São Paulo, quarta-feira, 29 de julho de 2009

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Opositor ameaça vetar embaixador no Brasil

Senador republicano pede explicações sobre defesa que Shannon, indicado por Obama para posto, fez do álcool brasileiro

Aprovado em comissão, ele pode ser barrado no plenário; senadores também aprovam em 1ª votação novo chefe de diplomacia para as Américas

Karen Bleier/France Presse
Comissão Judicial do Senado americano se reúne para aprovar indicação de juíza Sonia Sotomayor à Suprema Corte dos EUA

DE WASHINGTON

O xadrez político em que se transformou o processo de confirmação do diplomata Thomas Shannon como novo embaixador dos EUA no Brasil avançou mais uma casa ontem, com sua aprovação pela Comissão de Relações Exteriores do Senado por 14 votos a 4, com uma abstenção. Agora, ele tem de ser aprovado pela maioria dos 100 senadores.
No mesmo dia, o republicano Charles Grassley, do Iowa, representante da poderosa bancada ruralista americana e presidente da Comissão Financeira do Senado, divulgou carta que enviou ao presidente Barack Obama, à secretária de Estado, Hillary Clinton, e ao secretário especial de Comércio Exterior, Ron Kirk, em que pede esclarecimentos sobre uma declaração de Shannon.
É que, na primeira audiência de sua confirmação, em 8 de julho, o diplomata havia dito que a remoção da tarifa que os EUA cobram atualmente sobre o álcool combustível brasileiro seria "benéfica" para ambos os países. Durante a campanha, necessitado dos votos dos Estados do chamado "cinturão do milho", Obama se disse contra a queda da tarifa, de US$ 0,54 por galão (ou R$ 0,27 por litro).
Grassley, que representa os produtores de álcool de milho americano, é a favor da manutenção do imposto e ameaça emperrar a confirmação caso Shannon não recue da defesa. Se ele lançar mão de um recurso regimental para isso, os democratas terão de conseguir 60 dos 100 votos para a aprovação do nome do embaixador -exatamente o número atual de senadores governistas.
Outra solução seria 1 dos 3 destinatários da carta responder ao senador contradizendo o diplomata, o que pode criar um constrangimento desnecessário na relação entre os dois países em torno justamente da figura do futuro embaixador. Se não chega a ameaçar de fato a aprovação, o episódio mostra o desgaste político que Obama sofre no Congresso aos seis meses de seu mandato.

Valenzuela
Na semana anterior, outro senador, Jim DeMint, da Carolina do Sul, havia usado de outro artifício, ainda no âmbito da Comissão de Relações Exteriores, para adiar a votação dos nomes de Shannon e de seu indicado sucessor ao posto de secretário-assistente para a América Latina, o chileno-americano Arturo Valenzuela.
Republicano ultraconservador, DeMint reclamava do que chamou de posição "unilateral" da Casa Branca a favor do presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, e contra o regime golpista liderado por Roberto Micheletti. Ontem, o nome de Valenzuela foi aprovado pela comissão; agora, tem de ser ratificado pela maioria dos senadores, o que pode acontecer ainda nesta semana.
Em sua primeira audiência diante dos senadores, no dia 8, Valenzuela confirmou que trabalhava como consultor para o poderoso escritório de lobby Akin, Gump, Strauss, Hauer and Feld, de quem recebeu US$ 180 mil em 2008 e para quem presta serviços há oito anos.
Segundo documento público que entregou ao Escritório de Ética do Governo dos EUA, Valenzuela prestou serviços para diversas empresas com interesses na região em que comandará a diplomacia americana. Entre elas estão a petroleira ConocoPhillips, que briga com o governo de Hugo Chávez, a mexicana Televisa e o banco chileno CorpBanca.
Ele prometeu, se for confirmado, desligar-se de todas as atividades no setor privado. (SÉRGIO DÁVILA)


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