São Paulo, sábado, 29 de agosto de 2009

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ANÁLISE

Propostas do Brasil caem no vazio

DA ENVIADA A BARILOCHE

Mais do que um encontro político, parecia uma terapia em grupo. E o Brasil errou na previsão de que a Unasul marcaria uma "distensão" dos países da região, especialmente entre a Colômbia e o trio Venezuela-Equador-Bolívia. Ao contrário, a tensão segue, e não há acordo à vista quanto à polêmica questão das tropas americanas em bases colombianas.
Em sete horas de discursos, Hugo Chávez (Venezuela) falou como militar, lendo um documento americano. Álvaro Uribe (Colômbia) foi o técnico aplicado respondendo uma a uma as críticas. Rafael Correa (Equador) agiu como professor universitário, com "power point" e tudo.
Cristina Kirchner (a anfitriã argentina) atuou como advogada. Evo Morales (Bolívia) defendeu os direitos indígenas. Luiz Inácio Lula da Silva reagiu como sindicalista, irritado com a falta de objetividade e de resultados. De quebra, reclamou da reunião aberta à imprensa, com a possibilidade de a opinião pública receber relatos detalhados do teatro.
A chance de haver consenso sobre as bases é praticamente nula, o que projeta o seguinte cenário: a Unasul vai pular de reunião em reunião até que o assunto canse e saia da pauta.
Nem mesmo as tais "garantias jurídicas" que o ministro Nelson Jobim (Defesa) previu que Uribe apresentaria foram dadas. O Brasil falou disso com a Colômbia e com os EUA, mas nada acontece.
Também não andou a proposta de uma reunião dos 12 presidentes com Barack Obama, dos EUA. Raramente as propostas brasileiras caem tão evidentemente no vazio.
A expressão de Lula era de poucos amigos, e ele nem sequer conseguiu fazer o que geralmente faz nessas horas: brincadeiras e uma piada ou outra. Quem ocupou esse lugar, desta vez, foi Alan García (Peru), aliado de Uribe. E foi uma brincadeira malvada.
Chávez disse que a ânsia intervencionista americana agora está centrada no petróleo e provocou Lula: "Ainda bem que você tem bastante petróleo", disse o venezuelano, com o tom de "bem-vindo ao time".
Na sua vez, García dirigiu-se a Chávez, irônico: "Homem, para que os EUA precisam dominar o petróleo se você vende todo o petróleo que eles precisam?" Resultou na única gargalhada da reunião.


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