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ELEIÇÃO NOS EUA
Pré-candidato ataca em público o sistema de financiamento de campanhas que ajuda a pagar suas despesas
Kerry critica poderosos, mas aceita doações
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
O pré-candidato democrata
John Kerry defende a reforma do
sistema de financiamento de
campanhas eleitorais nos EUA
desde que disputou um posto no
Senado pela primeira vez (1984).
Contudo, segundo o recém-lançado livro "The Buying of the President, 2004" (a compra do presidente), de Charles Lewis, o homem que, várias vezes, criticou a
influência dos Comitês de Ação
Política sobre o sistema americano começou sua busca pela Presidência criando um CAP.
Em dezembro de 2001, Kerry
criou duas entidades diferentes
-um CAP federal e um comitê
regional-, ambas chamadas
Fundo para o Soldado Cidadão.
Vários políticos influentes, incluindo a maioria dos pré-candidatos à Presidência, são apoiados
por comitês federais. Eles usam
essas entidades para financiar
suas viagens e para obter apoio
político por meio da concessão de
dinheiro a organizações políticas
e a candidatos em todo o país.
Segundo Lewis, os fundos de
Kerry levantaram, até seu fechamento, em 2002, cerca de US$ 1,35
milhão em "soft money" (verba
que, em tese, vai para os partidos,
não para a campanha dos candidatos). Entre os maiores doadores
estão o advogado de Miami Milton Ferrell (US$ 59 mil) e John
Manning, presidente do grupo
Boston Capital (US$ 55 mil).
Embora, oficialmente, os comitês devessem ajudar candidatos
em todo o país, dois terços do dinheiro distribuído pelos dois fundos foram concedidos a candidatos de poucos Estados, incluindo
Iowa, New Hampshire e Carolina
do Sul. Vale lembrar que a candidatura de Kerry só se consolidou
depois que ele obteve ótimos resultados nas prévias dos três Estados, que estiveram entre os primeiros a realizar a votação.
"Kerry quer passar uma imagem que não condiz com suas
ações. Não foi por acaso que ele
usou boa parte do "soft money"
que conseguiu arrecadar nos Estados que realizaram as primeiras
prévias democratas. Ele sabia que
era importante ter um bom começo para viabilizar sua candidatura", afirmou Lewis à Folha.
"Kerry não pára de criticar o
"soft money", mas não deixou de
utilizar as doações. Com isso, fica-se com a impressão de que ele ataca certos grupos de interesse, mas
poderá privilegiar outros, como
as grandes empresas de telecomunicações", acrescentou.
De fato, segundo o Centro por
Integridade Política, que é presidido por Lewis e monitora disputas eleitorais nos EUA desde a década passada, Kerry recebeu, em
seus 20 anos de campanhas, mais
de US$ 232 mil do escritório de
advocacia Mintz, Levin, Cohn,
Ferris, Glovski & Popeo. Este trabalha em muitos casos ligados a
empresas de telecomunicações.
Ademais, o conglomerado Time Warner é o terceiro maior
doador a Kerry (mais de US$ 145
mil). Empresas de mídia já deram
mais de US$ 300 mil ao democrata, segundo o "Boston Globe".
Apenas a Viacom gastou por
volta de US$ 3,2 milhões nas campanhas eleitorais de 2000 e de
2002, sendo que 81% dessa soma
foram destinados a democratas.
"Não quero ver fantasmas onde
eles não existem, mas Kerry votou
a favor da desregulamentação da
mídia em 1996", apontou Lewis.
O pré-candidato democrata argumenta que não mudou seu modo de pensar sobre o financiamento das campanhas nos EUA.
Todavia diz que a abertura dos
Fundos para o Soldado Cidadão
foi necessária para fortalecer seu
partido no Congresso.
"Só mudaremos o modo como
as campanhas são financiadas
quando tivermos uma boa maioria no Congresso. Precisamos
usar todos os meios legais para
ajudar candidatos democratas",
afirmou Kerry no passado.
Segundo Lewis, George W.
Bush e os republicanos são "mestres na arte de arrecadar dinheiro". "Em dez anos, Bush arrecadou cerca de US$ 300 milhões. É
verdade que ele disputou a Presidência em 2000, porém seus números são impressionantes. E
ainda não estamos falando de tudo o que ele arrecadará na atual
campanha eleitoral", avaliou.
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