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entrevista
"Chávez quer um blecaute informativo"
DE CARACAS
Depois da RCTV, as atenções do governo Hugo Chávez se concentram no único
canal independente que restou na Venezuela, a emissora
de notícias Globovisión.
Para o ministro das Comunicações, Willian Lara, a Globovisión incitou o assassinato de Chávez ao mostrar a
tentativa de assassinato do
papa João Paulo 2º com a
música "Isto não termina
aqui", de Rubén Blades. Já a
diretora de Responsabilidade em Rádio e Televisão do
Ministério das Comunicações, María Eugenia Díaz,
acusou a Globovisión de "incitar o ódio" e ameaçou tirá-la do ar por 72 horas por ter
transmitido uma entrevista
com um diretor da Sociedade
Interamericana de Imprensa
(SIP), na qual ele chama
Chávez de "tirânico".
À Folha, o diretor-geral da
Globovisión, Alberto Federico Ravell, acusou o governo
Chávez de tentar um "blecaute informativo". Com
cerca de 450 funcionários, a
emissora só funciona em sinal aberto em duas cidades
no país -no restante da Venezuela, chega por cabo.
Ontem, as ameaças do governo Chávez contra a Globovisión provocaram um ato
de apoio com milhares de
pessoas diante dos portões
da emissora. Leia trechos da
entrevista, concedida na sede do canal, resguardado por
dez militares da Guarda Nacional.
(FM)
FOLHA - A Globovisión incitou o
magnicídio e violou a lei?
ALBERTO FEDERICO RAVELL - No
tema do magnicídio, é por
transmitirmos umas imagens do papa. É como ser
acusado de incitar o sexo por
transmitir um concurso de
beleza. A segunda acusação é
pelas declarações dadas por
um diretor da SIP. Nós estávamos ao vivo e não sabíamos o que ele ia dizer, nesse
caso. Em terceiro, as imagens de violência não são para alarmar, mas para alertar
os cidadãos. O governo quer
um blecaute informativo no
país. Sabemos que estamos
na mira, e isso não implica
que vamos mudar. Talvez o
governo já tenha tomado
uma decisão e já estejamos
nas últimas horas. Mas nós
não vamos nos ajoelhar.
FOLHA - O que houve com a Venevisión, que praticamente ignorou o fechamento da RCTV?
RAVELL - Talvez o encarregado de informação tenha considerado que a notícia do fechamento da RCTV não era
importante e, por isso, não
transmitiram nada.
FOLHA - Como está o país hoje?
RAVELL - Numa tensa calma,
muitos distúrbios nas universidades, ameaças pelo ministro Lara aos meios. Ele
acredita que nos vai silenciar. E a única forma de nos
silenciar é como fizeram com
a RCTV, fechando-nos e tomando as instalações.
FOLHA - Sem a RCTV, a Globovisión terá como crescer?
RAVELL - Não há espaço; o governo não nos dá nenhum tipo de possibilidade de ter
mais microondas, mais estações, mais cobertura.
FOLHA - Apesar de manifestações do mundo inteiro, os governos da região pouco falaram. Deveria haver mais envolvimento?
RAVELL - Agora o mundo está
se dando conta sobre o que
ocorre na Venezuela. Mando
uma mensagem ao presidente Lula: aconselhe Chávez,
diga a ele que não saia do caminho democrático.
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