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ESTRANHOS NO PARAÍSO
Após comissão derrubar pontos defendidos por conservadores, legisladores discutem proposta de Bush
Senado dos EUA se divide sobre lei que beneficia ilegais
RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL
O Senado dos EUA começou
ontem a debater uma lei que pode
beneficiar mais de 12 milhões de
imigrantes ilegais que vivem no
país, dando início a uma negociação que deve se alongar por duas
semanas. Na véspera, o texto havia sido aprovado pela Comissão
de Justiça da Casa após algumas
mudanças.
As alterações defendem o aumento da vigilância nas fronteiras
e aceleram os trâmites para a deportação de ilegais, mas facilitam
a legalização dos sem-papéis, desde que paguem uma multa e impostos atrasados, tenham trabalho fixo e estejam aprendendo inglês. Depois de seis anos, teriam a
residência permanente. O projeto
também prevê programas para
imigrantes temporários "convidados" ("guest workers").
Essa é a maior vitória dos movimentos de imigrantes desde o 11
de Setembro, quando aumentaram os controles de fronteiras e
qualquer programa de legalização
ou anistia a ilegais se tornou hipotético. Antes da aprovação, passeatas em defesa da lei reuniram
milhares de pessoas em algumas
das principais cidades do país.
Ainda assim, republicanos e democratas estão divididos. Republicanos conservadores apelidaram as alterações no projeto de
"anistia disfarçada".
O projeto de lei aprovado em
dezembro pela Câmara previa criminalizar a imigração ilegal. Não
só com punições aos sem-papéis,
que seriam criminosos em vez de
contraventores, mas também aos
empresários e até organizações
religiosas que contratassem ou
abrigassem imigrantes ilegais.
A nova lei também determinava
a ampliação do muro que divide
trechos da Califórnia com o México, dos atuais 180 quilômetros de
extensão para mais de mil (um
terço da fronteira), além de criar
um "muro virtual" com sensores
e câmeras de vigilância.
Esses pontos mais polêmicos
devem ser a tônica dos debates no
Senado. O assunto será um dos
grandes temas das próximas eleições legislativas, em novembro.
Há pressões de vários Estados
americanos que acusam os imigrantes de tomarem empregos de
americanos para frear os fluxos
imigratórios.
Ao saber das mudanças aprovadas pela comissão, o presidente
americano, George W. Bush, afirmou que um programa de vistos
temporários "é vital para a segurança de nossas fronteiras, uma
via legal para aqueles que vêm trabalhar e que reduz o número dos
que entram clandestinamente".
Bush está em situação desconfortável. Por um lado, não pode
parecer "fraco" ou muito permissivo diante de um tema tão caro a
e ele como a segurança das fronteiras. Por outro, teme ser alvo da
fúria dos latinos, já a maior minoria do país, com 35 milhões de
pessoas -44% deles votaram por
sua reeleição.
Para o diretor-executivo da organização não-governamental
Latino Issues Forum, Luis Arteaga, filho de mexicanos nascido em
San Francisco, houve uma mobilização sem precedentes da comunidade latino-americana nos
Estados Unidos. "A nova lei pode
criar imigrantes de primeira e segunda-classe na mesma família.
Trabalhadores mais velhos e com
salários baixos dificilmente terão
tempo, dinheiro ou possibilidade
de aprender inglês. É discriminatória", acusa.
"Coisas nada elegantes ou diplomáticas têm sido ditas sobre os
imigrantes nas últimas semanas.
Só que o presidente vai precisar
dos latinos se quiser continuar
viável ou recuperar sua popularidade". Em vários Estados americanos, novas leis foram aprovadas
recentemente negando acesso à
educação, à saúde e até a carteira
de habilitação para os imigrantes
sem papéis e seus descendentes.
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