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DIREITOS HUMANOS
Mukhtar Mai foi estuprada por 13 homens por determinação de conselho tribal, que queria punir seu irmão
Justiça do Paquistão reverte absolvição de estupradores
DA REDAÇÃO
A Corte Suprema do Paquistão
determinou ontem que 13 acusados de estuprar uma mulher por
determinação de um conselho tribal sejam presos. A decisão marca
uma reviravolta em um caso emblemático depois que a vítima,
Mukhtar Mai, apelou, na véspera,
da absolvição dos acusados por
uma instância inferior.
Mai, 33, virou símbolo internacional da luta pelos direitos femininos em países onde a chamada
"lei da honra" e a justiça tribal
ainda vigoram, e casos como o
seu não são únicos. Ela sofreu um
estupro coletivo em 2002 por determinação do conselho do povoado de Meerwala, no sul da
Província do Punjab, que ordenou o ato em punição a seu irmão.
O adolescente, na época com 12
anos, é acusado de relacionar-se
com uma mulher de casta superior, pertencente a uma poderosa
família local. A família Mai nega o
caso e diz que se tratou de um esquema para encobrir o seqüestro
e a sodomia do menino por membros da família rival.
Em março, uma corte inferior
absolvera cinco dos acusados, alegando falta de provas, e comutara
a pena capital de um sexto, substituindo-a por prisão perpétua. Os
demais -quase todos membros
do conselho que ordenou o estupro coletivo- haviam sido absolvidos três anos antes.
Todos os acusados estão na cadeia desde que Mai solicitou sua
prisão após a absolvição, alegando sentir-se ameaçada. Mas nenhum fora formalmente indiciado até agora (a lei paquistanesa
permite a detenção sem indiciamento por até três meses).
Nova audiência será marcada
para a divulgação da sentença.
Dezenas de mulheres que
aguardavam a decisão do lado de
fora da Corte Suprema abraçaram
e cumprimentaram Mai na saída.
"Estou feliz e espero que aqueles
que me humilharam sejam punidos. Eu esperava que a Suprema
Corte fizesse justiça, e isso aconteceu", declarou ela na saída.
Passaporte confiscado
O caso de Mai criou comoção
internacional por sua decisão de
confrontar os agressores -algo
raro em situações semelhantes.
"Eu tinha três opções: pular
num poço e me matar, chorar minha vida inteira como outras vítimas ou desafiar um sistema tribal,
cruel e feudal", declarou ela em
entrevista à revista "Christian
Science Monitor".
O caso também expôs a fragilidade e o anacronismo da Justiça
do Paquistão, um dos principais
aliados dos EUA na Ásia. Apesar
de o ditador Pervez Musharraf ter
afirmado que o que aconteceu
com Mai "não é representativo", o
país teve 350 casos de estupro coletivo registrados nos primeiros
nove meses de 2004 (último dado
disponível). A maior parte dos casos não chega a ser notificada.
Antes de chegar à Suprema Corte, o processo já havia passado por
outros tribunais locais, provinciais e religiosos, que emitiam veredictos díspares sob alegações
mais divergentes ainda.
Em meio às controvérsias, Musharraf proibiu Mai de viajar para
o exterior e limitou seu trânsito
no país -seu passaporte foi confiscado e ela teve de recusar convites para palestras de organizações
estrangeiras de direitos humanos.
O governo só recuou após críticas explícitas do presidente dos
EUA, George W. Bush. Anteontem, o passaporte foi devolvido.
Com agências internacionais
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