São Paulo, quinta-feira, 29 de março de 2007

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análise

Crise revela divisão no poder iraniano

ANGUS McDOWALL
DO "INDEPENDENT", EM TEERÃ

Os membros da Guarda Revolucionária e seus defensores radicais que estão por trás da atual crise representam apenas uma facção da direção iraniana, mas conseguiram fazer a política externa do país de refém. Tirando vantagem das divisões internas do Estado iraniano, os guardas revolucionários criaram um fato consumado, forçando o governo a adotar uma posição da qual será difícil retroceder. Muitos desses guardas querem ver o Irã adotar uma posição mais agressiva contra o Reino Unido e os EUA.
A confusão é provocada pelo sistema político incomum do Irã, que combina elementos democráticos, tais como um presidente e um Parlamento eleitos, com o governo teocrático de um líder supremo. Na prática, isso significa que as decisões raramente são tomadas por uma única pessoa: elas são disputadas e discutidas por uma multidão de facções políticas e interesses diversos, incluindo lideranças religiosas, políticos eleitos, comerciantes ricos -e militares.
Analistas acreditam que o confronto mais recente nasceu do desejo de mostrar que o Irã pode reagir, apesar de ter sido submetido a sanções por seu programa nuclear. Em função do feriado prolongado do Ano Novo local, não há jornais disponíveis no Irã há mais de uma semana.
Analistas dizem que esse blecaute de mídia se deve ao fato de que os líderes principais do regime não querem encurralar-se, fazendo declarações inflamadas ou prometendo adotar ações determinadas. Especula-se que a decisão de transmitir as imagens dos marinheiros britânicos foi tomada em retaliação à decisão britânica de congelar todos os intercâmbios diplomáticos não ligados ao caso.
A grande pergunta é se os guardas tiveram do aitolá Ali Khamenei, líder religioso supremo, aval para capturar os britânicos e exibir as imagens. Na semana passada, Khamenei proferiu um discurso incomumente intransigente, prometendo opor resistência aos inimigos do Irã, o que pode ter sido interpretado pelos guardas como farol verde para agir contra as forças britânicas.


Tradução de CLARA ALLAIN


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