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No Chile, Lula defende "Estado forte" e incomoda americano
Em cúpula, presidente diz que mundo paga por transformação da economia em cassino; vice de Obama o contradiz e afirma que "livre mercado ainda é necessário"
ELIANE CANTANHÊDE
ENVIADA ESPECIAL A VIÑA DEL MAR
Em dois discursos na 6ª Cúpula de Líderes Progressistas,
realizada ontem em Viña del
Mar (Chile), o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva incomodou
a delegação americana ao defender, a cinco dias da cúpula
do G20, "um Estado forte" e dizer que "o mundo está pagando
o preço do fracasso de uma
aventura irresponsável daqueles que transformaram a economia mundial em um gigantesco cassino".
Ao discursar logo depois, o
vice-presidente dos EUA, Joe
Biden, discordou abertamente
da posição de Lula. Segundo
ele, o seu país está disposto a
reduzir o risco sistêmico dos
mercados globais, mas um excesso de regulamentação pode
prejudicar os mercados saudáveis. "Nós não devemos exagerar. O livre mercado ainda precisa estar apto a funcionar. A
mim parece que nós devemos é
salvar os mercados dos "livre
mercadistas'", disse Biden.
Ele, aliás, inviabilizou a divulgação de uma nota final conjunta da Cúpula de ontem, alegando que não tinha aval do
presidente Barack Obama para
subscrever textos de caráter
político. A nota acabou sendo
insossa e burocrática.
Ao voltar a falar, Lula desprezou o texto escrito e optou pelo
improviso, cobrando ainda
mais duramente a responsabilidade dos países ricos. Chamando às vezes os demais líderes pelo nome, ele disse que os
ricos precisam recuperar confiança e capacidade de crédito
interno e provocou: "Não queremos que comece a cair primeiro-ministro e presidente
pelo mundo afora".
Em compensação, Lula defendeu a região: "A América Latina vive uma vigorosa onda de
democracia popular", disse.
Numa defesa indireta de processos classificados como "populistas" na Venezuela, na Bolívia e no Equador, por exemplo,
disse que "muitos desses países
precisaram ser praticamente
refundados do ponto de vista
institucional, com aprovação
de novas Constituições".
Lula também bateu nos banqueiros e em seus antecessores.
Disse que era "humilhação" o
FMI afirmar o que o Brasil tinha de fazer e acusou: "Nossos
dirigentes não se respeitavam".
Aproveitou para defender os
programas de transferência de
renda brasileiros e o PAC (Plano de Aceleração do Crescimento), principal plataforma
do governo para impulsionar a
candidatura da ministra Dilma
Rousseff em 2010.
Sob aplausos, Lula ironizou
ainda "os yuppies de 30 anos
que davam palpite sobre a Bolívia e nem sabiam onde era a Bolívia". E pediu que o premiê britânico, Gordon Brown, mandasse um recado para o G20,
que se reúne na próxima quinta
em Londres: além de um "projeto progressista" para os organismos multilaterais, deve-se
discutir o mercado futuro de
petróleo e de commodities, para evitar especulação.
Fundo de petróleo
Em rápida entrevista a jornalistas noruegueses, Lula disse
que o seu governo estuda a possibilidade de adaptar para o
Brasil o modelo do Fundo do
Petróleo da Noruega, uma espécie de fundo de pensões que
aplica recursos provenientes
da produção para garantir o
"bem-estar das futuras gerações", principalmente um bom
sistema de previdência do país.
Em alusão à descoberta do
pré-sal, jazidas de grande profundidade no litoral entre Santa Catarina e Espírito Santo,
Lula disse: "Agora que encontramos muito petróleo no Brasil, estamos muito interessados
em conhecer o Fundo do Petróleo na Noruega, para que a gente possa criar algo que tenha similaridade, para que a gente
utilize as riquezas do petróleo
para ajudar a nossa gente".
A Noruega é o terceiro maior
exportador de petróleo do
mundo e tem uma empresa
100% estatal para o setor, a Petoro, que destina recursos ao
fundo. Administrado pelo Banco Central, esse fundo investe
em empresas e Bolsas em diferentes continentes, inclusive a
América. Antes de perdas estimadas em US$ 90 bilhões, por
causa da crise, seu capital estava próximo de US$ 400 bilhões.
Participaram da cúpula os
presidentes Lula, Michelle Bachelet (Chile), Cristina Kirchner (Argentina), José Luiz Zapatero (Espanha) e Tabaré
Vazquez (Uruguai), além de Biden e dos premiês Brown e
Jens Stoltenberg (Noruega).
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