São Paulo, terça-feira, 28 de dezembro de 2004

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TRAGÉDIA NA ÁSIA

Especialistas afirmam que só parte do turismo terá prejuízos, numa área em que a infra-estrutura só foi ligeiramente atingida

Impacto econômico na região será pequeno

JOHN BURTON
DO "FINANCIAL TIMES", EM CINGAPURA

Os maremotos que devastaram regiões costeiras do sul da Ásia no domingo são um revés para o setor turístico local, no curto prazo, mas seu impacto econômico mais amplo será relativamente pequeno, afirmam os especialistas.
"Se há um ponto positivo no desastre, é o fato de que ele não causou a destruição de quaisquer grandes instalações industriais ou portuárias. A maior parte das áreas afetadas eram marginais em termos econômicos", disse Song Seng Wun, economista que cobre a região para a corretora de valores G. K. Goh, de Cingapura.
Mesmo na zona industrial de Chennai, no sul da Índia, as instalações portuárias afetadas pelo tsunami retomaram a maior parte de suas operações já na segunda-feira, mais cedo do que o esperado, de acordo com a agência de notícias Bloomberg.
Ainda que o epicentro do abalo sísmico que deflagrou o maremoto fique perto da grande usina de gás natural liquefeito em Arun, na ilha indonésia de Sumatra, as instalações aparentemente não sofreram danos, de acordo com executivos da usina.
Os mercados financeiros da região refletiam uma visão cautelosamente otimista na segunda-feira. Embora as ações do setor de turismo tenham caído, no geral os mercados mostraram vigor, com a bolsa tailandesa recuando em apenas 1,1%, e os mercados de Jacarta e Bombaim registrando alta, no dia. A Bolsa de Valores de Colombo (Sri Lanka) ficou fechada como marca de respeito aos milhares de mortos no desastre. As moedas da região caíram, mas não de maneira dramática.
"Duvido que esse desastre leve a cortes nas taxas gerais de crescimento, já que os danos ficaram confinados em larga medida ao setor de turismo", disse Hans Goetti, estrategista de investimento do Citigroup Private Banking, em Cingapura.
Na Tailândia, onde o setor de turismo responde por 6% do Produto Interno Bruto (PIB), a destruição causada em Phuket e outros complexos turísticos no sudoeste do país provavelmente terá apenas impacto de curto prazo sobre o setor, disse ele.
"Para que o setor tailandês de turismo viesse a sofrer perdas significativas, seria necessário que os turistas evitassem toda a Tailândia, pelo ano inteiro, e não acredito que isso seja provável", disse.
De fato, o investimento na reconstrução das instalações turísticas danificadas pode estimular a economia das áreas mais afetadas, ajudando-as a superar quaisquer perdas de receita causada pela redução no turismo.
Mesmo que o sul da Tailândia venha a se recuperar muito lentamente, a região responde por apenas 10% do PIB do país, disse Song, da G. K. Goh.
Economistas em Bancoc prevêem que as conseqüências da calamidade em termos de turismo perdido seriam menos sérias do que as causadas pelo surto de Sars (síndrome respiratória aguda grave), registrado no ano passado, quando o número de visitantes caiu em 7,4%. A Tailândia recebe 12 milhões de turistas por ano.
É provável que o desastre prejudique a retomada do turismo em Sri Lanka, que registrou recorde de visitas, com 500 mil turistas no ano passado, em resposta ao cessar-fogo na guerra de duas décadas entre o governo e os rebeldes do movimento Tigres do Tamil.
Os transportes entre a capital, Colombo, e as praias no sul do país ficaram seriamente prejudicados, e o conserto dos danos pode demorar até um ano.
O turismo é um setor de rápido crescimento na economia do Sri Lanka, em um momento em que a indústria têxtil, principal atividade da ilha, está sob ameaça da supressão das cotas internacionais, a partir de 1º de janeiro.
As ilhas Maldivas talvez tenham sofrido sério abalo no setor de turismo, sua principal atividade econômica, mas a extensão dos danos não é conhecida, e as informações sobre os danos no arquipélago, que se estende pelo oceano Índico e cujo relevo é praticamente plano, ainda são escassas.
John Koldowski, especialista em turismo da Associação de Viagens Ásia Pacífico, sediada em Bancoc, disse, porém, que o setor regional de turismo se recuperaria muito mais rápido do que foi o caso depois dos atentados a bomba em Bali, em outubro de 2002.
A recuperação estará vinculada de maneira quase direta ao tempo que a reconstrução deve demorar e não será afetada por temores psicológicos, disse.
"Se os hotéis recolocarem os quartos em operação e abrirem as portas, com tudo funcionando, vai demorar alguns meses, talvez um ano, para que as coisas voltem ao normal", disse.


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