|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
A REVOLUÇÃO AOS 50 / O IMPÉRIO E A ILHA
Em equilíbrio precário, Cuba espera Obama
Após transferência formal de poder pacata, ilha paira em suspenso com sua economia encurralada por crise e furacões
Meio século após chegarem ao poder, os Castro podem ter de reinventar sua relação com os EUA; desvio moral e apatia de jovens são desafio
DA REPORTAGEM LOCAL
Com o ensaio reformista de
Raúl Castro na agricultura congelado pelo efeito da crise mundial e dos furacões que levaram
20% do PIB do país neste ano, a
Revolução Cubana completa
50 anos em equilíbrio precário.
O próximo lance no lento xadrez do regime parece ser reagir à posse de Barack Obama
-quer porque ela pode trazer
algum alívio econômico, quer
porque represente um desafio à
identidade do castrismo em si.
Meio século depois de os rebeldes declararem vitória em 1º
de janeiro de 1959, o regime espera o resultado da orquestrada transição do poder das mãos
de Fidel Castro ao irmão, Raúl,
em fevereiro, numa das últimas
ditaduras de Partido Comunista a sobreviver no mundo.
Mas sua economia está acossada. Como não se espera impulso grande da aliada-mor Caracas, às voltas com a queda do
preço do petróleo, uma injeção
maior de dinheiro no país dependerá da liberação de viagens de cubano-americanos à
ilha e do envio de remessas
-promessas de Obama.
Esse passo de Washington, se
vier, exigirá, por sua vez, um reposicionamento também de
Cuba. O presidente eleito dos
EUA será, desde Jimmy Carter
(1977-81), o primeiro ocupante
da Casa Branca a ver nos Castro
possíveis interlocutores.
Ainda que ninguém espere
um encontro em breve, Fidel e
Raúl já acenaram que estão dispostos a negociar. "O principal
legado de Fidel é o nacionalismo cubano nos termos da oposição aos EUA. O desafio crônico do país é superar esse legado", diz Maurício Font, cubano-americano da City University de Nova York. "Cuba conseguirá sair dessa trincheira?"
Outro legado, mais grave e
profundo, também pende neste
cinqüentenário: o que fazer
com o produto do experimento
econômico e social na ilha após
o fim da União Soviética (1991).
Sem o "campo socialista", o
regime optou por criar uma
ilha comunista mutante, combinação de pregação socialista
com a circulação de duas moedas. O modelo permitiu, a princípio, manter os gastos com
saúde e educação, à diferença
do ajuste chinês, mas não evitou a forte divisão na sociedade
entre quem tem acesso à divisa
forte e quem não tem.
Os sem moeda forte foram
empurrados ao mundo ilegal e
ao mercado negro. "Quando a
sociedade cubana será uma sociedade mais reconhecível, na
qual haja mais transparência e
prestação de contas e as pessoas não precisem se engajar
em atividades ilegais para sobreviver? Eu não sei, talvez em
20, 50 anos. É uma grande
questão sociológica", diz Julia
Sweig, especialista em Cuba do
Council on Foreign Relations.
Os jovens, em geral, são os
que mais reagem à situação
com apatia política e cinismo.
"É o mais triste para mim, a vitória em 1959 foi um júbilo nacional. Agora é só desesperança", conta, nostálgica, Marifeli
Pérez-Stable, analista cubano-americana proibida pelo governo de pôr os pés na ilha.
Texto Anterior: Crise ameaça imigrantes asiáticos no golfo Pérsico Próximo Texto: Saiba mais: Bloqueio, de 1962, retaliou expropriações Índice
|