São Paulo, sábado, 29 de julho de 2006

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García assume e promete austeridade

Presidente do Peru pela 2ª vez, social-democrata diz que país vive "catástrofe social" e anuncia corte no próprio salário

Líder peruano afirma que sua meta de governo é a integração regional; em brinde, Lula culpa as "elites políticas" por mazelas

PEDRO DIAS LEITE
ENVIADO ESPECIAL A LIMA

Diante de nove presidentes sul-americanos, mas sem a menor sombra do venezuelano Hugo Chávez, Alan García tomou posse ontem em Lima como presidente do Peru, 16 anos depois de ter deixado o cargo.
O social-democrata García fez um discurso de mais de uma hora em sua volta ao poder, em que admitiu os erros de seu primeiro mandato (1985-90) e disse que aprendeu com eles. O então jovem presidente deixou o Peru na ruína econômica, com o país enfrentando hiperinflação e até falta de alimentos e no auge da violência terrorista do Sendero Luminoso.
Ontem, prometeu compromisso com uma política econômica de austeridade fiscal e anunciou cortes nos salários dos funcionários públicos -de diplomatas a congressistas, além do seu próprio, que caiu de 42 mil soles (R$ 27 mil) para 16 mil soles (R$ 10 mil).
A grande polêmica da campanha que levou à sua eleição, a intervenção de Chávez na política peruana, desapareceu dos discursos. Quando falou da integração latino-americana, em nenhum momento mencionou o desafeto, com quem trocou insultos na campanha. Chávez apoiou enfaticamente o candidato nacionalista Ollanta Humala, derrotado por García no segundo turno.
"A meta do meu governo é trabalhar pela integração latino-americana, por uma união sul-americana e pela consolidação da Comunidade Andina de Nações", disse García, a uma platéia que incluía os dois presidentes de quem pretende ficar mais próximo, o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e a chilena Michelle Bachelet.
O clima que reinou na capital peruana foi de feriado. Pessoas se aglomeravam nas calçadas para ver o novo presidente, mas sem grandes concentrações. O único momento "quente" foi quando García entrou no pátio do Palácio de Governo, e partidários, jornalistas e assessores se embolaram para passar pelo portão, numa confusão em que muitos perderam os sapatos e, alguns, a compostura.
Em seu discurso, García disse que os cortes nos salários do setor público vão permitir que seu governo invista mais de US$ 1,5 bilhão na infra-estrutura do país e que contenha o crescimento da dívida. García recebe de seu antecessor, Alejandro Toledo, uma economia nos trilhos, que cresceu quase 7% em 2005 e caminha para algo próximo de 6% em 2006.
O novo presidente peruano tem o desafio de traduzir a boa situação econômica numa melhora real da condição de vida do povo de seu país, onde mais da metade vive na pobreza.
"Estamos aqui para servir ao povo", disse. "Nós recebemos uma situação confusa e contraditória. O país está crescendo e exportando mais, mas não há trabalho nos lares dos peruanos. Há medo e desilusão."
"Enfrentamos uma catástrofe social. Ou os pobres ganham desta vez ou perdemos todos e enfrentamos uma revolta social", acrescentou.

Lula
Responsável por fazer o brinde em nome dos chefes de Estado presentes, o presidente Lula também chamou a atenção para a desigualdade e culpou a elite pela atual situação.
"As mazelas que marcam nossas sociedades são em grande parte responsabilidade das elites políticas que nos governaram e que se beneficiaram da pobreza, da desigualdade e do autoritarismo e, inclusive, da situação de dependência em que vivemos", disse Lula, que chamou García de "companheiro".


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