|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PAQUISTÃO CONFLAGRADO
Poder e suspeitas marcam vida de Benazir
Paquistanesa educada no Ocidente manteve influência política após ter sido derrubada duas vezes e acusada de corrupção
Premiê herdou a lealdade do PPP, fundado por seu pai, e levou o partido de volta ao governo após ditadura que o derrubou nos anos 70
Mian Khursheed/Reuters
|
|
Benazir Bhutto discursa durante comício em Rawalpindi pouco antes de ser morta; ela era de novo favorita em eleições no país
DA REDAÇÃO
Vista com simpatia no Ocidente, Benazir Bhutto, 54, era
uma líder política desgastada,
mas ainda muito significativa,
em seu próprio país. Ela fora
duas vezes eleita premiê e duas
vezes derrubada em meio a escândalos de corrupção; até ontem, era novamente uma das
favoritas nas eleições marcadas
para 8 de janeiro.
Benazir nasceu em 21 de junho de 1953 em Karachi, numa
família de políticos tradicionais
no Paquistão - comparáveis,
para o jornal britânico "Financial Times", à dinastia Kennedy
nos EUA. Seu pai, Zulfikar Ali
Bhutto, um político nacionalista -"exibicionista e pró-democracia", segundo o "New York
Times"-, foi premiê do Paquistão entre 1973 e 1977.
O governo de Zulfikar Bhutto
foi derrubado em 1977 por um
golpe do general Mohammed
Zia-ul-Haq. Dois anos depois,
Zulfikar seria executado por
ordem judicial. Antes da morte
do pai, Benazir foi presa por
motivos políticos. Libertada,
seguiu para Londres, só retornando à terra natal em 1986,
prometendo levar o Partido do
Povo do Paquistão (PPP) de
volta ao poder. Ela havia herdado a lealdade a seu pai dentro
do partido, que ele fundou e ela
veio a personificar.
Governo sob suspeita
Em 1988, aos 35 anos, ela
cumpriu sua promessa. A paquistanesa educada em Harvard e Oxford após sair de um
convento em Karachi encantou
o Ocidente ao eleger-se a primeira mulher chefe de governo
de uma nação muçulmana moderna. Substituía o ditador Zia-ul-Haq, morto em circunstâncias suspeitas em um acidente
de avião.
Benazir levou o apoio de
Washington e de Londres ao
Paquistão. Mas seus dois governos -de 1988 a 1990 e de 1993 a
1996- foram dissolvidos por
diferentes presidentes em
meio a acusações de desvio de
dinheiro. Ela enfrentou processos por corrupção não apenas
no Paquistão mas também na
Suíça (que a condenou em
2004 por lavagem de dinheiro),
Espanha e Reino Unido.
Benazir sempre alegou inocência. Após a segunda queda,
ela se impôs um auto-exílio de
oito anos para escapar dos processos, enquanto seu marido,
Asif Ali Zardari, 51 -conhecido
como "Mr. 10%" no Paquistão-, cumpria sete anos de
sentença. Com três filhos, o casal, que possuía casas em Dubai, Londres e Nova York, era
suspeito de ter desviado US$
1,5 bilhão.
Fora do poder
As eleições de 1997 no Paquistão foram um golpe para o
PPP, que perdeu votos para a
ala da Liga Muçulmana liderada por Nawaz Sharif. Ele se tornou premiê pela segunda vez,
mas por pouco tempo: um golpe liderado pelo então general
Pervez Musharraf derrubou
seu governo. Em 2002, Musharraf proibiu um político de
ser premiê três vezes, o que alijava do poder tanto Benazir
quanto Sharif.
O novo governo militar não
facilitou a vida de Benazir e se
recusou inicialmente a retirar
os processos contra ela. Apenas
neste ano, em meio a relatos de
um acordo de divisão de poder
estimulado pelos Estados Unidos, Musharraf a anistiou.
Também poderia ser revisto o
decreto que a impedia de ser
premiê novamente. Em 18 de
outubro último, Benazir voltou
do exílio. Nessa data, um ataque matou 140 simpatizantes.
Até sua morte em um atentado ontem, Benazir liderou o
PPP com mão-de-ferro. Sua ausência abre a questão da sucessão no partido, cuja liderança
poderá ser do político Amin Fahim. Para o analista paquistanês e professor da Universidade Harvard Asim Ijaz Khwaja,
"outro candidato interessante
seria o advogado Aitzaz Ahsan". "Mas ele não planejava
concorrer em janeiro em protesto contra a substituição de
juízes da Suprema Corte e não
está claro se mudará de idéia."
Com agências internacionais
Texto Anterior: Ex-premiê Benazir morre em atentado Próximo Texto: Ao menos 14 morrem em tumultos pelo país Índice
|