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Petrobras terá prejuízo, diz analista
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Petrobras divulgou nota ontem afirmando que a cobrança
dos impostos aprovados na nova
Lei de Hidrocarbonetos da Bolívia "marca o início da nova realidade tarifária aprovada pelo Congresso boliviano".
A estatal informou, por intermédio de sua assessoria de imprensa, que não iria analisar as repercussões do aumento dos impostos sobre a produção de gás na
Bolívia. "A Petrobras não comenta medidas internas dos países
[nos quais atua]", diz a nota.
A Petrobras atua na produção
de gás (explora as maiores reservas do país), no refino de petróleo
e distribuição de derivados. É a
maior companhia instalada na
Bolívia e corresponde a cerca de
20% do PIB (Produto Interno
Bruto) boliviano.
A estatal brasileira disse apenas
que a medida de endurecer o controle das instalações petrolíferas
por parte do governo boliviano
"não preocupa a Petrobras". "A
companhia sempre pautou sua
atuação pela transparência e lisura. A fiscalização decidida pelo
governo boliviano não traz maior
preocupação à empresa", diz a
Petrobras.
Impactos
Mas, na avaliação de Adriano
Pires, diretor do Centro Brasileiro
de Infra-Estrutura, a entrada em
vigor da Lei de Hidrocarbonetos
na Bolívia deve prejudicar os rendimentos da Petrobras nas atividades de exploração de gás da
empresa no país.
"Na prática, a lei provoca uma
mudança nos contratos. As empresas deixam de ser proprietárias da sua produção de gás, por
exemplo, para se tornarem prestadoras de serviço do governo boliviano. É uma perda do controle
econômico das empresas sobre a
sua produção", avaliou.
Na última segunda-feira, o presidente da Bolívia, Eduardo Rodríguez, assinou três decretos para desenhar a participação do Estado na produção de hidrocarbonetos. Os decretos regulamentam
a lei assinada em maio deste ano
pelo Congresso boliviano.
Com a nova legislação, o governo boliviano estima que haja um
incremento de 106% na arrecadação do Estado com a exploração
de gás natural e petróleo, segundo
declaração do ministro da Presidência, Iván Avilés.
Um dos decretos presidenciais
manda que os ministérios da Defesa, de Hidrocarbonetos e do Interior coordenem as ações para o
controle, a fiscalização e a segurança da atividade de exploração
dos recursos energéticos do país.
Também nesse decreto estão previstas auditorias periódicas das
companhias do setor.
Mas o decreto que pode atingir
mais duramente as empresas estrangeiras instaladas na Bolívia,
entre elas a Petrobras, diz Pires, é
a nova taxação da produção, que
passou para 50% do valor produzido pelas empresas.
Com mais de US$ 1,5 bilhão já
investidos em operações no setor
de gás e petróleo da Bolívia, ainda
que a nova lei boliviana implique
prejuízos para a Petrobras, não é
recomendável que a estatal brasileira abandone as atividades na
Bolívia. "Não vale a pena. Brasil e
Bolívia são países vizinhos, têm
relações comerciais fortes e uma
saída da Petrobras [por ser estatal] poderia criar mal-estar diplomático", diz Pires.
Para além das possíveis rusgas
diplomáticas, outra questão é que
o Brasil, especialmente São Paulo,
é depende do gás proveniente da
Bolívia. Hoje, 40% do gás importado da Bolívia é consumido em
São Paulo, sobretudo na região
metropolitana da capital paulista.
Com agências internacionais
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