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COMENTÁRIO
Escolha deve gerar problema
PATRICK COCKBURN
DO "INDEPENDENT"
A escolha de Iyad Allawi, ligado
à CIA e, anteriormente, ao MI6
(serviço secreto britânico), para
ser o premiê do Iraque fará que
seja difícil para os EUA e o Reino
Unido convencerem o restante do
mundo de que ele é capaz de liderar um governo independente.
Allawi é um xiita que foi membro ativo do partido Baath, de
Saddam Hussein, no Iraque e no
Reino Unido, onde foi líder estudantil com ligações com a inteligência iraquiana. Mais tarde, ele
passou a integrar a oposição ao líder iraquiano e, ao que consta, teria criado um vínculo com os serviços de segurança britânicos.
A mudança de lealdade fez que
Allawi se tornasse alvo da inteligência iraquiana.
Em 1978, agentes
armados com facas e machados o
feriram gravemente quando ele
dormia em sua casa, em Londres.
Formado em
medicina, Allawi
tornou-se um empresário com
bons contatos na
Arábia Saudita.
Ele era charmoso,
inteligente e tinha
o dom de dar boa
impressão às
agências de inteligência ocidentais. No período que se seguiu à
Guerra do Golfo, em 1991, seu
Acordo Nacional Iraquiano
(ANI) tornou-se uma das bases
do movimento oposicionista iraquiano no exílio. Ele era visto como fator de atração de ex-oficiais
militares iraquianos e políticos do
partido Baath, especialmente sunitas, fugidos do Iraque.
Em meados dos anos 90, o ANI
afirmou ter contato com muitos
oficiais iraquianos. Allawi começou a afastar-se da órbita do MI6,
que o recomendou à CIA. Ele convenceu seus novos superiores de
que estava em condições de organizar um golpe em Bagdá.
Em 1996, com apoio americano,
britânico e saudita, Allawi abriu
um quartel-general e uma estação
de rádio em Amã, na Jordânia, declarando que aquele era ""um momento histórico para a oposição
iraquiana". Mais tarde, altos oficiais jordanianos disseram ter
pensado que o ANI e seus supostos contatos no Iraque tinham sido infiltrados pelo serviço de inteligência de Saddam.
Foi um golpe muito estranho.
Se havia em Bagdá alguma dúvida
sobre o que estava acontecendo,
Allawi a eliminou quando concedeu a um jornal americano uma
entrevista anunciando que ""o levante devia ter em seu próprio
centro as Forças Armadas". Houve prisões em massa em Bagdá. O
primeiro-ministro jordaniano da
época, Abdul Karim al Kabariti,
disse que as redes do ANI eram
""repletas de agentes dos serviços
de segurança do Iraque".
Allawi e o ANI
retornaram ao
Iraque após a queda de Saddam e
abriram escritórios em Bagdá e
em antigas sedes
do partido Baath
espalhadas pelo
Iraque. Havia
poucos indícios
de que contassem
com algum apoio
popular.
Durante um levante ocorrido no
ano passado, na
cidade de Baiji, ao
norte de Bagdá, a multidão imediatamente ateou fogo ao escritório do ANI.
Allawi chefiou o Comitê de Segurança do Conselho de Governo
Iraquiano e se opôs à dissolução
do Exército feita por Paul Bremer,
o representante dos EUA no Iraque. Como protesto, ele chegou a
deixar a chefia do comitê durante
o ataque americano a Fallujah, em
abril passado.
O problema para os EUA e o
Reino Unido é que, se Allawi se
tornar primeiro-ministro, a fama
que ele tem entre os iraquianos
por ter trabalhado, inicialmente,
com os serviços de inteligência de
Saddam e, em seguida, com o MI6
e a CIA fará que lhes seja impossível aceitá-lo como líder de um Iraque independente.
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