São Paulo, sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

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Uribe sofre pressão para aceitar mediadores

Relatos sobre a saúde debilitada da refém Ingrid Betancourt fazem aumentar coro de apelos por negociação com as Farc

Sarkozy vê questão de "vida ou morte"; Chávez anuncia que fará nova proposta de mediação; reféns libertados pedem "solução política"

Enrique Hernández/France Presse
Os ex-reféns Gloria Polanco e Luis Eladio Pérez, em Caracas, pedem pelos demais seqüestrados


FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

Os relatos dramáticos sobre o estado de saúde da franco-colombiana Ingrid Betancourt e os apelos de seus familiares, dos reféns recém-liberados e do presidente francês, Nicolas Sarkozy, aumentaram a pressão sobre o presidente Álvaro Uribe para flexibilizar as negociações com as Farc e aceitar a mediação do colega venezuelano, o desafeto Hugo Chávez.
Sarkozy disse ontem que a rápida liberação de Betancourt, seqüestrada há seis anos, é "uma questão de vida ou morte"."Não podemos esperar mais. Peço às Farc que liberem imediatamente Ingrid Betancourt", afirmou.
Sarkozy se dispôs a ir à fronteira da Venezuela com a Colômbia para buscar a ex-candidata à Presidência colombiana, seqüestrada em 2002, se essa for uma exigência das Farc. Em comunicado, o presidente francês fez um apelo para que Chávez use sua influência em nome de Ingrid. O presidente venezuelano foi afastado formalmente das mediações com a guerrilha pelo governo colombiano em novembro.
"A solução é política, senhor presidente Uribe. É preciso fazer algo para salvá-los", disse, em entrevista ontem à noite, em Caracas, o ex-congressista Luis Eladio Pérez, ao lado dos outros três reféns libertados anteontem. Ele afirmou ter uma proposta para Uribe, Sarkozy e Chávez, e que vai aos EUA pedir ajuda na liberação dos demais seqüestrados pela guerrilha -que mantém ainda 39 "reféns políticos". "É preciso salvar todos", afirmou.

Estado de Ingrid
Mais cedo, Sarkozy se disse "horrorizado" com os relatos feitos pelos ex-reféns sobre a situação de Betancourt. Eladio Pérez, que viu Ingrid no dia 4 de fevereiro, afirmou que ela está "muito fragilizada, física e moralmente". Já Gloria Polanco contou que ela tem "uma hepatite B reincidente".
"Se não agirmos rápido, mamãe vai morrer, o ser que mais amo vai morrer", disse Lorenzo Delloye, filho de Ingrid, em Paris. A mãe dela, Yolanda Pulecio, se disse "arrasada".
Ao lado de Delloye, a ex-refém Consuelo González, libertada em 10 de janeiro, pediu, chorando muito, que o governo colombiano e a comunidade internacional ajudem a salvar a ex-candidata presidencial.
O marido da ex-candidata, Juan Carlos Lecompte, descreveu Ingrid "como uma chama que está se apagando".
Eladio Pérez trouxe da selva lembranças preparadas por Ingrid para seus familiares. "Ela me dizia, com uma emoção muito grande, que ficasse tranqüilo, "que já me deram vitaminas, cálcio", que estava buscando recuperar-se um pouco", contou. "[Ela] gritava para mim: "Aproveita cada minuto de liberdade"."

"Grupo de amigos"
Chávez disse que apresentará na cúpula sul-americana de Cartagena (Colômbia), no final de março, uma nova proposta para promover a troca dos 39 reféns "políticos" por 500 guerrilheiros das Farc presos.
"Vou com muito respeito, apesar do que aconteceu, ainda que se molestem." Ele assegurou ter o apoio de Sarkozy, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e dos colegas Cristina Fernández de Kirchner (Argentina) e Rafael Correa (Equador).
Os ex-reféns e os familiares dos seqüestrados têm defendido a intermediação de Chávez, que atravessa grave crise diplomática com Uribe. Na semana passada, o governo colombiano recusou uma proposta franco-brasileira para a criação de um "grupo de países amigos" da Colômbia que incluía a Venezuela. É essa proposta, aparentemente, que Chávez está tentando retomar.
A condição das Farc para a entrega dos demais reféns é a desmilitarização de uma faixa que compreende os municípios de Pradera e Florida, pedido rejeitado por Bogotá. O governo colombiano aceita liberar 500 presos, mas ontem repetiu que a cessão dos dois municípios, localizados perto de Cali, está fora de questão. Como alternativa, propõe uma "zona de encontro" em área despovoada, idéia que a guerrilha rejeita.
"Devemos dar valor à vida, não a um pedaço de terra, a uns quilômetros", disse a ex-refém Gloria Polanco na entrevista de ontem à noite em Caracas.


Com agências internacionais


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