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Zelaya promete, não cumpre e assim perde apoio
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A LAS MANOS
(FRONTEIRA NICARÁGUA-HONDURAS)
No último domingo, o presidente deposto Manuel Zelaya
disse que era necessário dar notícias falsas à imprensa para
"despistar os inimigos". De forma intencional ou não, o fato é
que as recorrentes promessas
não cumpridas de cruzar a
fronteira estão levando centenas de militantes a tomar o caminho de volta a Honduras.
"Falta bastante organização,
há muitas dificuldades. Muitos
chegaram espontaneamente
pensando que era agarrar o
presidente e levá-lo a Honduras", disse à Folha a deputada
Silvia Ayala (Unificação Democrática, esquerda), que cruzou
a fronteira a pé no sábado, mas
ontem voltaria, para "organizar
a resistência interna".
Uma das representantes de
Zelaya nas fracassadas negociações na Costa Rica, Ayala
considera "muito remota" a
possibilidade de ele cruzar a
fronteira a pé com militantes,
como planejado inicialmente.
Uma das principais queixas é
a falta de estrutura. No acampamento em Ocotal (25 km da
fronteira), não havia duchas
disponíveis, e o banheiro tinha
apenas cinco sanitários para
cerca de 300 pessoas.
Também sobram informações desencontradas -como
ilustra o esperado encontro entre Zelaya e sua mulher, Xiomara, anunciado para ontem.
A despeito de ter obtido autorização para deixar Honduras, ela não foi para a Nicarágua. Alegou que a permissão
dos militares era uma "armadilha" para expulsá-la do país.
Anteontem à noite, Zelaya
reuniu centenas de apoiadores
no ginásio de Ocotal, na maior
concentração no exílio até agora. Anunciou "educação política" seguida de "educação física" pela manhã aos acampados.
Mas nada disso ocorreu.
O coordenador dos alojamentos, Carlos Reina, admite
que houve dificuldades para receber os apoiadores e que muitos estão deixando a Nicarágua
de volta a Honduras, mas que,
em compensação, há vários outros chegando. De fato, dezenas
de indígenas hondurenhos
atravessaram a pé as montanhas até o país vizinho por causa do bloqueio militar montado
a 12 km da linha fronteiriça.
Reina afirma que o número
de militantes hondurenhos na
Nicarágua se estabilizou em
cerca de mil pessoas, quase todas das camadas mais pobres.
Sem sair da zona de fronteira
desde sexta-feira, Zelaya tenta
atrair a atenção dos jornalistas
variando suas atividades. Ontem, andou pela montanhosa
região fronteiriça para "reconhecer" os caminhos por onde
chegam os hondurenhos, mas
não encontrou com nenhum
grupo recém-chegado.
Em entrevista sentado ao pé
de uma árvore, respondeu a
críticas crescentes na Nicarágua de que a sua presença paralisou a fronteira. "Quem está
obstaculizando o tráfego são os
militares hondurenhos."
Ontem, militantes sandinistas, partido do presidente nicaraguense, Daniel Ortega, fizeram um bloqueio na entrada de
Ocotal para impedir a chegada
de deputados da oposição que
anunciaram que entregaria
uma carta pedindo a Zelaya
que deixe a região. Mas os parlamentares nunca apareceram.
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