São Paulo, domingo, 29 de junho de 2008

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Oposição no Zimbábue teme mais violência

Porta-voz do MDC diz que governo promoverá operação para identificar e punir quem não votou e pede ação de africanos

Chanceleres do continente reunidos em cúpula no Egito sinalizam que aceitarão a vitória de Mugabe, cuja posse é esperada para hoje

DA REDAÇÃO

A oposição zimbabuana disse ontem temer mais derramamento de sangue no país na seqüência das eleições de anteontem, que confirmarão no poder o ditador Robert Mugabe.
O porta-voz do MDC (Movimento pela Mudança Democrática) Nelson Chamisa disse que o governo planeja uma "operação dedo vermelho" para punir os eleitores que não foram às urnas -em referência à tinta com a qual os dedos são marcados na hora da votação.
"Eles roubaram essa eleição, agora vão derramar mais sangue. A cúpula [da União Africana, a partir de amanhã no Egito,] deve tomar uma firme posição. É uma questão de paz e segurança", disse o aliado de Morgan Tsvangirai, opositor que venceu o primeiro turno, mas desistiu de disputar o segundo devido à repressão que matou 86 membros do MDC.
O vice-presidente do MDC, Thokozani Khupe, que está no Egito para a cúpula, pediu em entrevista, que a UA envie tropas pacificadoras e um mediador para o Zimbábue.
O líder da missão de observadores parlamentares de países africanos disse que o voto foi marcado pelo medo e pela intimidação. "As pessoas queriam apenas conseguir a marca de tinta indelével para se protegerem da violência", disse Marwick Khumalo, da Suazilândia.
Khumalo qualificou o comparecimento ao pleito de "muito, muito baixo", apesar de o jornal oficial do governo falar "no maior grau de comparecimento que o Zimbábue já teve".
Em contraste com a longa espera pelo resultado do primeiro turno, a expectativa era que a vitória de Mugabe fosse oficializada entre ontem e hoje. Colaboradores seus disseram que a cerimônia de posse estava sendo preparada para hoje, antes da viagem de Mugabe à reunião da União Africana.
Apesar da avaliação de EUA e União Européia, entre outros, de que as eleições foram ilegais, chanceleres africanos já reunidos no Egito sinalizaram que seus países aceitarão a vitória de Mugabe, embora pretendam pressioná-lo a negociar com o MDC. "Mugabe é um presidente e um membro da UA. Não achamos que podemos resolver os problemas sempre por meio de condenações", disse o angolano George Chikoti.
O secretário de Unidade Africana da UA, Ali Triki, disse que o Zimbábue deve imitar o Quênia, onde foi formado um governo de coalizão após as violentas eleições de 2007. "Estamos esperançosos de que nossos irmãos do Zimbábue sigam esse muito bom exemplo."
O presidente dos EUA, George W. Bush, disse que as eleições foram uma fraude e que seu país buscará resolução na ONU condenando o Zimbábue. Mas deve encontrar resistência africana. "Precisamos envolver o Zimbábue na solução. A história mostra que as sanções não funcionam, os líderes se sentem perseguidos e fazem coisas piores", disse o chanceler queniano, Moses Watangula.


Com agências internacionais


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