São Paulo, domingo, 29 de junho de 2008

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Embaixador nega racismo da nova política migratória da UE

DA REPORTAGEM LOCAL

A partir desta terça-feira, o embaixador da França no Brasil, Antoine Pouillieute, acumulará o cargo de representante da União Européia (UE). Tecnocrata de alto vôo, foi vice-chefe de gabinete do premiê Edouard Balladur (1993-1995) e dirigiu a Agência Francesa de Desenvolvimento, entre outros cargos de confiança no Estado francês. Em entrevista à Folha, ele disse que a UE não depende do Tratado de Lisboa para funcionar e cobrou do Brasil mais reconhecimento ao papel político do bloco. (SA)

FOLHA - A UE pode funcionar sem o Tratado de Lisboa?
ANTOINE POUILLIEUTE
- Se esse tratado não for adotado, a Europa continuará funcionando.
Ela já tem as instituições do Tratado de Nice (2001), embora não funcionem tão bem por terem sido criadas antes da ampliação para 27 membros. No fundo, são as instituições que são contestadas pelas populações, não as políticas européias.
O mercado interno criou-se sem tratado, o euro também.

FOLHA - O que o senhor achou da condenação da nova lei migratória da UE por parte do presidente Lula, que a chamou de "xenófoba"?
POUILLIEUTE
- É preciso ter mais cautela com o uso das palavras.
Se a França fosse xenófoba, não seria a França e nem teria derrotado o Brasil na final da Copa do Mundo [com uma seleção na qual vários jogadores tinham origem estrangeira]. Se o Brasil acha que a Europa é um continente racista que se fecha em si, então a situação é grave. O projeto europeu acarreta veículos diametralmente opostos a isso.
O que queremos é estimular a imigração seletiva, combater a imposta e desmantelar as redes que se aproveitam da miséria das pessoas para inseri-las nos tráficos clandestinos. Não precisamos da aprovação de ninguém, só queremos ser compreendidos.

FOLHA - O que responder aos que acusam Sarkozy de ter feito muito barulho por nada há alguns meses, quando anunciou-se em vão a libertação da franco-colombiana Ingrid Betancourt pelas Farc?
POUILLIEUTE
- Antes do desfecho, só há especulação. Vou me ater ao que disse o presidente Lula: trabalhemos em silêncio.

FOLHA - Como a França, defensora da candidatura brasileira a um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, avalia a atuação do Itamaraty, que palpita em assuntos tão diversos como América Latina, Oriente Médio e Zimbábue?
POUILLIEUTE
- Não compartilho o sentimento de que se trata de um fogo de artifício desordenado. O Brasil está se assumindo pelo que é: um protagonista da globalização que merece um papel político maior. É o mesmo que ocorre com a UE no Brasil. Somos um campeão da parceria econômica, mas merecemos um pouco mais de consideração política...

FOLHA - Como assim?
POUILLIEUTE
- Um quarto do intercâmbio comercial do Brasil é com a UE. Somos responsáveis por um terço do superávit comercial brasileiro e metade do estoque de investimento estrangeiro no país. Somos, de longe, o maior parceiro comercial do Brasil. Os embaixadores e cônsules da UE costumam ser bem recebidos por autoridades brasileiras, mas talvez fosse interessante ouvirem o que temos a dizer num nível mais elevado. Na França, o chanceler Bernard Kouchner reuniu recentemente todos os embaixadores da América Latina. O diálogo entre nações deve acontecer às vezes no plano interno também. É importante sermos recebidos por ministros ou mesmo acima. A UE tem recados a passar por meio de seus embaixadores.


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