|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ARTIGO
O fim da Guerra Fria
TONY BLAIR
Não existe símbolo melhor de como o nosso mundo mudou desde o final da Guerra Fria do que o encontro de líderes mundiais promovido em Roma (Itália) nesta semana para criar o Conselho Otan-Rússia.
Vale relembrar que a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) foi criada, anos atrás, exatamente para combater o que era visto como a ameaça da União Soviética.
Assim, a idéia de que o presidente russo pudesse se sentar à
mesa com os líderes dos 19 países-membros da aliança militar ocidental, como parceiro em pé de igualdade para discutir desafios
comuns à paz e à segurança, mostra o quanto o mundo avançou
nesses últimos 15 anos.
A primeira sessão do Conselho
Otan-Rússia é um avanço extremamente importante e que só vai
ajudar a tornar mais seguro o nosso mundo.
Ela fixa um novo nível de cooperação para enfrentarmos as
ameaças do século 21 à nossa segurança, à nossa paz e à nossa
prosperidade comum -ameaças
como o terrorismo internacional- e cria uma nova estrutura
formal que possibilita a tomada
de decisões e ações conjuntas para fazer frente a esses desafios.
Tenho orgulho do papel exercido pelo Reino Unido em ajudar a
moldar essa nova iniciativa, mas
ela não tem nenhum autor único.
Esse primeiro encontro -e tudo
o que vai sair dele- é o resultado
de um consenso claro e amplo.
Muitos países, incluindo -como não poderia deixar de ser- a
própria Rússia, vêm discutindo
ativamente quanto todos temos a
ganhar com o aumento da cooperação e da parceria entre nós e como melhor podemos chegar a esse resultado.
A tragédia de 11 de setembro fez
todos nós lembrarmos que, apesar da transformação nas relações
entre Ocidente e Oriente, ainda
temos desafios novos e perigosos
pela frente.
Também nos demos conta de
que a Otan e a Rússia podem enfrentar essas ameaças comuns de
maneira mais eficaz se os dois
juntarem os seus recursos e começarem a trabalhar juntos.
O novo conselho não é um espaço apenas para conversas. É um
lugar onde o ideal da cooperação
em questão de segurança será
concretizado. Pela primeira vez, a
Rússia tomará seu lugar como
parceira plena e igual.
É uma mudança profunda em
relação aos vínculos que já existem entre a Otan e a Rússia, vínculos que, eles próprios, teriam sido vistos como inacreditáveis
apenas uma década atrás.
O novo conselho de 20 membros vai lançar as bases para uma
cooperação ampla, sobre uma larga gama de questões.
E, o que é importante, quando
decisões conjuntas tiverem sido
alcançadas pelo consenso, todos
os membros do Conselho Otan-Rússia terão de se pautar por elas.
Isso vai exigir uma mudança de
mentalidade da parte de todos
nós, um novo nível de confiança e
a disposição de união e de cumprimento das políticas comuns
acordadas pelos 20 países.
O novo Conselho Otan-Rússia
certamente resultará numa cooperação militar maior. Na verdade, esse é um dos objetivos da iniciativa.
E essa iniciativa vai começar
com um programa de trabalho
ambicioso, incluindo a cooperação no combate ao terrorismo, na
administração de crises, na não-proliferação nuclear e no atendimento a emergências civis.
Espero sinceramente que possamos rapidamente ampliar essa
pauta de prioridades inicial. Faremos isso enquanto o relacionamento e os hábitos de cooperação
forem se desenvolvendo.
Estou confiante de que esse
acordo fornecerá a estrutura
apropriada para uma nova parceria entre os nossos países.
O desafio agora será assegurar
que o potencial total dessa nova
parceria seja realizado.
O novo conselho não vai substituir o Conselho do Atlântico Norte. A Rússia não vai ingressar na
Otan e não poderá vetar o direito
de decisão e de ação independentes da Otan.
A Otan vai continuar a cumprir
seu papel vital de garantir a segurança na Europa e de ser a principal plataforma multilateral das relações transatlânticas.
Essa transformação das relações
da Otan com a Rússia demonstra
não apenas que a Otan mantém
sua importância intacta, mas
também sua capacidade de se
adaptar às mudanças no ambiente de segurança. Estou certo de
que haverá obstáculos a superar,
desconfianças antigas a colocar de
lado. Mas, com base nas conversas que mantive com meus colegas líderes durante os preparativos para essa importante reunião,
sei que existe uma enorme determinação conjunta de aproveitar a
oportunidade que se apresenta à
nossa frente.
Vista em conjunto com o acordo entre os Estados Unidos e a
Rússia sobre a redução das armas
estratégicas, acredito que a primeira reunião do Conselho Otan-Rússia realmente marca o fim da
Guerra Fria.
Essa reunião assinala o momento em que antigos inimigos se tornam amigos inequívocos.
Tony Blair é primeiro-ministro do Reino
Unido.
Tradução de Clara Allain
Texto Anterior: Multimídia: Acordo é rendição, diz mídia russa Próximo Texto: Oriente Médio: Palestinos matam 4 colonos na Cisjordânia Índice
|