São Paulo, sábado, 29 de abril de 2006

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"EIXO DO MAL"

Relatório da AIEA afirma que iranianos aceleraram enriquecimento de urânio em lugar de interrompê-lo

Irã desafia ultimato; ONU estuda sanções

Louisa Gouliamaki/France Presse
Em Atenas, manifestante critica a possível ação contra o Irã


DA REDAÇÃO

O Irã acelerou o enriquecimento de urânio em lugar de interrompê-lo, num claro desafio ao ultimato do Conselho de Segurança da ONU, disse ontem a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), entidade da ONU para questões nucleares.
É o que diz o relatório do diretor daquela agência, Mohamed El Baradei, para quem o país islâmico não fornece informações que atenuem as suspeitas de que ele quer chegar às armas nucleares.
"Depois de mais de três anos de esforços da agência para esclarecer aspectos do programa nuclear iraniano, as dúvidas a seu respeito continuam a ser objeto de preocupações", disse El Baradei.
"Qualquer evolução nessa questão exige total transparência e uma ativa cooperação do Irã", o que não vem ocorrendo, disse.
O relatório coloca a crise iraniana em novo patamar e abre a possibilidade de o Conselho de Segurança adotar sanções, o que não ocorreria imediatamente.
George W. Bush declarou que "a intransigência iraniana é inaceitável". Mas deixou claro que pretende lidar com a crise no plano diplomático. "A diplomacia apenas começou." O presidente americano também disse que os iranianos devem compreender o desejo internacional de "convencê-los pacificamente a abrir mão de suas ambições bélicas".
O CS havia dado um prazo de 30 dias para que o Irã cessasse a produção de combustível nuclear. O prazo expirou ontem. O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, lançou um desafio. "Aqueles que querem bloquear os iranianos de exercer seus direitos devem saber que não ligamos para essas resoluções", afirmou.
A exemplo de Bush, as reações deixaram explícita a opção pelas negociações diplomáticas e minimizam a alternativa de um bombardeio do Irã que destruiria suas instalações nucleares.
O ministro britânico das Relações Exteriores, Jack Straw, disse que seu governo pedirá ao Conselho de Segurança que aumente as pressões sobre o Irã.
O ministro francês do Exterior, Philippe Douste-Blazy, qualificou a situação de "preocupante". Mas disse que "as portas das negociações permanecem abertas".
O vice-ministro russo do Exterior, Serguei Kiskyak, afirmou que "estudaria atentamente" o relatório da AIEA antes de tomar uma decisão. Wang Guangya, embaixador chinês na ONU, afirmou que "há muitos problemas na região". "Devemos nos esforçar para que a situação não se torne ainda mais complicada."
Há uma diferença de tonalidade entre, de um lado, os Estados Unidos, o Reino Unido e a França, e, de outro, a Rússia e a China, membros permanentes do Conselho de Segurança. Os russos e os chineses querem por todos os meios evitar sanções que prejudiquem os contratos que têm no Irã.
Há, mesmo assim, um consenso por enquanto difuso de que alguma forma de resposta precisa ser dada. Pequim e Moscou são advogados de um cliente difícil, intransigente e arrogante. O Irã tem reagido como se as Nações Unidas fossem uma organização manipulada por interesses americanos.
Javad Zarif, embaixador iraniano na ONU, disse ontem que não se curvaria às pressões: "Nossas atividades nucleares são pacíficas". O enriquecimento de urânio produz combustível para centrais termoelétricas. Mas, dependendo do grau de enriquecimento, pode se tornar matéria-prima para ogivas nucleares.

Com agências internacionais

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