São Paulo, terça-feira, 29 de maio de 2007

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Suspeito de corrupção se mata no Japão

Ministro da Agricultura se enforca antes de depor sobre malversações em comissão parlamentar; ato prejudica premiê

Matsuoka não conseguiu justificar gastos de gabinete e recebeu dinheiro de firmas contratadas por sua pasta; premiê Shinzo Abe lamenta

DA REDAÇÃO

O ministro japonês da Agricultura, Florestas e Pesca, Toshikatsu Matsuoka, 62, enforcou-se ontem em seu apartamento, horas antes de um depoimento em que procuraria responder, em uma comissão do Senado, às acusações de corrupção e malversação de fundos públicos.
O suicídio -o primeiro de um integrante do governo no Japão desde o fim da Segunda Guerra Mundial- coloca em situação delicada o primeiro-ministro Shinzo Abe, que, apesar de ter assumido seu posto em setembro, enfrenta índices cada vez mais baixos de aprovação (leia texto abaixo).
Bastante abatido, Abbe disse tratar-se de "um caso infeliz".
Afirmou que havia depositado grandes esperanças em Matsuoka, um especialista em questões agrícolas que havia conseguido aumentar as exportações de arroz para a China.
Os escândalos que envolveram Matsuoka afetarão inevitavelmente os resultados do partido governista, o Liberal Democrático, nas eleições que em 22 de julho renovarão as 242 cadeiras de senadores. A sobrevivência do gabinete de Abe não está em jogo. Ele depende da maioria da Câmara dos Deputados. Mesmo assim é previsível seu desgaste político.
Toshikatsu Matsuoka foi encontrado por volta do meio-dia "desacordado". Transportado de urgência a um hospital, não resistiu e morreu pouco depois.
A TV NHK disse que ele usou uma coleira de cachorro para se pendurar na maçaneta de uma das portas de sua sala de estar.

Brasil
Matsuoka esteve no início do mês no Brasil. Visitou a fábrica da Honda em Sumaré (SP) e dirigiu um veículo movido a álcool. Chegou a se dizer "indignado" porque uma montadora japonesa produzia automóveis a álcool em sua filial brasileira, mas não na matriz japonesa.
Antes do suicídio, o ministro da Agricultura deixou cinco ou seis mensagens escritas, uma delas ao premiê, lamentando os efeitos políticos dos escândalos em que se envolveu.
Em março último provocou reações hilariantes ao argumentar que gastara o equivalente a US$ 42 mil num filtro de purificação de água para seu gabinete. Antes disso, havia pedido o reembolso de US$ 236 mil pela manutenção de seu escritório de deputado, onde aluguel, secretariado e material já são cobertos pelo Legislativo.
Ele deixou ainda de declarar US$ 8.500 para seu caixa de campanha, doados por um grupo que participou de concorrência para a construção de estradas florestais.
Em todas as oportunidades o premiê reiterou confiar em seu ministro e não deu ouvidos às pressões para afastá-lo.
O líder do pequeno Partido Social Democrático, Mizuho Fukushima, declarou ontem que, ao não substituir um ministro sob o fogo de acusações, Abe foi indiretamente o responsável pela tragédia.
O Japão é um país com altas taxas de suicídio. Foram 32 mil em 2004, quando os últimos dados foram reunidos. Para um político, o suicídio é uma forma exacerbada de pedir perdão por seus erros ou de negar que os tenha cometido.
Jun Iio, analista político, acredita que o suicídio do ministro neutralize parte das acusações da oposição. Mas ela se beneficiaria pela impressão de que coisas bem mais graves poderiam estar sendo escondidas.
"É um prejuízo que Abe não poderá suportar", disse Minoru Morita, de um instituto independente de Tóquio.


Com agências internacionais


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