São Paulo, sábado, 29 de maio de 2004

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IRAQUE OCUPADO

Iyad Allawi, que trabalhou para a CIA, comandará governo interino; escolha gera dúvida sobre independência

Aliado dos EUA é indicado para premiê

DA REDAÇÃO

Iyad Allawi, um ex-membro do partido Baath (do ex-ditador Saddam Hussein) que trabalhou para a CIA (agência de espionagem dos EUA), foi escolhido ontem para o cargo de premiê do Iraque após a transferência de soberania, marcada para 30 de junho.
Allawi deverá liderar o país até a realização de eleições livres, no ano que vem. Os 25 membros do Conselho de Governo Iraquiano, que foram apontados pelos EUA, escolheram de modo unânime o neurologista xiita durante uma reunião da qual também participou o chefe da Autoridade Provisória da Coalizão, o americano Paul Bremer.
Allawi não comandará um Estado realmente soberano, já que forças militares estrangeiras, sobretudo dos EUA, deverão permanecer no país por muito tempo após a transferência de poder.
Não ficou claro se o enviado especial da ONU ao Iraque, Lakhdar Brahimi, a quem os EUA pediram que ajudasse na formação do novo governo iraquiano, e Washington tiveram influência na escolha de Allawi, que muitos iraquianos vêem como alguém que não é digno de confiança.
Segundo Mahmoud Othman, membro do Conselho de Governo Iraquiano, a ONU e os EUA apoiaram a decisão. "Tivemos uma reunião com Bremer e com Brahimi. Eles se mostraram contentes com nossa decisão e cumprimentaram Allawi", afirmou.
Porém a posição de Brahimi não ficou clara. Seu porta-voz no Iraque, Ahmad Fawzi, disse que o enviado da ONU tinha considerado a escolha "bem-vinda". Mas Fred Eckhard, porta-voz da ONU, afirmou, em Nova York, que Brahimi "respeita a decisão e está pronto para trabalhar" com Allawi. Mas Eckhard salientou que o processo não se desenvolveu como a entidade "esperava".
Um porta-voz dos EUA chegou a dizer que Allawi fora indicado por Brahimi, mas a ONU não confirmou essa informação.
Allawi terá a seu lado outras 29 autoridades. Nos próximos dias, Brahimi deverá anunciar os nomes do futuro presidente (sunita), os de seus dois vice-presidentes e os dos 26 ministros que comporão o gabinete interino.
O principal desafio de Allawi é a realização de eleições legislativas em janeiro de 2005, segundo proposta americana.
"Não sei nada sobre Allawi. Ele viveu muito tempo fora. Precisamos de alguém que vivia aqui para tirar o país da crise", disse o gerente de um hotel em Bagdá.
Allawi é parente de Ahmad Chalabi, um ex-favorito do Pentágono que caiu em desgraça e era visto como a primeira escolha de Washington para comandar o Iraque. Um primo de Allawi, Ali Allawi, é o ministro da Defesa.
Allawi, nascido em 1945, também é um empresário bem-sucedido. Passou muitos anos no exterior e tornou-se inimigo do regime de Saddam. Em 1990, ele formou o Acordo Nacional Iraquiano, partido apoiado pela CIA e pelos serviços de espionagem britânicos. A polícia secreta iraquiana tentou matá-lo perto de sua casa, em Londres, em 1978, quando ele mantinha laços com o serviço secreto britânico, de acordo com um livro escrito pelos especialistas em Iraque Andrew Cockburn e Patrick Cockburn.

Nova resolução da ONU
A proposta de resolução anglo-americana sobre o Iraque continua sendo negociada no Conselho de Segurança da ONU. Ela será vital para a definição do grau de poder que terá o governo interino iraquiano. Segundo o presidente George W. Bush, houve "progresso" nas negociações ontem.
Alguns líderes iraquianos e países como a França, a Rússia e a China pressionam Washington a aceitar que o texto dê mais poder aos iraquianos, sobretudo no que concerne às tropas estrangeiras.


Com agências internacionais


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