São Paulo, terça-feira, 29 de julho de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / CRISE EM FOCO

Obama consulta notáveis sobre economia

Reunião de democrata junta ex-secretários de Bush e de Clinton, além de sindicalistas, bilionário e presidente do Google

Declarações após encontro, que analisou plataforma do candidato e situação atual, são vagas; tema é a maior preocupação do eleitorado

DANIEL BERGAMASCO
DE NOVA YORK

Barack Obama escalou uma equipe de pesos pesados de governos passados e da nova economia para jogar os holofotes de sua campanha à Presidência dos EUA na crise econômica do país, assolado por temores de recessão, inflação, desemprego crescente, alta dos combustíveis e, como anunciado ontem pela Casa Branca, previsão de déficit orçamentário recorde para 2009, de US$ 482 bilhões.
Apesar do discurso vago -ele disse que "algumas decisões irresponsáveis foram tomadas em Wall Street e Washington" e que vai responder "rapidamente e vigorosamente" aos desafios-, o democrata conseguiu seu intento ao reunir um time bastante heterogêneo de conselheiros em Washington.
Participaram da discussão nomes como o presidente do Google, Eric Schmidt; os líderes de duas das maiores centrais sindicais do país, John Sweeney (presidente da AFL-CIO) e Anna Burger (tesoureira da SEIU, que concentra o setor de serviços); e, por teleconferência, o megainvestidor e filantropo Warren Buffett, homem mais rico do mundo segundo a revista "Forbes".
Entre os conselheiros também estavam dois membros do governo republicano de George W. Bush -Paul O'Neill, ex-secretário do Tesouro, e William Donaldson, ex-presidente do SEC (Securities and Exchange Commissioner, que fiscaliza o mercado de capitais nos EUA, como a CVM no Brasil) -, o que reforçou ainda mais as críticas de que, apesar de manter um discurso de ruptura "com o velho jeito de Washington de lidar com a economia", Obama se cerca de nomes que representam justamente o contrário.
Para ilustrar essa acusação contra o democrata, opositores e analistas evocam com ainda mais freqüência os nomes de Robert Rubin e Paul Volcker, dois dos principais membros dessa equipe de conselheiros.
Rubin foi secretário do Tesouro no governo democrata de Bill Clinton (1993-2001). Desde o estouro da bolha imobiliária resultante da abundância de crédito, no ano passado, ele é lembrado por ter dado o aval para o fim da lei antiespeculação Glass-Steagall, que restringia a atuação de investidores no varejo bancário. Até Obama fez menção às conseqüências do fim da lei, ao disparar contra o governo Clinton quando concorria com a ex-primeira-dama Hillary nas prévias partidárias.
Já Paul Volcker ficou marcado por assumir o Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) em 1979, diante de um cenário de inflação alta. Em uma política austera para conter a escalada de preços, elevou duramente a taxa básica de juros, o que aprofundou a recessão no país. Comandou a entidade até 1987.
"Nós não podemos agüentar mais que continuemos fazendo as mesmas coisas que têm sido feitas. Nós temos que mudar o curso [da política econômica] e temos que tomar ações imediatas", declarou o candidato.
A economia é, segundo pesquisas de intenção de voto, a principal preocupação do eleitor americano atualmente.
John McCain, o candidato republicano, também abordou o tema e repetiu a promessa de equalizar o Orçamento americano até o fim de um eventual primeiro mandato -apesar de também propor cortes de impostos e de defender a manutenção da Guerra do Iraque.
Para McCain, "as notícias de hoje [a previsão de déficit recorde] tornam esse trabalho [de equilibrar as contas] mais difícil, mas não devem mudar a resolução de tomar decisões duras" para conter a crise.


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