São Paulo, domingo, 29 de agosto de 2010

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Acordo com os EUA é inócuo, dizem analistas

ANDREA MURTA
DE WASHINGTON

A política antidrogas de dupla face dos EUA -que internamente atua em prevenção da demanda, mas externamente foca no militarismo e na repressão- é criticada por analistas por não conseguir coibir a violência no México.
Desde 2008, os EUA mantêm um acordo com o vizinho, a iniciativa Mérida, que contribui com milhares de dólares anuais para armamento, treinamento militar e policial e combate aos cartéis. No ato, foi prometido US$ 1,4 bilhão. Para 2011, o governo de Barack Obama deve alocar US$ 330 milhões.
A estratégia não foi fundamentalmente alterada por Obama, apesar do novo discurso de "responsabilidade compartilhada".
Os críticos veem a continuidade de uma dicotomia ultrapassada entre país consumidor (os EUA) e países produtores (como Colômbia, Bolívia, México e outros), que são alvo de ações repressivas.
Neste ano, para mostrar empenho, Washington enviou um time de ponta para avaliar a situação no México. O caráter militar da missão deixa poucas dúvidas sobre o enfoque de Washington, que inclusive privilegia os militares em relação à polícia civil.
O governo Obama também elogia a atuação dura do presidente mexicano, Felipe Calderón. Desde que ele assumiu, em 2006, mais de 28 mil pessoas já morreram em atos ligados à guerra contra as drogas.

MUDANÇAS À VISTA
Mas ele disse recentemente que sua luta contra os cartéis pode ser revista e que pode até debater a legalização das drogas. Nos EUA, Obama segue se opondo à liberalização.
Além disso, a estratégia americana até agora não conseguiu coibir nem o fluxo de drogas do México para os EUA nem o fluxo de dinheiro e de armas na direção contrária.
Cartéis mexicanos e seus fornecedores colombianos geram, lavam e removem dos EUA estimados US$ 18 bilhões a US$ 39 bilhões por ano.
"Você tem de ir atrás do dinheiro se quer atrapalhar os cartéis", afirma Jerry Robinette, agente encarregado da alfândega em San Antonio (Texas).
Mas, para Douglas Farah, consultor do Centro Internacional Woodrow Wilson, "muito pouco é feito para impedir a movimentação de dinheiro de drogas para a economia".
O fluxo de armas é mais difícil de quantificar, mas está na casa dos milhares. A dimensão do problema fica clara sempre que armamento pesado dos cartéis é exposto. A venda do material é proibida no México, mas é legal nos EUA.


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