São Paulo, terça-feira, 28 de dezembro de 2004

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ANÁLISE

EUA devem apoiar luta pela democracia ucraniana

HILLARY RODHAM CLINTON
ESPECIAL PARA O "FINANCIAL TIMES"

Em Washington , a apenas 18 quarteirões da Casa Branca, existe um monumento a Taras Shevchenko, o grande poeta e líder nacional ucraniano, construído em uma era em que a Ucrânia ainda era uma nação cativa. Shevchenko escreveu, certa vez, que "em sua casa você as encontrará, verdade, força e liberdade".
Quando visitei a Ucrânia em novembro de 1997 como primeira-dama dos EUA, me mostraram um monumento a Shevchenko e, depois de vê-lo, declarei que não existe liberdade quando o povo não pode escolher os seus líderes. Também visitei um memorial às vítimas da repressão comunista em Lviv. Após vê-lo, assumi um compromisso com o povo ucraniano, em nome do presidente Bill Clinton: "Em sua luta pela liberdade e pela democracia, o povo dos EUA os apoiará".
Agora, depois de algumas semanas extraordinárias na Ucrânia, o povo ucraniano escolheu seu novo presidente. Os EUA precisam uma vez mais estar ao lado dos ucranianos em sua luta pela verdadeira liberdade e por uma genuína democracia.
Quando estive na Ucrânia, ouvi muitas histórias daqueles que sofreram opressão sob o jugo comunista. No entanto, mesmo diante de horrores indizíveis, o povo ucraniano não desistiu. Hoje, em meio à "revolução laranja", os ucranianos uma vez mais demonstram que não cederão em seu avanço rumo à democracia e à liberdade.
Como aprendemos em nosso país há mais de 200 anos, manter a democracia é uma luta incessante que devemos enfrentar a cada dia. Embora os governos possam colocar em vigor leis que protejam nossas mais caras instituições e liberdades, isso não basta. É preciso existir uma sociedade civil na qual os valores democráticos vivam nas mentes e corações do povo, onde as pessoas se ergam em defesa do que é certo, e onde o domínio da lei, e não o domínio do crime e da corrupção, prevaleça.
Nas últimas semanas, o povo ucraniano demonstrou que a construção dessa sociedade civil está avançando. A recusa de uma eleição de resultados claramente fraudados marca uma momento de inflexão no desenvolvimento da sociedade civil no país.
Enquanto os votos são apurados na Ucrânia, EUA e Europa precisam continuar repetindo uma mensagem consistente a todos os partidos e candidatos da Ucrânia e ao povo ucraniano: a de que o respeito pela democracia e pelo domínio da lei é um fator central para determinar as futuras relações entre o país e o Ocidente.
Se, como esperamos, surgir um consenso de que a eleição foi livre e limpa, a resposta norte-americana ao resultado será crítica. Os EUA deveriam imediatamente avaliar a disposição do governo ucraniano de aderir à Organização para o Tratado do Atlântico Norte (Otan). Os EUA também deveriam concordar em oferecer assistência para o país consolidar o progresso democrático e as reformas econômicas já realizadas.
O mundo testemunhou a manifestação de milhares de ucranianos em Kiev e em todo o país, exigindo o direito de fazer valer seus votos, e determinados a mapear seu futuro, um futuro de integração com a Europa e o Ocidente.
Diante da histórica ocasião que o novo pleito presidencial representa para os ucranianos, os norte-americanos têm por obrigação prometer que estarão ao lado deles, agora e no futuro.


Hillary Clinton, ex-primeira-dama dos EUA, é senadora democrata por Nova York

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