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Impelidos pela ausência estatal, garimpeiros sofrem preconceito
THIAGO GUIMARÃES
DA REPORTAGEM LOCAL
Embora a falta de controle
estatal tenha tornado relativamente fácil a entrada de brasileiros na mineração de pequena escala no Suriname, a integração à multiétnica sociedade
local se revela uma tarefa bem
mais difícil, como mostrou o
ataque do último dia 24.
Na capital, Paramaribo, é comum ouvir comentários negativos sobre os imigrantes brasileiros. Os garimpeiros são criticados por não pagarem impostos e por não falarem holandês
(língua oficial) nem sranantongo (dialeto local). Surinameses
criticam as roupas das brasileiras como "indecentes" e setores da mídia ajudam a construir
essa imagem, rotulando brasileiros de ilegais e criminosos.
Quem descreve esse cenário
são as antropólogas holandesas
Marieke Heemskerk e Marjo
de Theije, que entrevistaram
175 garimpeiros brasileiros no
Suriname em estudo publicado
em outubro deste ano.
Apesar de haver registros de
garimpeiros brasileiros no país
desde os anos 1970, esse fluxo
cresceu a partir de 1992, após o
fim da guerra civil de sete anos
que opôs o então governo militar a insurgentes maroons (ou
"marrons", na forma aportuguesada), descendentes de escravos africanos fugidos que
formam o grupo étnico que atacou os brasileiros em Albina.
Foi inclusive um líder maroon que, após a guerra, convidou brasileiros a minerar ouro
em áreas tomadas do governo
no conflito, afirmam Heemskerk e Theije. Apesar de não terem posse formal sobre as terras que usam há séculos, acreditam ser os donos das áreas.
Como a lei de mineração local, de 1986, autoriza a atividade apenas a quem tem concessão, e só surinameses podem
receber essas licenças, toda a
atividade mineira dos brasileiros é praticamente ilegal.
Ausência estatal
Mas a lei historicamente é
pouco aplicada, diz o estudo,
sobretudo pela presença limitada do governo no interior do
país. Um exemplo é a região do
rio Marowijne, onde fica Albina, tomada pela extração artesanal de ouro e que divide o país
com a Guiana Francesa.
"Quase não há polícia, militares ou representantes do governo em áreas de mineração. Ninguém pede documentos quando estrangeiros vendem ouro
ou entram em um avião para
uma área de extração", afirmam Heemskerk e Theije.
Mesmo sem visto ou passaporte, dizem, garimpeiros brasileiros não encontram problemas.
A avaliação é reforçada pelo
senador Eduardo Azeredo
(PSDB-MG), que visitou o Suriname em novembro na primeira missão parlamentar brasileira ao país. "A venda de ouro e de
equipamentos para garimpo é
livre. Falta ação pública efetiva", disse à Folha.
Ainda que brasileiros tenham levado disciplina e tecnologia ao garimpo, e o relativo
isolamento na selva diminua as
diferenças com os maroons, há
conflito de interesses. O estudo
relata dois casos semelhantes
ao ataque de Albina, ocorridos
em 1999 e em 2000, quando garimpeiros brasileiros foram expulsos com violência por maroons após incidentes isolados
entre os grupos.
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