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Uribe sofre pressão para aceitar mediadores
Relatos sobre a saúde debilitada da refém Ingrid Betancourt fazem aumentar coro de apelos por negociação com as Farc
Sarkozy vê questão de "vida ou morte"; Chávez anuncia que fará nova proposta de mediação; reféns libertados pedem "solução política"
Enrique Hernández/France Presse
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Os ex-reféns Gloria Polanco e Luis Eladio Pérez, em Caracas, pedem pelos demais seqüestrados |
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
Os relatos dramáticos sobre
o estado de saúde da franco-colombiana Ingrid Betancourt e
os apelos de seus familiares,
dos reféns recém-liberados e
do presidente francês, Nicolas
Sarkozy, aumentaram a pressão sobre o presidente Álvaro
Uribe para flexibilizar as negociações com as Farc e aceitar a
mediação do colega venezuelano, o desafeto Hugo Chávez.
Sarkozy disse ontem que a
rápida liberação de Betancourt,
seqüestrada há seis anos, é
"uma questão de vida ou morte"."Não podemos esperar
mais. Peço às Farc que liberem
imediatamente Ingrid Betancourt", afirmou.
Sarkozy se dispôs a ir à fronteira da Venezuela com a Colômbia para buscar a ex-candidata à Presidência colombiana,
seqüestrada em 2002, se essa
for uma exigência das Farc. Em
comunicado, o presidente francês fez um apelo para que Chávez use sua influência em nome
de Ingrid. O presidente venezuelano foi afastado formalmente das mediações com a
guerrilha pelo governo colombiano em novembro.
"A solução é política, senhor
presidente Uribe. É preciso fazer algo para salvá-los", disse,
em entrevista ontem à noite,
em Caracas, o ex-congressista
Luis Eladio Pérez, ao lado dos
outros três reféns libertados
anteontem. Ele afirmou ter
uma proposta para Uribe, Sarkozy e Chávez, e que vai aos
EUA pedir ajuda na liberação
dos demais seqüestrados pela
guerrilha -que mantém ainda
39 "reféns políticos". "É preciso
salvar todos", afirmou.
Estado de Ingrid
Mais cedo, Sarkozy se disse
"horrorizado" com os relatos
feitos pelos ex-reféns sobre a
situação de Betancourt. Eladio
Pérez, que viu Ingrid no dia 4
de fevereiro, afirmou que ela
está "muito fragilizada, física e
moralmente". Já Gloria Polanco contou que ela tem "uma hepatite B reincidente".
"Se não agirmos rápido, mamãe vai morrer, o ser que mais
amo vai morrer", disse Lorenzo
Delloye, filho de Ingrid, em Paris. A mãe dela, Yolanda Pulecio, se disse "arrasada".
Ao lado de Delloye, a ex-refém Consuelo González, libertada em 10 de janeiro, pediu,
chorando muito, que o governo
colombiano e a comunidade internacional ajudem a salvar a
ex-candidata presidencial.
O marido da ex-candidata,
Juan Carlos Lecompte, descreveu Ingrid "como uma chama
que está se apagando".
Eladio Pérez trouxe da selva
lembranças preparadas por Ingrid para seus familiares. "Ela
me dizia, com uma emoção
muito grande, que ficasse tranqüilo, "que já me deram vitaminas, cálcio", que estava buscando recuperar-se um pouco",
contou. "[Ela] gritava para
mim: "Aproveita cada minuto
de liberdade"."
"Grupo de amigos"
Chávez disse que apresentará na cúpula sul-americana de
Cartagena (Colômbia), no final
de março, uma nova proposta
para promover a troca dos 39
reféns "políticos" por 500 guerrilheiros das Farc presos.
"Vou com muito respeito,
apesar do que aconteceu, ainda
que se molestem." Ele assegurou ter o apoio de Sarkozy, do
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva e dos colegas Cristina Fernández de Kirchner (Argentina) e Rafael Correa (Equador).
Os ex-reféns e os familiares
dos seqüestrados têm defendido a intermediação de Chávez,
que atravessa grave crise diplomática com Uribe. Na semana
passada, o governo colombiano
recusou uma proposta franco-brasileira para a criação de um
"grupo de países amigos" da
Colômbia que incluía a Venezuela. É essa proposta, aparentemente, que Chávez está tentando retomar.
A condição das Farc para a
entrega dos demais reféns é a
desmilitarização de uma faixa
que compreende os municípios
de Pradera e Florida, pedido rejeitado por Bogotá. O governo
colombiano aceita liberar 500
presos, mas ontem repetiu que
a cessão dos dois municípios,
localizados perto de Cali, está
fora de questão. Como alternativa, propõe uma "zona de encontro" em área despovoada,
idéia que a guerrilha rejeita.
"Devemos dar valor à vida,
não a um pedaço de terra, a uns
quilômetros", disse a ex-refém
Gloria Polanco na entrevista de
ontem à noite em Caracas.
Com agências internacionais
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