São Paulo, sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

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PAQUISTÃO CONFLAGRADO

Poder e suspeitas marcam vida de Benazir

Paquistanesa educada no Ocidente manteve influência política após ter sido derrubada duas vezes e acusada de corrupção

Premiê herdou a lealdade do PPP, fundado por seu pai, e levou o partido de volta ao governo após ditadura que o derrubou nos anos 70

Mian Khursheed/Reuters
Benazir Bhutto discursa durante comício em Rawalpindi pouco antes de ser morta; ela era de novo favorita em eleições no país

DA REDAÇÃO

Vista com simpatia no Ocidente, Benazir Bhutto, 54, era uma líder política desgastada, mas ainda muito significativa, em seu próprio país. Ela fora duas vezes eleita premiê e duas vezes derrubada em meio a escândalos de corrupção; até ontem, era novamente uma das favoritas nas eleições marcadas para 8 de janeiro.
Benazir nasceu em 21 de junho de 1953 em Karachi, numa família de políticos tradicionais no Paquistão - comparáveis, para o jornal britânico "Financial Times", à dinastia Kennedy nos EUA. Seu pai, Zulfikar Ali Bhutto, um político nacionalista -"exibicionista e pró-democracia", segundo o "New York Times"-, foi premiê do Paquistão entre 1973 e 1977.
O governo de Zulfikar Bhutto foi derrubado em 1977 por um golpe do general Mohammed Zia-ul-Haq. Dois anos depois, Zulfikar seria executado por ordem judicial. Antes da morte do pai, Benazir foi presa por motivos políticos. Libertada, seguiu para Londres, só retornando à terra natal em 1986, prometendo levar o Partido do Povo do Paquistão (PPP) de volta ao poder. Ela havia herdado a lealdade a seu pai dentro do partido, que ele fundou e ela veio a personificar.

Governo sob suspeita
Em 1988, aos 35 anos, ela cumpriu sua promessa. A paquistanesa educada em Harvard e Oxford após sair de um convento em Karachi encantou o Ocidente ao eleger-se a primeira mulher chefe de governo de uma nação muçulmana moderna. Substituía o ditador Zia-ul-Haq, morto em circunstâncias suspeitas em um acidente de avião.
Benazir levou o apoio de Washington e de Londres ao Paquistão. Mas seus dois governos -de 1988 a 1990 e de 1993 a 1996- foram dissolvidos por diferentes presidentes em meio a acusações de desvio de dinheiro. Ela enfrentou processos por corrupção não apenas no Paquistão mas também na Suíça (que a condenou em 2004 por lavagem de dinheiro), Espanha e Reino Unido.
Benazir sempre alegou inocência. Após a segunda queda, ela se impôs um auto-exílio de oito anos para escapar dos processos, enquanto seu marido, Asif Ali Zardari, 51 -conhecido como "Mr. 10%" no Paquistão-, cumpria sete anos de sentença. Com três filhos, o casal, que possuía casas em Dubai, Londres e Nova York, era suspeito de ter desviado US$ 1,5 bilhão.

Fora do poder
As eleições de 1997 no Paquistão foram um golpe para o PPP, que perdeu votos para a ala da Liga Muçulmana liderada por Nawaz Sharif. Ele se tornou premiê pela segunda vez, mas por pouco tempo: um golpe liderado pelo então general Pervez Musharraf derrubou seu governo. Em 2002, Musharraf proibiu um político de ser premiê três vezes, o que alijava do poder tanto Benazir quanto Sharif.
O novo governo militar não facilitou a vida de Benazir e se recusou inicialmente a retirar os processos contra ela. Apenas neste ano, em meio a relatos de um acordo de divisão de poder estimulado pelos Estados Unidos, Musharraf a anistiou. Também poderia ser revisto o decreto que a impedia de ser premiê novamente. Em 18 de outubro último, Benazir voltou do exílio. Nessa data, um ataque matou 140 simpatizantes.
Até sua morte em um atentado ontem, Benazir liderou o PPP com mão-de-ferro. Sua ausência abre a questão da sucessão no partido, cuja liderança poderá ser do político Amin Fahim. Para o analista paquistanês e professor da Universidade Harvard Asim Ijaz Khwaja, "outro candidato interessante seria o advogado Aitzaz Ahsan". "Mas ele não planejava concorrer em janeiro em protesto contra a substituição de juízes da Suprema Corte e não está claro se mudará de idéia."


Com agências internacionais


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