São Paulo, domingo, 29 de janeiro de 2006

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Jihad Islâmico descarta negociar e diz que manterá ataques a Israel

DO ENVIADO ESPECIAL A GAZA

Com a participação vitoriosa do Hamas nas eleições da última quarta-feira, só restou um grupo palestino fora do jogo político e dedicado inteiramente aos ataques terroristas contra Israel, o Jihad Islâmico. Em entrevista à Folha, o líder do grupo em Gaza, Khaled Batish, descartou negociar com Israel e disse que os ataques continuarão.
Acompanhado de um guarda-costas, Batish decidiu conceder a entrevista na sede da agência de notícias palestina Ramattan após mudar o local algumas vezes, por segurança. Vestido sobriamente, com roupas ocidentais, a barba grisalha aparada, Batish disse que as eleições palestinas não deveriam ter ocorrido, pois foram conseqüência do processo criado por acordos com Israel. E explicou a decisão estratégica do Jihad de ficar fora da disputa.
"Essa eleição foi feita sob ocupação, no contexto dos acordos (de paz) de Oslo, que o Jihad Islâmico não aceita. Para ficarmos livres de pressões internacionais e continuarmos a resistência, decidimos não participar", disse Batish, ressaltando que o movimento não é contra eleições, "mas sim contra a ocupação israelense".
A posição de independência do Jihad, grupo menor que o Hamas, porém mais antigo, fundado nos anos 70, em Gaza, o levou a rejeitar a trégua estabelecida no começo do ano passado entre palestinos e israelenses. Desde então, praticou vários atentados em Israel, inclusive o mais recente, em que um homem-bomba deixou cerca de 30 feridos em Tel Aviv, no dia 19 de janeiro.
Perguntado se o grupo planejava continuar com os atentados, Batish preferiu enveredar pela discussão semântica sobre a palavra terrorismo. "Os americanos e seus aliados no mundo usam essa palavra para qualquer movimento que luta pela liberdade. Qualquer um que não concorda com os americanos é alvo da guerra contra o terrorismo. Mas nós sabemos que estamos do lado certo. Por que há resistência? Porque há ocupação. O Jihad não ataca alvos fora da Palestina", disse, antes de responder: "Se a ocupação continuar, os ataques continuarão".
Batish não disse se um dia o grupo aceitará Israel, mas enumerou as condições para pensar em uma solução política: "Se nossos refugiados voltarem para suas casas, se não houver mais ocupação, se nossa cidade sagrada, Jerusalém, estiver em nossas mãos, poderemos pensar em uma solução. Mas é errado falar numa solução (diplomática) enquanto o povo palestino está no deserto". (MN)


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