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Ex-premiê Benazir morre em atentado
Musharraf diz lamentar assassinato, que provoca distúrbios e mais mortes pelo país; suspeitas recaem sobre radicais islâmicos
DA REDAÇÃO
A ex-premiê do Paquistão
Benazir Bhutto foi morta ontem em um atentado na cidade
de Rawalpindi, próxima à capital do país, Islamabad. O ataque
acontece num ano marcado pelo derramamento de sangue
causado pela instabilidade política no Paquistão, país que detém a bomba atômica e posição
crucial na geopolítica asiática.
Benazir, 54, havia encerrado
um comício da campanha para
as eleições parlamentares,
marcadas em princípio para o
próximo dia 8 de janeiro. Testemunhas relatam que ela deixava o parque Liaquat Bagh em
um carro cercado por simpatizantes quando alguém se aproximou e disparou contra ela.
A rede de TV CNN conta que
Benazir acenava às pessoas
através do teto solar do carro
no momento dos disparos . Em
seguida um homem-bomba se
explodiu, matando não só Benazir mas ao menos 22 outras
pessoas. Segundo o Ministério
do Interior do Paquistão, a causa da morte foi um tiro no pescoço, dado pela mesma pessoa
que se explodiu em seguida.
Benazir foi levada ao Hospital Geral de Rawalpindi, onde
médicos tentaram reanimá-la
por mais de meia hora, segundo
o "New York Times". Mas ela
foi declarada morta às 18h16 locais (11h16 em Brasília).
"Coloquei minha vida em risco e vim até aqui porque sinto
que este país está em perigo. As
pessoas estão preocupadas. Vamos tirar o país desta crise",
dissera ela no comício.
No final do dia, seu corpo estava sendo transportado para
sua cidade natal, Larkana.
Acordo
Adversária política do ditador do Paquistão, Pervez Musharraf, Benazir Bhutto tentava
costurar com ele um acordo para que, após as eleições, ocupasse o cargo de premiê sob sua
Presidência.
A perspectiva desse acordo,
que havia desandado recentemente, fez com que o governo
Musharraf a anistiasse e possibilitou sua volta ao Paquistão
em outubro último -condenada por corrupção, ela estava
exilada no Reino Unido.
Logo no dia de sua volta, 18,
ela foi alvo de um grande atentado, em Karachi, que matou
140 pessoas.
Em pronunciamento na TV,
Pervez Musharraf pediu ontem
calma à população e lamentou
o atentado, "uma crueldade
que é trabalho dos terroristas
com os quais estamos lutando",
decretando três dias de luto.
Tendo abandonado o posto
de general do Exército no último dia 28 de novembro, após
ter seu mandato como presidente renovado pelo Parlamento, Musharraf, que deu o
golpe em 1999, tenta acomodar
pressões internas de facções islâmicas radicais e de forças
pró-democracia. Além disso, é
pressionado a prestar conta aos
EUA do combate a milícias islâmicas radicais que se abrigam
no território do país.
Apesar do apelo de Musharraf e de as forças de segurança
terem sido postas em estado de
alerta, a morte de Benazir despertou a fúria de simpatizantes,
principalmente contra o governo, manifestada em distúrbios
que mataram mais 14 pessoas.
Futuro incerto
A primeira grande dúvida
que surge com a morte da ex-premiê é acerca da realização
das eleições de janeiro. De cara,
o PPP perde a figura em torno
da qual se unia.
Além disso, o também ex-premiê Nawaz Sharif, que, embora tivesse diferenças com Benazir, é feroz adversário de
Musharraf, já pedia ontem a renúncia do ditador e anunciava
que seu partido, o PLM-N, boicotará a eleição. Sharif ainda
atribuiu a Musharraf "a origem
de todos os problemas do país".
Tanto a morte de Benazir
quanto a reação de Sharif podem prover um cenário favorável para que Musharraf volte a
decretar estado de emergência
-que vigorou por seis semanas,
até o último dia 15- e suspenda
o pleito.
Radicais islâmicos
Apesar de ninguém haver
ainda reivindicado a autoria do
atentado, as suspeitas recaem
principalmente sobre grupos
extremistas islâmicos. O jornal
britânico "The Guardian" lembra que as posições pró-Ocidente de Benazir faziam dela
um alvo para os grupos radicais
que atuam no Paquistão.
Depois do atentado frustrado
de Karachi, em outubro, o marido de Benazir, Asif Ali Zardari, acusou membros do ISI, o
serviço de segurança do Paquistão, por sua autoria. A
agência abriga adeptos do islamismo radical, pró-Taleban, e
ganhou força no Paquistão sob
o governo do general Zia ul
Haq, que derrubou o pai de Benazir, Zulfikar Ali Bhutto, do
poder em 1977.
Com agências internacionais
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