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Jihad Islâmico descarta negociar e diz que manterá ataques a Israel
DO ENVIADO ESPECIAL A GAZA
Com a participação vitoriosa do
Hamas nas eleições da última
quarta-feira, só restou um grupo
palestino fora do jogo político e
dedicado inteiramente aos ataques terroristas contra Israel, o Jihad Islâmico. Em entrevista à Folha, o líder do grupo em Gaza,
Khaled Batish, descartou negociar com Israel e disse que os ataques continuarão.
Acompanhado de um guarda-costas, Batish decidiu conceder a
entrevista na sede da agência de
notícias palestina Ramattan após
mudar o local algumas vezes, por
segurança. Vestido sobriamente,
com roupas ocidentais, a barba
grisalha aparada, Batish disse que
as eleições palestinas não deveriam ter ocorrido, pois foram
conseqüência do processo criado
por acordos com Israel. E explicou a decisão estratégica do Jihad
de ficar fora da disputa.
"Essa eleição foi feita sob ocupação, no contexto dos acordos (de
paz) de Oslo, que o Jihad Islâmico
não aceita. Para ficarmos livres de
pressões internacionais e continuarmos a resistência, decidimos
não participar", disse Batish, ressaltando que o movimento não é
contra eleições, "mas sim contra a
ocupação israelense".
A posição de independência do
Jihad, grupo menor que o Hamas,
porém mais antigo, fundado nos
anos 70, em Gaza, o levou a rejeitar a trégua estabelecida no começo do ano passado entre palestinos e israelenses. Desde então,
praticou vários atentados em Israel, inclusive o mais recente, em
que um homem-bomba deixou
cerca de 30 feridos em Tel Aviv,
no dia 19 de janeiro.
Perguntado se o grupo planejava continuar com os atentados,
Batish preferiu enveredar pela
discussão semântica sobre a palavra terrorismo. "Os americanos e
seus aliados no mundo usam essa
palavra para qualquer movimento que luta pela liberdade. Qualquer um que não concorda com
os americanos é alvo da guerra
contra o terrorismo. Mas nós sabemos que estamos do lado certo.
Por que há resistência? Porque há
ocupação. O Jihad não ataca alvos
fora da Palestina", disse, antes de
responder: "Se a ocupação continuar, os ataques continuarão".
Batish não disse se um dia o grupo aceitará Israel, mas enumerou
as condições para pensar em uma
solução política: "Se nossos refugiados voltarem para suas casas,
se não houver mais ocupação, se
nossa cidade sagrada, Jerusalém,
estiver em nossas mãos, poderemos pensar em uma solução. Mas
é errado falar numa solução (diplomática) enquanto o povo palestino está no deserto".
(MN)
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