
O Irã alega ser autor da oferta de mandar urânio ao exterior e diz que o Ocidente se apropriou da ideia para manipulá-la.
A resolução de ontem parece abrir novo capítulo nas conversas. O texto foi aprovado por 25 dos 35 países que integram a mesa diretora da AIEA, com o surpreendente respaldo de dois dos maiores aliados estratégicos de Teerã: China e Rússia.
Três países rejeitaram a moção (Cuba, Venezuela e Malásia) e seis se abstiveram, entre eles o Brasil, que vem intensificando relações com o Irã. O Azerbaijão faltou à votação.
A exemplo do que ocorreu em 2006, o texto da AIEA será encaminhado ao CS da ONU, que decidirá sobre as consequências e poderá adotar, caso não haja recuo iraniano, nova rodada de sanções comerciais e financeiras contra Teerã -as três rodadas anteriores não tiveram o efeito esperado.

"Paciência tem limite"
Os EUA cobraram ontem do Irã que entenda que "a paciência tem limites" e afirmaram que os apoios de Pequim e Moscou evidenciam o crescente isolamento de Teerã.
Não está claro, no entanto, se os governos chinês e russo endossarão eventuais novas sanções propostas pelo CS, onde têm poder de veto.
Os dois países, embora às vezes elevem o tom em relação ao programa nuclear iraniano, geralmente se abstêm de apoiar punições contra o aliado persa.
A embaixada iraniana em Moscou anunciou ontem que receberá dentro de dois meses mísseis russos antiaéreos capazes de dificultar um eventual bombardeio contra o Irã.

Com agências internacionais



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