São Paulo, terça-feira, 29 de maio de 2007

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entrevista

"Chávez quer um blecaute informativo"

DE CARACAS

Depois da RCTV, as atenções do governo Hugo Chávez se concentram no único canal independente que restou na Venezuela, a emissora de notícias Globovisión. Para o ministro das Comunicações, Willian Lara, a Globovisión incitou o assassinato de Chávez ao mostrar a tentativa de assassinato do papa João Paulo 2º com a música "Isto não termina aqui", de Rubén Blades. Já a diretora de Responsabilidade em Rádio e Televisão do Ministério das Comunicações, María Eugenia Díaz, acusou a Globovisión de "incitar o ódio" e ameaçou tirá-la do ar por 72 horas por ter transmitido uma entrevista com um diretor da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), na qual ele chama Chávez de "tirânico".
À Folha, o diretor-geral da Globovisión, Alberto Federico Ravell, acusou o governo Chávez de tentar um "blecaute informativo". Com cerca de 450 funcionários, a emissora só funciona em sinal aberto em duas cidades no país -no restante da Venezuela, chega por cabo.
Ontem, as ameaças do governo Chávez contra a Globovisión provocaram um ato de apoio com milhares de pessoas diante dos portões da emissora. Leia trechos da entrevista, concedida na sede do canal, resguardado por dez militares da Guarda Nacional. (FM)

 

FOLHA - A Globovisión incitou o magnicídio e violou a lei?
ALBERTO FEDERICO RAVELL -
No tema do magnicídio, é por transmitirmos umas imagens do papa. É como ser acusado de incitar o sexo por transmitir um concurso de beleza. A segunda acusação é pelas declarações dadas por um diretor da SIP. Nós estávamos ao vivo e não sabíamos o que ele ia dizer, nesse caso. Em terceiro, as imagens de violência não são para alarmar, mas para alertar os cidadãos. O governo quer um blecaute informativo no país. Sabemos que estamos na mira, e isso não implica que vamos mudar. Talvez o governo já tenha tomado uma decisão e já estejamos nas últimas horas. Mas nós não vamos nos ajoelhar.

FOLHA - O que houve com a Venevisión, que praticamente ignorou o fechamento da RCTV?
RAVELL -
Talvez o encarregado de informação tenha considerado que a notícia do fechamento da RCTV não era importante e, por isso, não transmitiram nada.

FOLHA - Como está o país hoje?
RAVELL -
Numa tensa calma, muitos distúrbios nas universidades, ameaças pelo ministro Lara aos meios. Ele acredita que nos vai silenciar. E a única forma de nos silenciar é como fizeram com a RCTV, fechando-nos e tomando as instalações.

FOLHA - Sem a RCTV, a Globovisión terá como crescer?
RAVELL -
Não há espaço; o governo não nos dá nenhum tipo de possibilidade de ter mais microondas, mais estações, mais cobertura.

FOLHA - Apesar de manifestações do mundo inteiro, os governos da região pouco falaram. Deveria haver mais envolvimento?
RAVELL -
Agora o mundo está se dando conta sobre o que ocorre na Venezuela. Mando uma mensagem ao presidente Lula: aconselhe Chávez, diga a ele que não saia do caminho democrático.


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