São Paulo, domingo, 29 de junho de 2008

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"Scorsese" dos ataques investiga Obama no Havaí

DE WASHINGTON

No meio dos produtores de anúncios negativos, um nome é considerado uma espécie de Martin Scorsese dos ataques políticos, pela crueza e eficiência com que passa sua mensagem. É Floyd Brown, 47, um dos responsáveis pelo clássico "Willie Horton", peça exibida durante a campanha de 1988 que ajudou o republicano George Bush pai a derrotar o democrata Michael Dukakis.
Naquele ano, ainda durante as primárias democratas, o então pré-candidato Al Gore acusou seu oponente, o então governador de Massachusetts, Michael Dukakis, de ser leniente com o crime, por ter continuado um programa que permitia a detentos passarem o fim de semana fora da cadeia. Um deles era Willie Horton, condenado à prisão perpétua por assassinato em 1974.
Em sua primeira saída usando o programa de fim de semana, em 1986, já com Dukakis como governador, Horton fugiu, estuprou uma garota e atacou violentamente seu namorado, que morreu. Ele seria preso no ano seguinte. Quando Dukakis finalmente bateu Gore nas primárias e enfrentou Bush pai nas eleições gerais, os republicanos ressuscitaram o caso.
Nas palavras de Roger Ailes, então assessor do candidato republicano e hoje presidente da Fox News, "a única dúvida era se mostrávamos Willie Horton com uma faca na mão ou sem ela". A responsabilidade de produzir o filme foi do jovem consultor político Floyd Brown, então com 27 anos. "Quando tivermos terminado, as pessoas vão achar que Willie Horton é sobrinho de Michael Dukakis", teria dito.
O filme -que pode ser assistido em www.youtube.com/ watch?v=EC9j6Wfdq3o- foi colocado no ar pelo National Security Pac 1988 e repetido à exaustão. No dia 8 de novembro de 1988, Bush bateu Dukakis em 40 dos 50 Estados e levou 53,4% dos votos populares.
Pois Brown está de volta. Hoje aos 47, o consultor pôs no ar o ExposeObama, site no qual já há uma coleção de vídeos negativos sobre o candidato democrata. O que já chegou às TVs é o que pinta Obama como fraco em relação a crimes e lembra o de 1988. A resposta a esse anúncio foi um dos primeiros trabalhos do comitê antiinfâmia de Obama, batizado de "Fight the Smears", combata as calúnias.
Mas há outros na fila, já sendo distribuídos pela internet, em sites como YouTube e numa lista de e-mails que, segundo Brown, conta com 2,5 milhões de nomes. O mais engenhoso edita trechos das duas autobiografias de Obama, na versão audiolivro, que é lida pelo próprio candidato, de maneira a colocar um discurso racista antibrancos em sua boca.
Em maio, Brown disse que se sentia "uma criança numa loja de doces" nas atuais eleições, por conta da história de vida de Obama e da abertura a ataques que ela dá. A Folha trocou e-mails com ele na semana passada. "Estou no Havaí investigando a família do senador Obama", disse, antes de parar de responder. Brown crê que a atual campanha está prestes a dar uma "virada", como a de 2004, com John Kerry. (SD)


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