|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
García assume e promete austeridade
Presidente do Peru pela 2ª vez, social-democrata diz que país vive "catástrofe social" e anuncia corte no próprio salário
Líder peruano afirma que sua meta de governo é a integração regional; em brinde, Lula culpa as "elites políticas" por mazelas
PEDRO DIAS LEITE
ENVIADO ESPECIAL A LIMA
Diante de nove presidentes
sul-americanos, mas sem a menor sombra do venezuelano
Hugo Chávez, Alan García tomou posse ontem em Lima como presidente do Peru, 16 anos
depois de ter deixado o cargo.
O social-democrata García
fez um discurso de mais de uma
hora em sua volta ao poder, em
que admitiu os erros de seu primeiro mandato (1985-90) e disse que aprendeu com eles. O
então jovem presidente deixou
o Peru na ruína econômica,
com o país enfrentando hiperinflação e até falta de alimentos e no auge da violência terrorista do Sendero Luminoso.
Ontem, prometeu compromisso com uma política econômica de austeridade fiscal e
anunciou cortes nos salários
dos funcionários públicos -de
diplomatas a congressistas,
além do seu próprio, que caiu
de 42 mil soles (R$ 27 mil) para
16 mil soles (R$ 10 mil).
A grande polêmica da campanha que levou à sua eleição, a
intervenção de Chávez na política peruana, desapareceu dos
discursos. Quando falou da integração latino-americana, em
nenhum momento mencionou
o desafeto, com quem trocou
insultos na campanha. Chávez
apoiou enfaticamente o candidato nacionalista Ollanta Humala, derrotado por García no
segundo turno.
"A meta do meu governo é
trabalhar pela integração latino-americana, por uma união
sul-americana e pela consolidação da Comunidade Andina
de Nações", disse García, a uma
platéia que incluía os dois presidentes de quem pretende ficar mais próximo, o brasileiro
Luiz Inácio Lula da Silva e a
chilena Michelle Bachelet.
O clima que reinou na capital
peruana foi de feriado. Pessoas
se aglomeravam nas calçadas
para ver o novo presidente, mas
sem grandes concentrações. O
único momento "quente" foi
quando García entrou no pátio
do Palácio de Governo, e partidários, jornalistas e assessores
se embolaram para passar pelo
portão, numa confusão em que
muitos perderam os sapatos e,
alguns, a compostura.
Em seu discurso, García disse que os cortes nos salários do
setor público vão permitir que
seu governo invista mais de
US$ 1,5 bilhão na infra-estrutura do país e que contenha o
crescimento da dívida. García
recebe de seu antecessor, Alejandro Toledo, uma economia
nos trilhos, que cresceu quase
7% em 2005 e caminha para algo próximo de 6% em 2006.
O novo presidente peruano
tem o desafio de traduzir a boa
situação econômica numa melhora real da condição de vida
do povo de seu país, onde mais
da metade vive na pobreza.
"Estamos aqui para servir ao
povo", disse. "Nós recebemos
uma situação confusa e contraditória. O país está crescendo e
exportando mais, mas não há
trabalho nos lares dos peruanos. Há medo e desilusão."
"Enfrentamos uma catástrofe social. Ou os pobres ganham
desta vez ou perdemos todos e
enfrentamos uma revolta social", acrescentou.
Lula
Responsável por fazer o brinde em nome dos chefes de Estado presentes, o presidente Lula
também chamou a atenção para a desigualdade e culpou a elite pela atual situação.
"As mazelas que marcam
nossas sociedades são em grande parte responsabilidade das
elites políticas que nos governaram e que se beneficiaram da
pobreza, da desigualdade e do
autoritarismo e, inclusive, da
situação de dependência em
que vivemos", disse Lula, que
chamou García de "companheiro".
Texto Anterior: Cozinheira e escritor brasileiros decidem continuar em Beirute Próximo Texto: Artigo: Desafio é gestão ortodoxa com face social Índice
|