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Suspeito de corrupção se mata no Japão
Ministro da Agricultura se enforca antes de depor sobre malversações em comissão parlamentar; ato prejudica premiê
Matsuoka não conseguiu
justificar gastos de gabinete
e recebeu dinheiro de firmas
contratadas por sua pasta;
premiê Shinzo Abe lamenta
DA REDAÇÃO
O ministro japonês da Agricultura, Florestas e Pesca, Toshikatsu Matsuoka, 62, enforcou-se ontem em seu apartamento, horas antes de um depoimento em que procuraria
responder, em uma comissão
do Senado, às acusações de corrupção e malversação de fundos públicos.
O suicídio -o primeiro de
um integrante do governo no
Japão desde o fim da Segunda
Guerra Mundial- coloca em situação delicada o primeiro-ministro Shinzo Abe, que, apesar
de ter assumido seu posto em
setembro, enfrenta índices cada vez mais baixos de aprovação (leia texto abaixo).
Bastante abatido, Abbe disse
tratar-se de "um caso infeliz".
Afirmou que havia depositado
grandes esperanças em Matsuoka, um especialista em
questões agrícolas que havia
conseguido aumentar as exportações de arroz para a China.
Os escândalos que envolveram Matsuoka afetarão inevitavelmente os resultados do
partido governista, o Liberal
Democrático, nas eleições que
em 22 de julho renovarão as
242 cadeiras de senadores. A
sobrevivência do gabinete de
Abe não está em jogo. Ele depende da maioria da Câmara
dos Deputados. Mesmo assim é
previsível seu desgaste político.
Toshikatsu Matsuoka foi encontrado por volta do meio-dia
"desacordado". Transportado
de urgência a um hospital, não
resistiu e morreu pouco depois.
A TV NHK disse que ele usou
uma coleira de cachorro para se
pendurar na maçaneta de uma
das portas de sua sala de estar.
Brasil
Matsuoka esteve no início do
mês no Brasil. Visitou a fábrica
da Honda em Sumaré (SP) e dirigiu um veículo movido a álcool. Chegou a se dizer "indignado" porque uma montadora
japonesa produzia automóveis
a álcool em sua filial brasileira,
mas não na matriz japonesa.
Antes do suicídio, o ministro
da Agricultura deixou cinco ou
seis mensagens escritas, uma
delas ao premiê, lamentando os
efeitos políticos dos escândalos
em que se envolveu.
Em março último provocou
reações hilariantes ao argumentar que gastara o equivalente a US$ 42 mil num filtro de
purificação de água para seu gabinete. Antes disso, havia pedido o reembolso de US$ 236 mil
pela manutenção de seu escritório de deputado, onde aluguel, secretariado e material já
são cobertos pelo Legislativo.
Ele deixou ainda de declarar
US$ 8.500 para seu caixa de
campanha, doados por um grupo que participou de concorrência para a construção de estradas florestais.
Em todas as oportunidades o
premiê reiterou confiar em seu
ministro e não deu ouvidos às
pressões para afastá-lo.
O líder do pequeno Partido
Social Democrático, Mizuho
Fukushima, declarou ontem
que, ao não substituir um ministro sob o fogo de acusações,
Abe foi indiretamente o responsável pela tragédia.
O Japão é um país com altas
taxas de suicídio. Foram 32 mil
em 2004, quando os últimos
dados foram reunidos. Para um
político, o suicídio é uma forma
exacerbada de pedir perdão por
seus erros ou de negar que os
tenha cometido.
Jun Iio, analista político,
acredita que o suicídio do ministro neutralize parte das acusações da oposição. Mas ela se
beneficiaria pela impressão de
que coisas bem mais graves poderiam estar sendo escondidas.
"É um prejuízo que Abe não
poderá suportar", disse Minoru
Morita, de um instituto independente de Tóquio.
Com agências internacionais
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