São Paulo, domingo, 28 de dezembro de 2008

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Crise ameaça imigrantes asiáticos no golfo Pérsico

Dubai emprega 3 milhões de indianos e paquistaneses

ROBIN WIGGLESWORTH
DO "FINANCIAL TIMES"

Na periferia de Dubai, nos EAU (Emirados Árabes Unidos), longe das estruturas de vidro e aço inoxidável de bancos e hotéis, trabalhadores indianos, bengaleses e paquistaneses saem cambaleando de ônibus no retorno para casa, em Sonapur, após turnos de 12 horas de trabalho em obras grandiosas.
Em silêncio, eles entram em um dos grandes guetos onde vivem mais de 100 mil empregados e trabalhadores de colarinho azul. Roupas de trabalho molhadas estendidas sobre as grades, e o chão é úmido devido ao esgoto das tubulações.
Apesar das aparências, os salários e as condições de trabalho dos milhões de operários braçais nos EAU vêm melhorando recentemente, mas a crise global ameaça desfazer os avanços conquistados pelas reformas trabalhistas, na medida em que o arrocho do crédito atinge os setores imobiliário e da construção civil no golfo.
Várias obras vêm sendo adiadas ou estão sendo revistas, mas as grandes construtoras dizem que não estão demitindo. Mas Mohinder, fiscal de um campo de trabalhadores, diz que várias empresas dos EAU já começaram a enviar um grande número de trabalhadores de volta à Índia.
Com os mercados de dívidas paralisados e o preço do petróleo em queda livre, muitos projetos de construção em toda a região serão adiados ou cancelados, e especialistas dizem que até mesmo alguns projetos ligados a governos correm perigo.
O problema é especialmente agudo em Dubai, o centro comercial dos EAU, que até há pouco vivia um boom, mas agora sofre o efeito das grandes dívidas do governo e das estatais. Há quase 3 milhões de indianos, bengaleses e paquistaneses vivendo nos EAU, em sua maioria trabalhadores manuais e da construção, segundo a ONG Human Rights Watch.
Os operários compõem a maior parte dos custos das construtoras, e seus empregos são especialmente vulneráveis devido à ausência de proteções ao trabalho. Alguns trabalhadores dizem que já foram instruídos a optar entre aceitar um corte de quase 40% em seus salários ou ser demitidos.
Especialistas avisam que as conseqüências da crise não vão se limitar aos EAU. O retorno a seus países de origem de centenas de milhares de trabalhadores homens jovens pode intensificar tensões nos mercados de trabalho locais.
Ativistas de direitos humanos temem que a queda econômica exacerbe o histórico de algumas empresas do golfo em termos de pagar seus funcionários em dia. Os trabalhadores manuais dos EAU já se rebelaram no passado devido aos salários baixos e aos atrasos.


Tradução de CLARA ALLAIN


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