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Crise ameaça imigrantes asiáticos no golfo Pérsico
Dubai emprega 3 milhões de indianos e paquistaneses
ROBIN WIGGLESWORTH
DO "FINANCIAL TIMES"
Na periferia de Dubai, nos
EAU (Emirados Árabes Unidos), longe das estruturas de vidro e aço inoxidável de bancos e
hotéis, trabalhadores indianos,
bengaleses e paquistaneses
saem cambaleando de ônibus
no retorno para casa, em Sonapur, após turnos de 12 horas de
trabalho em obras grandiosas.
Em silêncio, eles entram em
um dos grandes guetos onde vivem mais de 100 mil empregados e trabalhadores de colarinho azul. Roupas de trabalho
molhadas estendidas sobre as
grades, e o chão é úmido devido
ao esgoto das tubulações.
Apesar das aparências, os salários e as condições de trabalho dos milhões de operários
braçais nos EAU vêm melhorando recentemente, mas a crise global ameaça desfazer os
avanços conquistados pelas reformas trabalhistas, na medida
em que o arrocho do crédito
atinge os setores imobiliário e
da construção civil no golfo.
Várias obras vêm sendo adiadas ou estão sendo revistas,
mas as grandes construtoras
dizem que não estão demitindo. Mas Mohinder, fiscal de um
campo de trabalhadores, diz
que várias empresas dos EAU já
começaram a enviar um grande
número de trabalhadores de
volta à Índia.
Com os mercados de dívidas
paralisados e o preço do petróleo em queda livre, muitos projetos de construção em toda a
região serão adiados ou cancelados, e especialistas dizem que
até mesmo alguns projetos ligados a governos correm perigo.
O problema é especialmente
agudo em Dubai, o centro comercial dos EAU, que até há
pouco vivia um boom, mas agora sofre o efeito das grandes dívidas do governo e das estatais.
Há quase 3 milhões de indianos, bengaleses e paquistaneses vivendo nos EAU, em sua
maioria trabalhadores manuais
e da construção, segundo a
ONG Human Rights Watch.
Os operários compõem a
maior parte dos custos das
construtoras, e seus empregos
são especialmente vulneráveis
devido à ausência de proteções
ao trabalho. Alguns trabalhadores dizem que já foram instruídos a optar entre aceitar
um corte de quase 40% em seus
salários ou ser demitidos.
Especialistas avisam que as
conseqüências da crise não vão
se limitar aos EAU. O retorno a
seus países de origem de centenas de milhares de trabalhadores homens jovens pode intensificar tensões nos mercados de
trabalho locais.
Ativistas de direitos humanos temem que a queda econômica exacerbe o histórico de algumas empresas do golfo em
termos de pagar seus funcionários em dia. Os trabalhadores
manuais dos EAU já se rebelaram no passado devido aos salários baixos e aos atrasos.
Tradução de CLARA ALLAIN
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