São Paulo, quarta-feira, 29 de março de 2006

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EUA

Saída de Card ocorre em meio a pedidos de mudança por republicanos para tentar reverter a queda de popularidade

Sob pressão, Bush troca chefe-de-gabinete

DO "NEW YORK TIMES"

O presidente dos EUA, George W. Bush, anunciou ontem a renúncia de seu chefe-de-gabinete, Andrew H. Card Jr., na primeira grande mudança desde o início do seu segundo mandato, há 14 meses. O substituto será Joshua Bolten, um antigo colaborador do presidente republicano.
Numa breve cerimônia televisionada no Salão Oval da Casa Branca, Bush disse que Card o procurou e "levantou a possibilidade de pedir demissão".
Bush tem sofrido crescente pressão nos últimos meses de membros do seu próprio partido, o Republicano, para realizar mudanças como uma forma de reverter a queda na popularidade.
Muitos republicanos sentiram que são necessárias novas faces no governo, e Bush já deu a entender que promoverá mais mudanças. Card se aproximava do recorde como chefe-de-gabinete há mais tempo no cargo, pertencente a Sherman Adams, no governo do presidente Dwight Eisenhower (1953-61). Esse recorde seria quebrado em setembro.
"Card serviu a mim e a nosso país em momentos históricos, num dia terrível quando a América foi atacada [o 11 de Setembro], durante a recessão e a recuperação econômica, em paz e na guerra", discursou Bush.
Embora muitos dos problemas de Bush estejam relacionados ao Iraque, Card foi considerado o principal culpado pela demora da Casa Branca em reagir ao furacão Katrina e às críticas à venda da administração de portos americanos para uma empresa de Dubai, agora suspensa.
Os republicanos também reclamam cada vez mais sobre a sua percepção de que a Casa Branca perdeu a ousadia política.
A mudança anunciada, porém, deixa incólume Karl Rove, o principal conselheiro político do presidente e vice-chefe-de-gabinete. E não representa infusão de sangue novo, já que Bolten é também um antigo assessor e trabalhou como vice-chefe-de-gabinete de 2001 a 2003, até se tornar diretor de Orçamento da Casa Branca.
Portanto, mesmo se Bolten inaugurar um período de aproximação entre a Casa Branca e o Congresso, como muitos parlamentares esperam, não há indícios visíveis de que essa mudança venha a trazer alterações substanciais de estratégia ou de rumo.
A mudança foi bem recebida pelos parlamentares republicanos. Já os democratas reagiram sem enfocar em Card e em seu substituto, mas nos atuais problemas da Presidência.
O senador democrata Charles E. Schumer disse que a mudança "foi simplesmente o rearranjo das cadeiras do Titanic". Outro senador oposicionista, Richard J. Durbin, afirmou que, "se a Casa Branca está procurando mudar o curso, escolheu a pessoa errada para se livrar".

Perfil
Bush elogiou Bolten como um "homem com larga experiência, que trabalhou no Capitólio, em Wall Street e na Casa Branca", e o descreveu como alguém respeitado no Congresso por governistas e pela oposição.
Bolten falou depois de Bush e disse que assumirá após uma transição de algumas semanas.
Já Card, com lágrimas nos olhos, se virou para Bush e disse: "O sr. é um bom homem, sr. presidente, e faz grandes coisas".
Card atuou sempre de forma discreta. Talvez o meu momento mais visível tenha sido a imagem em que ele sussurra no ouvido de Bush que o segundo avião havia atingido o World Trade Center.


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