São Paulo, sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Próximo Texto | Índice

Ex-premiê Benazir morre em atentado

Musharraf diz lamentar assassinato, que provoca distúrbios e mais mortes pelo país; suspeitas recaem sobre radicais islâmicos

DA REDAÇÃO

A ex-premiê do Paquistão Benazir Bhutto foi morta ontem em um atentado na cidade de Rawalpindi, próxima à capital do país, Islamabad. O ataque acontece num ano marcado pelo derramamento de sangue causado pela instabilidade política no Paquistão, país que detém a bomba atômica e posição crucial na geopolítica asiática.
Benazir, 54, havia encerrado um comício da campanha para as eleições parlamentares, marcadas em princípio para o próximo dia 8 de janeiro. Testemunhas relatam que ela deixava o parque Liaquat Bagh em um carro cercado por simpatizantes quando alguém se aproximou e disparou contra ela.
A rede de TV CNN conta que Benazir acenava às pessoas através do teto solar do carro no momento dos disparos . Em seguida um homem-bomba se explodiu, matando não só Benazir mas ao menos 22 outras pessoas. Segundo o Ministério do Interior do Paquistão, a causa da morte foi um tiro no pescoço, dado pela mesma pessoa que se explodiu em seguida.
Benazir foi levada ao Hospital Geral de Rawalpindi, onde médicos tentaram reanimá-la por mais de meia hora, segundo o "New York Times". Mas ela foi declarada morta às 18h16 locais (11h16 em Brasília).
"Coloquei minha vida em risco e vim até aqui porque sinto que este país está em perigo. As pessoas estão preocupadas. Vamos tirar o país desta crise", dissera ela no comício.
No final do dia, seu corpo estava sendo transportado para sua cidade natal, Larkana.

Acordo
Adversária política do ditador do Paquistão, Pervez Musharraf, Benazir Bhutto tentava costurar com ele um acordo para que, após as eleições, ocupasse o cargo de premiê sob sua Presidência.
A perspectiva desse acordo, que havia desandado recentemente, fez com que o governo Musharraf a anistiasse e possibilitou sua volta ao Paquistão em outubro último -condenada por corrupção, ela estava exilada no Reino Unido.
Logo no dia de sua volta, 18, ela foi alvo de um grande atentado, em Karachi, que matou 140 pessoas.
Em pronunciamento na TV, Pervez Musharraf pediu ontem calma à população e lamentou o atentado, "uma crueldade que é trabalho dos terroristas com os quais estamos lutando", decretando três dias de luto.
Tendo abandonado o posto de general do Exército no último dia 28 de novembro, após ter seu mandato como presidente renovado pelo Parlamento, Musharraf, que deu o golpe em 1999, tenta acomodar pressões internas de facções islâmicas radicais e de forças pró-democracia. Além disso, é pressionado a prestar conta aos EUA do combate a milícias islâmicas radicais que se abrigam no território do país.
Apesar do apelo de Musharraf e de as forças de segurança terem sido postas em estado de alerta, a morte de Benazir despertou a fúria de simpatizantes, principalmente contra o governo, manifestada em distúrbios que mataram mais 14 pessoas.

Futuro incerto
A primeira grande dúvida que surge com a morte da ex-premiê é acerca da realização das eleições de janeiro. De cara, o PPP perde a figura em torno da qual se unia.
Além disso, o também ex-premiê Nawaz Sharif, que, embora tivesse diferenças com Benazir, é feroz adversário de Musharraf, já pedia ontem a renúncia do ditador e anunciava que seu partido, o PLM-N, boicotará a eleição. Sharif ainda atribuiu a Musharraf "a origem de todos os problemas do país".
Tanto a morte de Benazir quanto a reação de Sharif podem prover um cenário favorável para que Musharraf volte a decretar estado de emergência -que vigorou por seis semanas, até o último dia 15- e suspenda o pleito.

Radicais islâmicos
Apesar de ninguém haver ainda reivindicado a autoria do atentado, as suspeitas recaem principalmente sobre grupos extremistas islâmicos. O jornal britânico "The Guardian" lembra que as posições pró-Ocidente de Benazir faziam dela um alvo para os grupos radicais que atuam no Paquistão.
Depois do atentado frustrado de Karachi, em outubro, o marido de Benazir, Asif Ali Zardari, acusou membros do ISI, o serviço de segurança do Paquistão, por sua autoria. A agência abriga adeptos do islamismo radical, pró-Taleban, e ganhou força no Paquistão sob o governo do general Zia ul Haq, que derrubou o pai de Benazir, Zulfikar Ali Bhutto, do poder em 1977.


Com agências internacionais


Próximo Texto: Poder e suspeitas marcam vida de Benazir
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.